quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Se o mundo fosse uma aldeia



Mapa: Divisão Norte e Sul (Foto: Divulgação)
Marcus Eduardo de Oliveira

“O Brasil necessita mais do que simples remendos na sua atual estrutura social.
Mais do que uma melhor distribuição dos privilégios;
precisa da formulação e construção de uma nova sociedade”.
(Cristovam Buarque)

Consolidar significa tornar sólido, seguro, estável. É urgente a necessidade de se consolidar um novo modo de viver, face às constantes e crescentes disparidades socioeconômicas que se desenrolam no cenário mundial, cuja expressão maior talvez seja a infeliz constatação que 1 bilhão de pessoas passam fome.

Estamos num mundo em que 40% dos habitantes do planeta carecem de necessidades básicas para a sobrevivência? Em pleno século XXI, quando todos ansiavam por uma sociedade mais justa, mais fraterna e menos desigual, o atual modelo de consumo e produção dá mostras mais que suficientes que não é mais possível suportar tamanha disparidade entre o modo de viver (e de consumir) dos que habitam o Norte em relação aos que residem do lado Sul.

É interessante perceber que o século XXI trazia em si uma esperança de renovação. Esse novo período, diz o cientista político Emir Sader, “se anunciava como um século do socialismo e terminou com a consolidação da hegemonia do capitalismo em sua forma mais selvagem – ideologia norte-americana, neoliberalismo econômico, dominação do capital especulativo, do consumismo, do egoísmo, da depredação ambiental”.

Nesses cem anos que separaram os séculos XX do XXI “foi possível combinar desenvolvimento tecnológico com concentração de renda, debilitamento dos laços de sociabilidade com hegemonias dos grandes meios audiovisuais de caráter monopólico”, complementa Sader.
Confira o mapa ´Divisão Norte e Sul´ no topo da página
A desigualdade social vem ganhando a cada dia desse século XX proporções inaceitáveis, face ao desamparo social em que se encontram os mais de 4,5 bilhões de pessoas do lado pobre do planeta. O modo de consumir excessivamente exagerado de pequena parte do lado rico se faz sugando as possibilidades de estender esse consumo a grande parte dos que estão do lado pobre. Em decorrência disso, torna-se inadmissível continuar aceitando o excessivo consumo do lado rico do planeta, sabendo que a contrapartida é o subconsumo do lado pobre.

Se o mundo fosse uma aldeia...
Se o mundo fosse uma aldeia em que residissem apenas mil habitantes, a metade da riqueza estaria nas mãos de apenas 60 pessoas, todas nascidas nos Estados Unidos. Oitocentas pessoas dessa aldeia viveriam em casa de má qualidade, 670 seriam analfabetas e apenas uma pessoa seria educada em níveis universitários.

Essa era, grosso modo, a situação do mundo na virada do século XX para o XXI. E onde estavam localizadas essas pessoas? Quais idiomas falavam? Dos mil habitantes dessa aldeia chamada “mundo”, 584 estavam na Ásia, 124 na África, 95 na Europa, 84 na América Latina, 55 na ex-URSS, 52 nos EUA e seis na Austrália e Nova Zelândia. Cento e sessenta e cinco delas falavam o mandarim, 86 o inglês, 83 o híndi, 64 o castelhano, 58 o russo e 37 o árabe, além de 200 outros idiomas.

O fato é que uma parte do mundo consegue causar tremendos estragos sobre outra parte. Em termos de benefícios sociais universais tudo não passou de um grande fracasso no século XX. Sem exceção, fracassaram todos. Fracassaram os países capitalistas do ocidente, os socialistas do leste. Fracassaram os ditadores e até mesmo os democratas. Fracassou o povo que não teve voz suficiente para dar o grito de alerta e fracassou a elite que manteve os ouvidos moucos diante da silente reclamação dos excluídos.

Esses fracassos aumentaram as desigualdades. Essas perpetuaram os indecentes níveis de miséria, mesmo no lado rico do planeta; pior ainda do lado pobre.

A esse respeito, Cristovam Buarque comenta que: “Nos países ricos, o crescimento econômico não eliminou a miséria, aumentou a desigualdade e a pobreza, mantém desemprego crônico, provocou uma crise ecológica e insatisfação existencial, generalizou a dependência às drogas químicas e ao consumo supérfluo, ampliou a distância social em relação ao resto do mundo. Nos países socialistas, a tentativa de uma economia igualitária sacrificou a liberdade individual, foi incapaz de criar uma dinâmica econômica; mesmo sem o consumo elevado, provocou desequilíbrios ecológicos de dimensões ainda piores do que nos países capitalistas”.

Diante disso tudo, cabe consolidar um novo modo de viver. O lema a seguir já é antigo, mas ainda é sempre oportuno: outro mundo é possível!
Marcus Eduardo de Oliveira é economista, com especialização em Política Internacional e mestrado em Integração da América Latina (USP). Contato: prof.marcuseduardo@bol.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário