John Lennon não foi apenas o fundador dos Beatles, mas a própria essência do grupo
John Lennon, apóstolo e mártir da música popular (Foto: Divulgação) |
Por Marco Lacerda*
Diizia Nietzsche, há mais de um século, no livro ‘O ocaso dos ídolos’: “No mundo há mais ídolos que realidade”. John Lennon é um bom exemplo para ilustrar tal afirmativa. Ícone incomensurável do rock, apóstolo e mártir da música popular, Lennon é um ídolo gigantesco o suficiente para cobrir todas as realidades, inclusive na intimidade dos Beatles, a banda mais famosa do mundo.
Com ou sem os seus parceiros de Liverpool, Lennon foi uma pessoa repleta de contradições, conseguindo transformar-se em um símbolo da paz mundial ao mesmo tempo em que se envolvia com o braço mais violento do black power dos anos 60, os Panteras Negras. Essas contradições existiram também no seio do grupo que o levou aos altares da memória coletiva: Lennon amava a banda, mas não se sentia parte dela.
Não apenas porque sempre quis líder de uma banda sem líder, mas também por seu fervoroso individualismo, que converteu em virtude sua capacidade de conferir personalidade à obra mais aventureira dos Fab Four. O mesmo individualismo, não isento de uma boa dose de soberba, que o levou a afirmar depois de separar-se do grupo: “Nunca fui consciente de ser um beatle. Nunca. Sou apenas eu”. Não canção ‘God’, do seu primeiro disco individual, ele diz: “Não creio nos Beatles, só creio em mim”.
De herói a mito
A bem da verdade, porém, Lennon jamais se entenderia sem os Beatles, nem a banda sem ele. Não apenas foi o fundador, mas a própria essência do quarteto, a parte mais roqueira de uma formação que triunfou desde as suas primeira gravações como representantes do Mersey Sound, um som com raízes no rock´n roll americano, no doo-wop e no skiffle. Aí se situava Lennon, o jovem teddy boy de classe média com forte influência de Gene Vicent, Eddie Cochran e Chuck Berry. Aí estava o garoto que amava o rock de raiz americano do qual lambuzou as composições universais dos Beatles que enlouqueceram a juventude de todo o planeta a partir dos anos 60.
Sua genialidade carecia de um cúmplice à altura e Paul McCartney foi um motor criativo inquestionável. Sem Lennon não se entenderia a parte mordaz dos Beatles, mas ele passou rapidamente do entusiasmo ao cansaço. O carisma foi se apagando aos poucos até causar o seu afastamento do entorno fechado da banda, o que lhe permitiu sentir-se mais livre em todos os aspectos de sua vida.
Graças ao seu talento e à sua personalidade envolvente, conseguiu construir uma proeminente carreira solo com discos como ‘John Lennon’, Plastic Ono Band’ e ‘Mind games’ que transformaram em realidade um de seus maiores sonhos, o de tornar-se um herói das classes trabalhadoras européias. Não estava em seus planos, porém, ser assassinado na porta de casa por um demente, Mark David Chapman, em 1980 – uma tragédia que, ao fim e ao cabo, o converteu para sempre em mito. Algo ao alcance de muito poucos.
"God" - John Lennon. Veja o vídeo:
*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do Dom Total
Nenhum comentário:
Postar um comentário