terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Negociações de paz sobre a Síria são interrompidas em Genebra


O mediador da ONU para a Síria, Lakhdar Brahimi.
Genebra (AFP) - As negociações de paz entre o regime sírio e a oposição foram interrompidas nesta terça-feira, depois que os representantes de Damasco apresentaram um comunicado que acusa os Estados Unidos de terem tomado a decisão de armar os rebeldes.

"Não há sessão nesta tarde ou nesta noite. Haverá uma sessão amanhã", declarou à AFP Rima Fleyhan, da delegação da oposição, após a breve reunião pela manhã.

Segundo esta opositora, o mediador da ONU Lakhdar "Brahimi suspendeu a sessão porque o regime não cooperava sobre nenhum tema".

A delegação do presidente Bashar al-Assad acusou Washington de ter tomado a decisão de retomar as entregas de armas aos insurgentes.

O vice-ministro das Relações Exteriores sírio, Faysal Moqdad, declarou aos jornalistas que a reunião desta terça-feira tinha que se concentrar em Genebra I. "Dissemos depois que havia uma evolução importante ligada à decisão da administração americana de fornecer armas aos grupos terroristas", disse.

"E lemos um comunicado que provocou discussões, mas o outro grupo afirmou que apoiava a decisão americana", acrescentou.

Damasco considera que todos os grupos rebeldes são terroristas.

Segundo o comunicado, obtido pela AFP, "esta decisão é uma tentativa direta de impedir qualquer solução política na Síria".

O secretário americano de Estado, John Kerry, disse no dia 22 de janeiro em Montreux que os Estados Unidos buscavam formas de pressão contra o regime de Damasco, aumentando sua ajuda à oposição.

"Direi apenas que estão sendo estudadas várias opções, incluindo o prosseguimento do apoio, ou inclusive um maior apoio à oposição", acrescentou, sem dar mais detalhes.

Os rebeldes que lutam contra as tropas do regime sempre exigiram armas, mas Washington mostrou-se até agora reticente em entregá-las, alegando que poderiam cair nas mãos de extremistas.

Após um primeiro fracasso que na segunda-feira bloqueou as negociações, Brahimi queria voltar a colocar sobre a mesa nesta terça-feira o tema crucial da transição política.

A declaração de Genebra I, adotada em junho de 2012 pelas grandes potências, é alvo de polêmica desde o início entre partidários e adversários do presidente Assad.

A oposição considera que Genebra I é sinônimo de governo de transição e saída de Assad, no poder desde 2000.

Mas o regime considera que a declaração convoca um governo de união nacional ampliado, e que a eventual saída do presidente deve ser decidida pelos sírios em eleições.

As delegações falaram durante o fim de semana, sem alcançar avanços, de questões humanitárias, como a situação em Homs e o problema de milhares de prisioneiros e desaparecidos no conflito.

Apelo por fim do cerco

Militantes de Homs fizeram nesta terça-feira um chamado à oposição em Genebra para obter o fim do cerco realizado há 600 dias pelas tropas do regime contra os bairros rebeldes desta cidade do centro da Síria.

Brahimi anunciou no domingo que obteve do regime a promessa de que deixaria as mulheres e crianças saírem, e permitiria a entrada dos comboios humanitários.

Mas o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR), que não consegue ter acesso ao enclave rebelde desde novembro de 2012, afirmou que o poder sírio não havia tomado nenhuma medida concreta.

E os próprios militantes afirmaram que nenhuma ajuda havia chegado.

Considerada o foco da contestação, a terceira maior cidade da Síria pagou um preço muito alto por sua oposição a Assad.

"As pessoas sitiadas não apenas querem a entrada de ajuda humanitária. É preciso parar o ataque e garantir a entrada e a saída segura dos habitantes", afirmaram os ativistas em um comunicado divulgado na internet.

Segundo eles, se o ataque não for levantado, "qualquer solução será inútil e não poderá colocar fim a esta tragédia".

Enquanto isso, em terra as tropas do regime conseguiram avançar no limite sudeste de Aleppo, perto do aeroporto internacional, provocando a fuga de muitos habitantes que temem ser vítimas dos combates, afirmou o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).

A ONG informo que era "a primeira vez que o exército tentava entrar em Aleppo por sua periferia", e não a partir dos bairros que controlam. Os rebeldes entraram em Aleppo em julho de 2012 e controlam mais da metade desta grande metrópole do norte do país.
AFP

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