terça-feira, 29 de abril de 2014

Amanda não queria morrer

Na troca de fotos virtuais, a adolescente não imaginava que falava com um adulto tão perverso.

Por Lev Chaim*

Quinze anos era muito jovem para morrer. Numa tarde, próximo à cidade de Vancouver, no Canadá, em 2009, quando então tinha 12, Amanda começou um inocente “chat” virtual, em companhia de amigas. Do outro lado da linha, o “jovem amigo virtual” a elogiou e pediu para que ela levantasse a blusa rapidamente. Num rompante de coragem, ela o fez.

Mal sabia ela, e todos nós, que esse amigo virtual, na verdade, era um holandês adulto, de 35 anos, que morava em Tilburg, há 15 quilômetros de onde moro. Há muito tempo que ele estava nesta de conquistas virtuais, convencendo seus interlocutores, menores de idade, a se despirem frente a telinha. A partir daí, com as fotos das meninas nas mãos, ele as chantageava.
Mas a canadense Amanda Todd não sabia nada disso. Um dia, ela trocou informações no facebook com um “amigo” que tinhas todos os seus dados pessoais, inclusive o endereço privado e a escola. Uma outra vez, ela recebeu uma foto, onde ela se reconheceu: mostrava seus peitos desnudos. A mesma também foi enviada aos colegas da escola e acabou chegando ao conhecimento da polícia.
Amanda, filha de pais divorciados, não entendeu nada quando agentes policiais  a procuraram. Foi ai que ela, seguindo as instruções da própria polícia, começou a checar os seus “amigos” virtuais. Dito e feito: um deles tinha a sua foto, como capa de seu site no facebook. Mas, como acontece nestes casos, o nome era falso, como também os dados ali publicados.
Por isto mesmo que a polícia canadense não conseguiu fazer nada. Só que agora, quando investigadores holandeses começaram a checar um sujeito holandês de 35 anos, suspeito de chantagear meninas virtualmente, eles descobriram tudo: Amanda também era uma das muitas vítimas.
Durante o período de incerteza, Amanda teve depressão, ataques dos nervos e mudou de escola várias vezes para evitar chacotas dos colegas. Mas, todas as vezes ele a encontrava. Nesta altura do campeonato, Amanda já havia completado 15 anos e estava desesperadamente só, vivendo um inferno.
Foi ai que ela teve a ideia de fazer um filme e postá-lo na internet. Através de papéis com mensagens escritas, ela contou a sua dor, o seu drama e a incompreensão de seus colegas, com frases do tipo: “Eles disseram: espero que ela veja isto e se mate!”. Ao finalizar, ela escreveu: “Não tenho ninguém. Necessito de alguém. O meu nome é Amanda Todd” (veja o filme abaixo).
Após uma semana à publicação do vídeo, ela cometeu o suicídio. “Já não aguentava mais a pressão, as acusações e os sorrisos falsos dos colegas”. Mas graças ao seu filme, o assunto foi discutido abertamente na sociedade canadense e pelas autoridades do país. O trauma foi grande e sensibilizou meio mundo.
Agora, o Canadá está a espera da extradição do holandês para julgá-lo pela morte de Amanda Todd. Na sua primeira troca de frases virtuais, Amanda jamais imaginou que do outro lado estivesse um adulto tão perverso e maldoso.
Se você já passou ou está passando por algo parecido, não se desespere e conte aos amigos, aos pais e tudo mais. Faça jogo aberto. Não alimente monstros pedófilos que só agem à sombra do medo. Eles não merecem a sua dor e muito menos a sua morte.
Dê um basta a esses predadores e lembre-se sempre de uma coisa: na adolescência, quase todos cometem algo que depois se arrependem. É a coisa mais normal do mundo. Tchau e um boa semana para todos vocês.
Confira o vídeo de Amanda Todd:
*Lev Chaim é jornalista, colunista, publicista da FalaBrasil e trabalhou 20 anos para a Radio Internacional da Holanda, país onde mora até hoje. Ele escreve todas as terças-feiras para o Dom Total.

Nenhum comentário:

Postar um comentário