* Por Guilherme Rezende
“O inferno são os outros”. Nenhuma frase na história da filosofia é mais intrigante do que esta do filósofo francês Jean-Paul Sartre. As interpretações são variadas. Mas, o que Sartre quis dizer de fato é que se dependermos do julgamento do outro para construírmos nossa identidade, perderemos a liberdade que temos para constituirmos nossa existência.
O homem é um “ser-com-os-outros”, já diz a antropologia filósofica. Dependemos do outro para nascermos, crescermos, trabalharmos. A vida em comunidade é inerente à existência humana. Poucos sãos os que desafiam nossa natureza comunitária e se arriscam a viver isolados numa espécie de subúrbio da existência.
Entretanto, o mundo contemporâneo parece exarcebar a dependência mútua da opinião alheia. Na cultura da imagem, muitos se vestem para avaliação de outras pessoas. Horas são investidas em academias e montantes enormes de dinheiro são gastos na compra de produtos estéticos. Nesse mote, a nossa condição de liberdade de escolha sofre um grande ataque ao se deparar com nossa dependência de aprovação.
Talvez se procurássemos experimentar realidades diferentes das nossas seríamos menos dependentes do olhar dos outros e viveríamos mais coerentemente com nossa identidade, nossa essência.
Vivenciei muitas experiências reveladoras no contato com pessoas que vivem fora da minha realidade. Durante a faculdade de jornalismo, época em que vários estudantes vivem no limite financeiro – e comigo não foi diferente – almocei diversas vezes no restaurante popular de Belo Horizonte, na unidade que fica no bairro Lagoinha. Nenhum espaço é tão democrático quanto o restaurante popular. Chega a ser mais democrátido do que um estádio de futebol, principalmente nos últimos anos com o preço absurdo dos ingressos. No restaurante popular é possível almoçar ao lado de pessoas miseráveis, que mal conseguem algum dinheiro para comer, mas também com pessoas bem empregadas, com boas condições de vida e trabalho mas que optam por almoçar em um lugar com preço baixo. Num desses almoços democráticos, conheci uma senhora que veio do Norte de Minas para acompanhar o marido que estava em tratamento em um hospital da Capital. O casal ficaria uma semana em Belo Horizonte. Como boa parta das famílias brasileiras, o dinheiro era pouco e o preço do almoço no restaurante popular – que na época era de R$ 1,00 – facilitaria as coisas. Ela dormia no corredor do hospital e fazia suas refeições no restaurante popular. Café da manhã, almoço e jantar. Confesso que não percebi nela nenhuma indignação pela situação. Pelo contrário, uma satisfação de poder voltar, em breve, com o marido são para casa. No local, alguns moradores de rua, mal vestidos e mal cheirosos, também almoçam ao seu lado. Certa vez presenciei uma cena que me fez refletir muito sobre a realidade. Um senhor não quis comer toda a comida servida e se encaminhava para jogar fora o que tinha sobrado, talvez quase a metade do prato. Na nossa frente estava um morador de rua que logo se levantou e pediu o restante da comida. “Será a minha janta”, disse com um sorriso no rosto.
Esssas experiências nos faz ampliarmos nossa visão de mundo. Nossa pequenez diante das grandes questões da huminade faz com que toda a vaidade, a depência da aprovação do outro, se torne algo ridicularmente inútil.
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