quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Legionários de Cristo iniciam Capítulo extraordinário: um caminho de profunda renovação – entrevista ao Cardeal Velasio De Paolis


Cidade do Vaticano (RV) - Teve início na tarde desta quarta-feira, em Roma, o Capítulo Geral extraordinário da Congregação dos Legionários de Cristo. Presidida pelo Delegado Pontifício, Cardeal Velasio De Paolis, a missa inaugural teve lugar às 18h30 locais na Capela do Centro de Estudos Superiores dos Legionários de Cristo.



Os trabalhos do Capítulo foram abertos na manhã desta quinta-feira, dia 9, e se realizarão na sede da Direção Geral da Congregação, devendo concluir-se provavelmente até o final de fevereiro.

Em vista desta ocasião, o Delegado Pontifício para a Congregação dos Legionários de Cristo concedeu uma longa entrevista a Pe. Federico Lombardi – para a Rádio Vaticano – sobre a preparação e as perspectivas do Capítulo:

RV: Eminência, neste 8 de janeiro tem início o Capítulo dos Legionários de Cristo: representa um passo ulterior e fundamental do longo caminho de renovação, que o senhor conduziu por encargo do Santo Padre. Poderia resumir-nos brevemente os passos e os eventos principais deste caminho de preparação, desde a sua nomeação até o Capítulo?

Cardeal Velasio De Paolis:- "Em primeiro lugar, gostaria de precisar que este caminho não é o início do caso da Legião e do Regnum Christi, mas é uma etapa. A primeira etapa é o caso do Fundador; a segunda visita da parte dos cinco bispos enviados pelo Santo Padre para tomar conhecimento desta realidade; a terceira etapa, precisamente, a nomeação do Delegado Pontifício. Por que é importante ressaltar isso? Porque a visita dos cinco Visitadores trouxe um resultado de reflexão, de avaliação e, portanto, também de ponderação sobre o futuro. Quando o Santo Padre nomeou o Delegado Pontifício já havia emitido no Boletim Oficial um juízo severo sobre a atuação do Fundador da Legião, mas não a ponto de destruir a realidade da Legião: se o Papa nomeia um Delegado, implicitamente nega que se deva dar um juízo substancialmente negativo sobre a própria Legião. Ele mesmo, no início da Bula de nomeação, diz: "Há um grande número de sacerdotes zelosos e comprometidos no caminho da santidade". Justamente porque havia essa premissa de confiança, essa etapa – que começou com a nomeação do Delegado Pontifício – era mais, portanto, uma nomeação positiva, ou seja, queria repercorrer o caminho junto aos Legionários para levá-los, mediante um período de reflexão, de renovação, também penitencial, a rever o próprio carisma, a reescrever suas Constituições e, portanto, a retomar sua colocação positiva dentro da Igreja. É necessário dizer isso porque se considerava, de certo modo, concluído o exame sobre o Fundador; consideravam-se concluídas também as visitas nos diversos lugares. Agora era necessário atuar no seio do Instituto para fazer as pessoas refletirem e ajudá-las a superar as dificuldades. E essa foi precisamente a nossa missão. O Papa diz que, entre as muitas tarefas, a principal é a da revisão das Constituições. Tinham Constituições que não foram redigidas segundo os critérios do pós- Concílio, mas tinham ainda os critérios tradicionais: um texto muito longo, pesado, inclusive ferruginoso, em que não se distinguiam as normas constitucionais das outras e se refletia também uma mentalidade que – a nível disciplinar – não distinguia nem mesmo o grau das leis, a importância das leis e, portanto, também a substância da disciplina, de outras normas que são úteis, talvez inclusive necessárias, mas não características. Um mar de normas, no seio das quais o próprio carisma acabava aguado, ou mesmo liquefeito e era difícil dar-lhe consistência. Essa era a tarefa principal.

RV: E como atuou com seus colaboradores para enfrentar a situação?

