quarta-feira, 27 de novembro de 2013

A respeito do tempo - João Batista Libânio


“Hoje nos importamos muito mais em adequarmos nossa vida ao tempo cronos do que preparamos nossa vida para que o tempo kairós se manifeste”.
Por Guilherme Rezende

O tempo sempre foi motivo de espanto e admiração para o ser humano. Desde a Grécia antiga, com o nascimento do logos, a razão, com a tranquilidade das academias filosóficas e suas longas conversas dissertativas sobre os grandes temas, até os dias de hoje, com o homem moderno preso no trânsito, conectado à internet e esbravejando com os outros porque está atrasado, muito atrasado.

É necessário, contudo, entendermos sobre qual tempo estamos falando. O tempo que registra segundos, minutos e horas, o qual os gregos chamaram de cronos, é àquele que podemos medir. O trajeto entre Belo Horizonte e o Santuário do Caraça, que fica na bela cidade de Catas Altas, dura, em média, duas horas. Isto é, cronologicamente falando, levam-se duas voltas completas do ponteiro no relógio. Podemos comensurar esse tempo, encaixá-lo em projeções, determiná-lo para uma série de ações. Os engenheiros da Fórmula 1 trabalham exaustivamente para que um carro faça o percurso no menor tempo possível. O tempo médio de uma aula no ensino médio é de 50 minutos. Mas o tempo que um aluno leva para aprender, compreender, captar um conteúdo, este não pode ser medido. E aí que entra o Kairós. 

“Kairós é tempo de qualidade”, disse o titular desta coluna, durante uma homilia em janeiro de 2009. Passei 14 anos cronológicos da minha vida com minha mãe. Mas posso dizer, com toda certeza, que este pequeno tempo se transforma em algo incomensurável se for observado sob o conceito do kairós. A presença dela ainda é nitidamente sentida em minhas ações e na forma como vejo o mundo. A relação entre mãe e filho atravessa os anos e se mantém intacta, mesmo ela não estando mais presente fisicamente. O tempo que passamos juntos atinge sua plenitude diariamente em um processo transcendental. 

Quanto tempo é necessário para que dois jovens se apaixonem? Quanto tempo leva para que um filho entenda as razões dos pais? É possível afirmar quanto tempo levamos para saber quem somos? Cronologicamente não há resposta precisa. O kairós não pode ser medido, mas pode ser sentido. Hoje nos importamos muito mais em adequarmos nossa vida ao tempo cronos do que preparamos nossa vida para que o tempo kairós se manifeste. 

O educador Mário Sérgio Cortella chamou nossa geração de “Geração Miojo”.  Tudo é para já. Dos relacionamentos ao sucesso profissional. Não há como negar que buscamos a instantaneidade nas relações.  Quero um namoro de qualidade, mas que aconteça com a velocidade de uma banda larga e com a eficiência de um computador de última geração. Bem contraditório, não?

Para terminar, algumas frases curiosas sobre o tempo:

“Fiz um acordo com o tempo, nem eu fujo dele e nem ele me persegue”. Paulo Autran, ator. 

“O tempo é a imagem móvel da eternidade imóvel”. Platão, filósofo. 

“O tempo não comprou passagem de volta. Tenho lembranças, não saudades”. Mário Lago, ator.

“O tempo é o mais sábio dos conselhos”. Plutarco, filósofo. 

“O tempo não para, só a saudade é faz as coisas pararem no tempo”. Mário Quintana, escritor.

“Os dias talvez sejam iguais para um relógio, mas não para um homem”. Marcel Proust , escritor.  

“O tempo que você gosta de perder não é tempo perdido”. Bertrand Russell, filósofo.

É teólogo jesuíta. Licenciado em Teologia em Frankfurt (Alemanha) e doutorado pela Universidade Gregoriana (Roma). É professor da FAJE (Faculdades Jesuítas), em Belo Horizonte. Publicou mais de noventa livros entre os de autoria própria (36) e em colaboração (56), e centenas de artigos em revistas nacionais e estrangeiras. Internacionalmente reconhecido como um dos teólogos da Libertação. 

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