terça-feira, 19 de novembro de 2013

O tiro que chocou o mundo

O assassinato de John Kennedy foi um crime que envolveu poder, petróleo, armas e máfia.


Cinquenta anos depois da morte de JFK, o crime ainda fascina o mundo.
Por Lev Chaim, de Amsterdã*

“Morte, morte”! – gritou uma mulher esbaforida pela casa adentro. Era a residência da avó de um amigo com o qual brincava. Pensamos logo que o grito era para a gente, já que estávamos jogando papelotes de papel higiênico molhado, na cabeça das mulheres que acabavam de sair do cabelereiro ao lado. Ficamos petrificados de medo. “Alguém havia nos delatado”, pensamos logo.

Mas quando os gritos permaneceram e ninguém veio atrás da gente, corremos então para a rua com o intuito de ver o que estava se passando. Era noite de 22 de novembro de 1963. Para o nosso espanto, tudo parecia normal e as ruas estavam calmas naquela hora. Franca continuava a mesma. Acreditamos que a mulher que havia gritado, na verdade, estaria louca ou dando uma de louca. 

Só bem mais tarde, antes de dormir, é que soubemos do tiro que chocou o mundo naquele dia, inclusive as pessoas daquela minha cidade no nordeste do Estado de São Paulo, fim da linha da Companhia Ferroviária Mogiana, quase divisa com Minas Gerais. Foi um tiro fatal, disparado há milhares de quilômetros dali, que matou o  presidente dos Estados Unidos, o carismático John Kennedy,em Dallas, no Texas. A gritalhona havia ouvido tudo pela BBC de Londres. 

Isto aconteceu há cinquenta anos, quando ele desfilava em carro aberto ao lado da esposa, Jackie Kennedy, e do Governador do Estado do Texas e a esposa. E até hoje, especula-se sobre o assunto, na tentativa de se encontrar explicações esclarecedoras daquele episódio negro da história norte-americana. Mais de quarenta mil livros já foram escritos sobre os Kennedy e sua família,  milhares deles sobre aquele dia fatídico. 

Dos novos livros recém lançados, sobre o 22 de novembro de 1963, em comemoração aos 50 anos do episódio, seis são imperdíveis para maiores esclarecimentos sobre o assassinato que marcou o mundo. Isto para se chegar um pouquinho mais perto da verdade dofato que ainda fascina muita gente. Mas, não é só isto. Os livros nos dão uma imagem mais acurada dos Estados Unidos em 1963.

Aqui estão eles, com os títulos traduzidos livremente: “Anatomia de um Atentado”, de Philip Shenon; “Cold Case Kennedy”, de Flip de Mey; “Dentro do Pesadelo”, de Joseph McBride; “Os últimos cem dias de JFK”, deThurston Clarke; “O lado negro de Camelot”, de Seymour Hersh; e “John F. Kennedy 1917-1963 – Um vida que não terminou”, de Robert Dallek. 

Após ler alguns desses livros e folear o restante, uma coisa ficou clara: o assassinato foi um complô. Mas, de quem? Da CIA, do FBI, de Castro, da Máfia, de Lyndon Johnson ou do próprio Lee Oswald (o assassino oficial)? Ou de todos eles juntos? Para saber isto, terão que ler os livros. De cara eu já lhes digo que vale a pena. Na verdade, trata-se de um dos momentos de maior comoção na história recente dos Estados Unidos e de todo o mundo. 

Por unanimidade, quase todos eles denominaram a investigação do FBI e da CIA, sobre o assassinato,de pobre e lamentável, onde provas e testemunhas vitais do episódio foram totalmente ignoradas. Dai, pergunta-se: a quem interessava a verdade? No livro “Cold Case Kennedy”, por exemplo, do antigo advogado e auditor forense de empresas, Flip de Mey, existem fortes evidências de um possível complô de homens poderosos da época.

Comenta-se ali, por exemplo, que o então presidente Johnson assinou o memorando “273”, de Segurança Nacional, no dia 26 de novembro, quatro dias após o assassinato do presidente Kennedy. Neste ato, a guerra do Vietnã foi novamente priorizada pelo governo norte-americano, com todo o suporte militar necessário. 

E era de conhecimento público que o antecessor de Johnson, John Kennedy, já havia deixado claro que pretendia retirar as tropas de seu país daquela guerra, o quanto antes. Ele era preocupado com a sua imagem e a guerra do Vietnã poderia ser uma nódoa em sua biografia. Mais tarde, a realidade veio provar que Kennedy estava com a razão. 

O mais interessante revelado agora no livro é que este memorando de número “273”, que voltava a priorizar a guerra do Vietnã com tudo, foi elaborado à véspera do assassinato de Kennedy, no dia 21 de novembro de 1963. Premeditação ou coincidência? 

Uma outra revelação bastante curiosa é que neste mesmo dia, 21 de novembro de 1963, estiveram reunidos em Dallas, pela noite, o bilionário do petróleo, Clint Murchison, com um grupo de pessoas, entre elas, o ex-vice-presidente Richard Nixon; George H.W.Bush – no tempo, empregado da indústria petrolífera e informante da CIA; – e o então todo poderoso diretor do FBI, J. Edgar Hoover. Mais tarde, juntou-se ao grupo, o ex-presidente Lyndon Johnson, que naquela hora ainda era vice-presidente. 

No final do encontro, Johnson teria telefonado à amante, Madeleine Brown, para dizer que após amanhã, portanto, 22 de novembro, os Kennedys não mais estariam impedindo o seu caminho. E por fim, teria dito ainda que aquilo não era uma ameaça, mas uma promessa. Sem dúvida, um fato até então desconhecido do grande público. 

Esses livros recém lançados sobre o assassinato revelam novos fatos e enfatizam uma coisa: tanto o FBI, como a CIA e a comissão oficial, instalada por Johnson, para investigar a morte - a Comissão Warren,ignoraram evidências importantes e não entrevistaram testemunhas vitais. Eles preferiram ficar com a solução mais fácil ou mais conveniente: o assassinato foi mesmo efetivado por Lee Oswald que, logo depois, também foiassassinado. 

Depois de cinquenta anos o mistério ainda continua a fascinar o mundo. A própria família Kennedy nunca ajudou a esclarecer o fato. Ai, surgem novas perguntas sem respostas. Teria a família do presidente, ao saber de todo o complô e de todos os poderosos envolvidos, se sentido ameaçada? Cinco anos depois, o irmão de Kennedy, Robert, foi assassinado quando fazia a sua campanha presidencial. 

Apesar do mistério todo, após cinquenta anos da morte do presidente Kennedy, uma outra coisa parece ter ficado clara ao ler as páginas desses novos livros:as últimas evidências apontam que o crime envolveu poder, petróleo, armas e máfia. Tchau e até a próxima.
*Lev Chaim é jornalista, colunista, publicista da FalaBrasil e trabalhou 20 anos para a Rádio Internacional da Holanda, país onde mora. Escreve todas as terças-feiras para o Domtotal.

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