Cardeal Velasio De Paolis:- "Começou-se apresentando aos próprios Legionários aquilo que os Visitadores disseram, porque deveríamos partir daí. Efetivamente, apresentamos, em várias conferências, a todos aqueles que estavam aqui em Roma – em Roma eram cerca de 400 ou 500 entre estudantes e sacerdotes – as observações que os Visitadores haviam feito. Eles gravavam essas conferências, que depois eram enviadas a toda a Legião e ao Regnum Christi, que é maior do que a Legião. Quando teve início, houve – podemos dizer – quase uma divisão em dois grupos: um que realçava o fato de ter havido uma ocultação dentro do governo do Instituto, razão pela qual – de certo modo – não se podia esperar nada de novo; e outro grupo, ao invés, que não conseguia colher a novidade, porque viam quase tudo positivo, aliás, pensavam que a característica deles, que lhes havia impedido de cair nos defeitos dos outros Institutos religiosos, era justamente a de ser uma realidade bem compacta. Na verdade, eles tinham caído numa cilada muito mais perigosa, a do próprio Fundador! Percorremos este caminho encontrando os problemas relativos às conseqüências do comportamento do Fundador em relação às vítimas. Encontramos problemas de ordem econômica, porque os Legionários não são tão ricos como se pensa: a situação econômica havia piorado tanto a nível mundial por causa da crise financeira, quanto a nível institucional para eles, porque a fama perdida fez diminuir os estudantes em seus colégios e, portanto, as entradas financeiras. Houve, ademais, sobretudo o problema das Constituições, sobre o qual mais se trabalhou. A questão principal era revê-las, particularmente em alguns pontos nodais. Quais eram? A distinção clara, mais clara e precisa do foro interno e do foro externo, foro sacramental e foro – digamos – disciplinar, externo. Era necessário, de modo particular, reafirmar que a autoridade não é arbitrária, mas que deve atuar no âmbito do Conselho: tinham, além disso, uma certa constituição de autoridade muito difusa e fracionada, com muitos elementos de incerteza. Em suma, reconduzimos todo o problema à realização de Constituições segundo as indicações do Concílio, pós-Concílio e do Código de Direito Canônico. E justamente em torno deste tema deu-se o trabalho maior. Houve ainda o trabalho também para renovar os superiores, que era muito importante: no início deixamos que os superiores permanecessem em seus lugares. Essa era uma exigência necessária, porque nós que estávamos entrando não podíamos atuar e governar sem conhecer a realidade. Pareceu-nos mais útil e mais eficaz manter os superiores, mas sob o controle da nossa presença: por isso nos comprometemos a estar sempre presentes em seus Conselhos Gerais. Eles podiam dispor de seu governo, porém não podiam decidir nada sem a nossa presença. Portanto, houve essa osmose de diálogo contínuo, ao menos uma vez por semana tínhamos os encontros dos dois Conselhos, eu tinha o meu Conselho e eles tinham o Conselho deles. Iniciamos assim esse percurso, em que todos tratamos dos grandes problemas: os problemas do Fundador; os problemas da formação; os problemas do Regnum Christi; e também os problemas disciplinares, porque embora os casos de sacerdotes que se mancharam de delitos na Igreja não sejam tão numerosos, existiam casos desse tipo também na Legião, como de resto existem também em outros Institutos. Esse é o quadro geral no qual atuamos.

RV: Creio que o Capítulo agora tenha substancialmente duas tarefas: a de renovar o governo com eleições e a da aprovação das novas Constituições. Mas se o trabalho das Constituições já foi levado adiante, em que o Capítulo deve ainda intervir em relação a elas?

Cardeal Velasio De Paolis:- Distinguimos o Capítulo em três etapas. Uma verificação do caminho percorrido: um exame de consciência – assim o chamamos – a realizar-se diante das acusações que foram feitas, como as verificamos e qual é o compromisso que devemos assumir para superar essas dificuldades. Foi reconhecido também um empenho penitencial que deveria levar a reconhecer, inclusive publicamente, essas responsabilidades, porém como compromisso de cada um de saber assumir também o sofrimento que deriva desta situação, como expiação para renovar a Legião e, portanto, reencontrar a justa posição dentro da Igreja. O segundo momento há de ser a nomeação dos novos superiores, que depois deverão governar o Instituto. O terceiro momento, a revisão das Constituições, que deverá ser simples, justamente porque já trabalhamos sobre isso nestes três anos e meio. Toda a Congregação foi consultada e apresentamos aos capitulares um texto das Constituições, com o suporte das fontes e do caminho percorrido. Esperamos que agora não seja necessário tanto tempo, embora o caminho – conhecendo as situações – possa ainda apresentar obstáculos, porque todos têm um pouco a vontade de fazer propostas adicionais. Porém, é também verdade que o texto que sairá do Capítulo não será o texto definitivo, porque depois deverá ser apresentado ao Santo Padre para a revisão e, portanto, também para a eventual aprovação definitiva.

Rádio Vaticano

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