quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A sabedoria de envelhecer em paz

Os impasses surgem quando o espírito não acompanha as mudanças impostas pelo tempo.


A paz de entender o envelhecimento como dádiva.
Por Carlos Eduardo Leão*
Não tem jeito. Depois dos cinquenta todo dia acordamos com duas dores diferentes. Ou é a coluna ou é a cabeça, às vezes um desconforto muscular, uma dorzinha articular, uma pontadinha aqui outra ali, enfim, algo que, para os mais otimistas, nos assegura que, pelo menos, estamos vivos. 

As engrenagens humanas se desgastam como tudo na vida. A isso chamamos de envelhecimento e para o qual todos caminhamos irreversivelmente. Lubrificá-las e mantê-las em atividade retardam a ferrugem impiedosa e incapacitante. 

Isso sem falar na transformação física a que todos nos submetemos ao longo da vida com mudanças pra lá de sentidas pelos dois sexos, indistintamente. Envelhecer é murchar e o processo de envelhecimento cursa com etapas simultâneas e gradativas que nos arrebata impiedosamente o viço dos tecidos, como pele, gordura, músculos e ossos, responsáveis diretos pela aparência física dos humanos. Isso, claro, sem falar nos órgãos que mantém a economia que são, igualmente, vítimas do mesmo fenômeno.

Todos diminuímos em estatura. Os ossos do segmento facial murcham juntamente com outras estruturas profundas da face recobertas por pele que, por sua vez, segue a mesma trajetória de descenso que marca o semblante em processo senil. Sobrevêm as rugas que, para alguns, são sinais indeléveis de sabedoria e, para outros, sinais insuportáveis da decadência física. Aqui entra a alma. Ou espírito, ou ainda  a mente, como queiram. Algo metafísico que transcende o conhecimento positivo e nos faz viajar através da vã filosofia, na procura de  algo que nos mantenha em bem estar pleno.

Aprendemos desde sempre que Corpo e Alma são uma coisa só, indivisível, indissociável. Um sopro de Deus e pronto: o corpo com alma, enfim, com vida. Um não existe sem o outro a não ser quando o sopro se expira.

Corpo e alma caminham juntos embora haja uma dissonância, uma discrepância nítida entre os dois principalmente quando o espírito insiste em não acompanhar o envelhecer. Embora muitas vezes teime em se manter na plenitude da juventude, o espírito que habita o corpo envelhecido é responsável pelos mais diversos conflitos que normalmente terminam ou no divã do psicanalista ou na mesa do cirurgião plástico. Não raro, nos dois. 

Sou fã das duas ciências e uma delas professo com total atenção e zelo. O cirurgião plástico é um restaurador por natureza que procura diuturnamente o equilíbrio das formas,  restaurando-as, refazendo-as, reposicionando-as, encontrando, enfim, nas mais avançadas técnicas um meio de melhorar o corpo, templo do espírito, e minorar a conflituosa relação travada entre ambos quando um deles não aceita a inexorabilidade do tempo. 

Não tenho dúvida que na vida devemos buscar sempre e incansavelmente a felicidade que, por sua vez, não está apenas na forma física exuberante da juventude ou na maneira que buscamos para consegui-la. A felicidade, que é obra do espírito, está na vida, no amor, na realização, na convivência, na tolerância, no perdão, na paciência, enfim, em tudo que nos transforma em seres melhores. 

Aos que querem o rejuvenescimento cirúrgico por legítima vontade de equacionar a relação corpo/espírito buscando aquele "algo mais" que lhe traga maior felicidade interior para, com ela, tornar-se uma pessoa ainda melhor, não se acanhem em buscá-lo. "Quem procura a cirurgia plástica não quer se destacar na multidão. Quer se juntar à ela" e com ela viver a vida plena em felicidade dentro da máxima filosófica de Juvenal "mens sana in corpore sano".

Como para lá todos iremos que possamos então enxergar "o envelhecer" como dádiva e "o saber envelhecer" como privilégio.
*Carlos Eduardo Leão é médico e cronista
domtotal.com

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