A fé generosa de frei Cláudio Van Balen havia transbordado de seu coração e encharcado o meu.
(Foto: Ilustração de Max Velati) |
Por Max Velati*
Em 1990, eu estava empenhado em uma busca mística. Não era uma tarefa puramente intelectual, mas um trabalho prático que me levava a percorrer lugares distantes, entrevistar pessoas e sondar como pudesse o desconhecido. Mesmo depois de todos estes anos essa busca ainda não acabou e acho saudável que não termine nunca.
Nesta busca por respostas, encontrei algumas, descobri novas perguntas, visitei lugares sagrados e dentre todas as pessoas que encontrei nesta caminhada, uma se destaca de maneira muito especial.
Fui procurar este homem e encontrei-o em uma salinha simples e despojada. Seu nome tinha sido tão recomendado que ao vê-lo fiz um gesto de respeito, mas ele simplesmente se levantou e me abraçou como se fôssemos velhos amigos. Conversamos, rimos e ao sair daquela salinha eu tinha entendido perfeitamente porque ele era tão querido.
Parado ali na calçada, o mundo já não era mais o mesmo. Minha fé estava renovada porque havia percebido uma prova concreta do poder da religião, do que a crença verdadeira e o humanismo sincero podem fazer quando habitam o mesmo coração. A fé generosa daquele homem havia transbordado de seu coração e encharcado o meu.
Ficamos amigos e ao longo destes anos colhi tanto desta amizade, aprendi tanto sobre a natureza generosa da fé, que tenho para com este homem uma dívida imensa, mas ele não pensa na vida em termos de dívidas, débitos, lucros. Sei que ele percebe a vida como uma caminhada de irmãos e irmãs, porque foi com ele que aprendi que no fundo, “ser é pertencer”. Quando me lembro desta lição valiosa, mergulho outra vez na vida sabendo que só faz sentido existir acreditando que estamos todos juntos na mesma caminhada. E quando sinto que estou andando sem rumo, que perdi os sinais, também me lembro daquele homem me dizendo com um sorriso: “Ir todo mundo vai, mas só chega quem se deixa atrair”.
E assim, com estas lições, com estes exemplos de virtude e sempre transbordando de alegria, esse homem faz a nossa caminhada ficar mais feliz, faz a fé ficar mais próxima e assim fica muito mais difícil perder o caminho.
Por razões que nunca irei entender querem que este homem pare de fazer tudo isso.
As autoridades da Igreja querem impedir frei Cláudio Van Balen de ser frei Cláudio Van Balen. As autoridades da igreja não percebem que uma missa celebrada por quem vive na crença sincera de que “ser é pertencer” é um ritual valioso, raro, e celebra um senso de irmandade que dá sentido a cada gesto, a cada som, a cada imagem e ao próprio local onde a missa é realizada. Deviam refletir melhor e com mais humildade.
Mas fica aqui a minha mensagem, meu querido amigo Frei Cláudio Van Balen, umas poucas linhas de uma de suas tantas ovelhas agradecidas. E nós, as suas ovelhas, sabemos que é você o nosso pastor.
*Max Velati trabalhou muitos anos em Publicidade, Jornalismo e publicou sob pseudônimos uma dezena de livros sobre Filosofia e História para o público juvenil. Atualmente, além da literatura, é chargista de Economia da Folha de São Paulo.
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