Mineiro tem cutucado onça com vara curta, ao patrocinar candidatura duvidosa no próprio estado.
Por David Paiva*
A pesquisa Datafolha divulgada no último domingo (6) aponta surpreendente resistência de Dilma. Apesar dos bem-sucedidos esforços de gente de casa em desacreditar o governo, como no caso Petrobrás-Pasadena, e a vitalidade demonstrada pela velha fera da inflação (que muitos julgavam morta), a presidente resiste.
No cenário mais provável, concorrendo com Eduardo Campos, Dilma caiu de 44% (fev. 2014) para 38% nas intenções de voto. Caiu, é verdade – mesmo assim continua com mais do dobro do primeiro colocado da oposição, Aécio Neves, que permanece estacionado em 16%. Com Marina Silva no lugar de Campos, ela, Marina, passa a liderar o bloco anti-governo, com 27% – mas Dilma mantém a dianteira de 12 pontos, com 39%. Neste caso, Aécio escorrega para terceiro lugar, com os mesmos16%.
O problema dos que acham que já é tempo de Dilma se mudar do Alvorada é a falta de alternativa perceptível. O grupo dos decepcionados cresceu (72% querem do próximo presidente ações diferentes), mas a desconfiança na oposição é tanta que a é mais bem cotada como agente de mudanças é a teatral Marina Silva (17%); Aécio fica com apenas 13%. A própria Dilma é considerada mais capaz de tomar novos rumos: 16% ficam com ela. E, curiosamente, a maioria dos que querem mudanças fica mesmo é com... Lula: 32%.
Todo essa desorientação, esses números hesitantes que sugerem um eleitorado vagando no mato sem cachorro, decorre de uma oposição que não soube ser oposição. Lula era em si uma proposta: mesmo assinando a tal Carta aos Brasileiros, em 2002, destinada a sossegar os ditos “mercados”, ninguém duvidava de que eleger o ex-operário era abrir um novo capítulo. Daí em diante, tudo girou em torno de Lula – principalmente a oposição a Lula. Esta oscilou o tempo todo entre o discurso tímido, quase pedindo desculpas por não apoiar, e o discurso rancoroso.
Agora, não há mais Lula. Fora de combate o carisma do ex-presidente, seria de se esperar que a oposição animasse o debate e oferecesse um banquete de críticas e propostas saborosas. Nada disso. O senador Aécio Neves, candidato do PSDB e líder da oposição no Senado, não consegue ser identificado claramente com o desejo de mudanças e nem ajuda a clarear a compreensão popular quanto à natureza das mudanças.
Aécio tem cutucado a onça com vara curta. Na sua própria base, ele patrocina uma candidatura bizarra; o candidato do PSDB ao governo de Minas é a personificação de um prato requentado: um certo Pimenta da Veiga. Vale fazer um esforço de memória: depois de passagem medíocre pelo cenário político, há mais de vinte anos esse senhor partiu para advogar em Brasília. Seu último feito em Minas foi renunciar à Prefeitura de Belo Horizonte a fim de concorrer ao governo do estado, em 1990. Mesmo tendo a seu favor a impopularidade extrema do governador da época, o notório Newton Cardoso, seu adversário, além de toda a força da Prefeitura de BH, Pimenta naufragou já no primeiro turno. Um assessor muito próximo diagnosticou: “O Pimenta não pode se aproximar de ninguém que perde voto.”
Aécio Neves, para conduzir seu partido e a oposição num momento vital para o amadurecimento político do país, não pode dar-se ao luxo de se enfraquecer em Minas. Ou Aécio é o candidato de Minas ou não existe Aécio. Mas é quase impossível levar adiante uma campanha estadual, base da campanha nacional. com o peso de uma candidatura a governador que beira o deboche. O eleitor pode não gostar da piada.
*David Paiva cursou História na UFMG, foi redator publicitário e é escritor.
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