Padre Geovane Saraiva*

Ele está a dizer-nos algo
que tem a endireitar, a fim de que se cumpra seu projeto de amor, num
espaço de tempo não longe e distante, não no final dos tempos, mas aqui e
agora. Catástrofe, destruição, estrelas e astros caírem dos céus não são
elementos e acontecimentos conclusivos da história (cf. Mc 13, 24-32). O que
realmente deve ser necessário cair e colocar no chão são as estrelas e os
ostros catastróficos do nosso egoísmo e orgulho, com os frutos que nos torna
insensíveis aos problemas dos irmãos famintos, do desempregado, daqueles que
lutam por um pedaço de chão e pelos seus direitos mais elementares.
Animados pela fé, a partir
de Jesus, que ensina-nos a buscar a paz verdadeira e duradoura, ao declarar-se pão da vida, cumprindo inteiramente a vontade do Pai, quando sacia e mata a
fome da humanidade, no amor consequente, no qual tudo se transforma em dom e
partilha, é que nos associamos às promessas divinas, a fim de prestarmos conta
de todos os nossos compromissos, na satisfação de sermos cristãos, nas palavras
do Papa Francisco: “A nossa alegria não nasce do fato de possuirmos muitas
coisas, mas de termos encontrado uma Pessoa: Jesus, de sabermos que, com Ele,
nunca estamos sozinhos” (...).
Eucaristia é dom,
sacrifício, solidariedade e fonte de reconciliação. Aprendemos no catecismo que
a missa é o sacrifício incruento, isto é, sem derramamento de sangue, oferecido
por Nosso Senhor Jesus Cristo através do ministro, do sacerdote. Quando
celebramos a eucaristia, a Santa Missa, devemos ter a consciência clara de que
se realiza o sacrifício de Jesus, que morreu na cruz, no calvário e que
ressuscitou três dias depois.
“Graças” e “distribuição”
são os elementos fundamentais na instituição da Eucaristia, a partir do
Evangelho da multiplicação dos pães (cf. Jo 6, 1-12; Mc 6, 34-44; Mt 14,
13-21), porque nos revela o aspecto mais belo e maravilhoso de Jesus,
preocupado com a criatura humana, num passado longínquo e, hoje igualmente, de
libertar de todo o mal. Jesus, na sua obediência à vontade do Pai, matando a
nossa fome, quer ver-nos acordados e atentos, para que nosso interior,
totalmente livre, conduza à história pelo caminho correto, no grande desejo de
Deus Pai, da sociedade nova e restaurada.
Por isso, nunca iremos nos cansar de falar de Dom Helder Câmara, no seu grande ardor e entusiasmo de místico na luta por justiça e paz, um homem profundamente marcado pela graça de Deus, no seu trabalho bem articulado e amor acendrado à Igreja pobre e servidora, consubstanciado aqui na sábia frase do Teólogo José Comblin: “Sou daqueles que tem a convicção de que os escritos de Dom Helder ainda serão fonte de inspiração na América Latina, daqui a mil anos”.
Concluo, guardando no íntimo do coração a mensagem de otimismo e esperança,
deixada por esse pastor grandioso e amigo dos empobrecidos, o artesão da paz e cidadão planetário, bispo
brasileiro mais influente no Concílio Vaticano II, ao abrir um caminho de
esperança e renovação, na sua opção de profeta,
marcada pela coerência, em favor
dos sofredores, num desejo de mudança: “Se não engano, nós, os homens da
Igreja, deveríamos realizar dentro da Igreja as mudanças que exigimos da
sociedade”.
*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, escritor,
colunista, blogueiro, membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza,
da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente
da Previdência Sacerdotal - Pároco de Santo Afonso - geovanesaraiva@gmail.com
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