domingo, 30 de março de 2014

Corais brasileiros do Pacífico são ameaçados

Capacidade reprodutiva do coral-sol é duas a três vezes maior do que as espécies nativas.


Um animal cnidário (do mesmo grupo das águas-vivas e anêmonas) que se reproduz de forma assexuada, provoca a extinção dos corais nativos e pode reduzir a oferta do pescado em longo prazo. Seu nome? Coral-sol (Tubastrea tagusensis e Tubastrea coccinea). Onde a espécie se instala, a vida marinha praticamente desaparece. 

A capacidade reprodutiva do coral-sol é duas a três vezes maior do que as espécies nativas e cada colônia pode liberar cerca de 5 mil larvas. A espécie foi encontrada pela primeira vez no naufrágio do navio Cavo Artemidi, em Salvador, na década de 80. Em 2011, o pesquisador e autor do projeto Corais da Bahia, Ricardo Miranda, e o monitor de recifes de coral da organização não governamental Pró-mar, José Carlos Barbosa, foram os primeiros a detectar a presença de centenas de colônias no recife natural dos Cascos.  

A Pró-mar começou a monitorar os recifes de coral da llha de Itaparica (na Baía de Todos-os-Santos) em 2006 e atualmente tem ampliado os estudos para outros locais, além das ilhas de Tinharé e Boipeba, no baixo sul da Bahia. "Em uma das nossas expedições, encontramos o coral-sol em um relevante recife da região, onde já é possível ver grande cobertura deste organismo em algumas ´pedras´, dividindo espaço com importantes corais construtores dos recifes brasileiros, incluindo espécies endêmicas da Bahia", afirma Miranda.


O biólogo acrescenta que, diferente dos demais corais, o coral-sol não contribui na construção da estrutura recifal e não possui microalgas zooxanteladas em seus tecidos, ou seja, aquelas que auxiliam os corais na nutrição. "Além disso, ele possui eficientes estratégias reprodutivas e altas taxas de crescimento, o que pode fazer deste organismo extremamente eficiente na competição por espaço", completa Miranda.

Remoção da espécie

Parte do coral-sol, que ameaça os corais nativos da Baía de Todos-os-Santos, foi removida na terça-feira, 25 de março, por integrantes da Pró-Mar. A ação foi realizada no recife natural dos Cascos, sedimentado a 20 metros de profundidade na costa leste da Ilha de Itaparica e a 12 km de Salvador via mar.

A remoção foi realizada de forma artesanal, com o uso de talhadeiras e marretas, por um grupo de 10 pessoas, dentre os quais, biólogos, pescadores e ambientalistas.

A bióloga Amanda de Carvalho, explicou ao jornal A Tarde que o trabalho exige cuidado. "A colônia tem que sair inteira, senão o stress provoca a liberação de larvas imediatas e, consequentemente, a proliferação do bioinvasor", diz. A especialista não soube informar a quantidade removida, porque, segundo ela, depois de removido, o coral-sol é colocado em água-doce. "Em contato com a água-doce, o coral-sol morre", afirma.

Apoio privado

Ainda conforme Amanda, a ação precisa contar com o apoio da Petrobrás, empresa que seria responsável por introduzir o coral-sol nos recifes baianos. "Há estudos que comprovam que o coral-sol foi trazido por plataformas de petróleo advindas do Golfo do México", conta. Essa já é a décima ação do grupo, mas a bióloga adverte que a atividade pode ser interrompida, devido à falta de recurso. "Por enquanto fazemos a remoção com recursos próprios e de forma rudimentar. Precisamos do apoio de indústrias, principalmente as de petróleo e gás", explica.


Quando os mergulhadores avistarem este coral, não devem coletar nem quebrar as colônias, pois ao manipulá-lo incorretamente, pode-se estimular a desova deste organismo, contribuindo com a amplificação do problema. O correto é comunicar o mais rápido possível a Pro-mar ou algum especialista da área.

O diretor da Pro-mar, Zé Pescador, defende que os pescadores também podem contribuir com a remoção, mas precisam ser treinados e qualificados. "Eles devem ter acesso à tecnologia que permita a eles fazer a retirada do organismo invasor sem criar maiores problemas ao meio ambiente”, justifica.

Até a produção pesqueira pode ser afetada pelo invasor. Em 2012, 65% das espécies de peixes da costa brasileira se alimentavam nos recifes construídos pelos corais nativos. Segundo especialistas, se não for combatido, o coral-sol pode causar impacto nas economias de Salvador, Itaparica, Vera Cruz, Salinas das Margaridas e Maragogipe.

Você sabia?

Conforme informações da Organização Internacional Marítima, uma espécie é considerada invasora quando causa danos ecológicos, econômicos ou para a saúde humana.

O registro do coral-sol nas águas da Baía de Todos-os-Santos, incluindo a presença deste organismo em recife de coral do Brasil, é inédito, e uma nota científica encontra-se em vias de publicação. Este trabalho é de autoria do dr. Claudio Sampaio e dos mestrandos em Ecologia pela Universidade Federal da Bahia e pesquisadores associados a Pro-mar, Ricardo Miranda e José de Anchieta Nunes, além do graduando em Biologia, Rodrigo Maia Nogueira, da ONG Biota Aquática.
Eco Desenvolvimento

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