domingo, 9 de fevereiro de 2014

Japonesa dá a volta ao mundo para desfilar como passista na Mangueira

Saaya, de 1,45 metro e 38 kg, cresce e parece ter um tufão nos quadris.
Ela aprendeu português com o samba e pensa em morar no Rio.

Alba Valéria MendonçaDo G1 Rio
O que falta no português, a japonesa Saaya compensa com o samba e conquista admiradores (Foto: Rodrigo Gorosito/ G1)O que falta no português, a japonesa Saaya compensa com o samba e conquista admiradores (Foto: Rodrigo Gorosito/ G1)
A paixão pelo samba pode levar alguém a atravessar o mundo. Literalmente.  Foi movida pelo desejo não só de conhecer, mas principalmente, de desfilar na Estação Primeira de Mangueira, que a dançarina Saaya Suga, de 23 anos, deixou a cidade de Fukuoka, no sul do Japão, atravessou quase 18 mil quilômetros e se chegou ao Rio de Janeiro. Desde setembro de 2013, a japonesa está morando temporariamente na Lapa, no Centro da cidade.
Nos ensaios, Saaya não pára de sambar enquanto bateria da Mangueira está tocando (Foto: Rodrigo Gorosito/ G1)Nos ensaios, Saaya não pára de sambar enquanto
bateria da Mangueira está tocando (Foto: Rodrigo
Gorosito/ G1)
A pequena Saaya, de 1,45 metro de altura e 38 quilos, de longe parece uma delicada boneca Kokeshi, de pele alva, traços delicados e longuíssimos cabelos negros, que batem abaixo do bumbum e que há dez anos ela só apara as pontinhas. Mas basta a bateria “Tem que respeitar meu tamborim”, da Mangueira, começar a tocar, com a agilidade de um ninja, ela se transformar numa “mulata” com um tufão no diminuto quadril. Do alto de um salto de 15 cm, Saaya samba muito, de deixar muita sambista no chinelo. Tanto, que logo na primeira vez que foi a um ensaio na quadra, foi convidada para ingressar na ala de passistas.
“Quando cheguei ao Rio, queriam me levar para o Salgueiro. Mas queria ir à Mangueira. No primeiro ensaio de sábado, comecei a sambar. O locutor da quadra pediu para abrir uma roda e começaram a me fotografar e aplaudir. Logo depois, me chamaram para um teste. Hoje estou na ala das passistas. Muito feliz”, relembra Saaya, que ainda tropeça nas palavras, já que só começou a aprender português quando chegou ao Brasil. Mas a letra do samba-enredo de 2014, ela já canta todinha. Com algumas trocas de letras, claro, mas nada que atrapalhe o canto da verde-e-rosa.
Ela conta que estudou dez anos de balé clássico em sua cidade natal, Saitama, no leste do Japão. Ao se mudar para Fukuoka, começou a trabalhar de garçonete em um bar que serve comida brasileira e despertou para o ritmo mais carioca de todos.  Ela recebeu aulas de samba e, com paciência oriental, estudou todos os movimentos das passistas em vídeos de samba que encontrou no Youtube.
“Japonês adora samba. Mas sambar não é fácil”, frisa a dançarina.
Passista da Mangueira, a japonesa Saaya pensa em vir morar no Rio (Foto: Rodrigo Gorosito/ G1)Passista da Mangueira, Saaya pensa em deixar o
Japão e morar no Rio (Foto: Rodrigo Gorosito/ G1)
No Japão, onde existem muitas escolas de samba espalhadas pelo país. Saaya desfilou, por exemplo, na Bosque da Liberdade, de Fukuoka. Mas garante que nada se compara àEstação Primeira de Mangueira, sua paixão. Saaya diz que já se sente brasileira: gosta de samba, feijoada e churrasco. Mas faz questão de manter a tradição japonesa de só comer sushi e sashimi em momentos especiais.
“Também gosto muito de uma cervejinha. As brasileiras são bem levinhas, né? No Japão, elas são mais fortes”, frisa a passista da verde-e-rosa, que com sua graça e simpatia vem conquistando admiradores em todos os segmentos da escola.
Filha única de um professor e de uma cantora de ópera, Saaya, que afirma ter recebido boa formação cultural, sabe que vai partir corações com essa decisão.
“Meu visto de turista vence logo depois do carnaval. Tenho de voltar ao Japão. Meu pai manda dinheiro e me ajuda até eu voltar. Mas quero morar no Rio. Meus pais vão ficar tristes, mas é meu sonho”, disse Saaya, que já está promovendo um verdadeiro carnaval no coração dos muitos amigos brasileiros que já fez por aqui nesses quase cinco meses.
E também no coração do namorado. Ou melhor, do ex. “Viemos juntos para o Rio e vamos voltar juntos, mas acabou. É complicado. Mas não tenho namorado brasileiro. É complicado”, tenta explicar a pequena gueixa sem encontrar as palavras em seu reduzido vocabulário.
As palavras e o entendimento da língua que ainda faltam a Saaya sobram em seu requebrado.  E assim, com seu jeitinho delicado, ela segue arrasando corações. A linguagem do samba é mesmo universal.
Japonesa Saaya Suga, de 23 anos, deu a volta ao mundo para realizar o sonho de desfilar na Mangueira (Foto: Rodrigo Gorosito/ G1)Japonesa Saaya Suga, de 23 anos, deu a volta ao mundo para realizar o sonho de desfilar na Mangueira (Foto: Rodrigo Gorosito/ G1)

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