domingo, 4 de maio de 2014

Corpo de dom Tomás Balduino é levado para a cidade de Goiás

04/05/2014 13h11 - Atualizado em 04/05/2014 13h11

Missa em homenagem ao bispo reuniu centenas de pessoas em Goiânia.

Fundador da Pastoral da Terra morreu devido a uma tromboembolia pulmonar.

Paula ResendeDo G1 GO

Missa em homenagem a dom Tomás Balduíno em Goiânia, Goiás (Foto: Fábio Castro/ TV Anhanguera)Missa em homenagem a dom Tomás Balduíno em Goiânia (Foto: Fábio Castro/ TV Anhanguera)
Centenas de fieis e amigos participaram da missa em homenagem ao bispo emérito da cidade de Goiás, Dom Tomás Balduino, na manhã deste domingo (4), em Goiânia. Com duração de duas horas, a celebração terminou por volta do meio-dia e contou com o discurso de representantes de diversas entidades, como da Comissão Pastoral da Terra (CPT), da qual ele foi fundador e conselheiro emérito. Após a missa, o corpo foi levado para a Catedral Nossa Senhora de Santana, na cidade de Goiás, a 142 quilômetros da capital.
Um cortejo acompanha o traslado do corpo de dom Tomás, que deve chegar ao município do interior por volta das 14 horas deste domingo. O velório está previsto para ocorrer até às 9 horas de segunda-feira (4) na catedral, onde o corpo será enterrado.
Aos 91 anos, dom Tomás morreu às 23h30 de sexta-feira (2), no Hospital Neurológico de Goiânia. Internado na unidade de saúde desde o dia 25, ele não resistiu a uma tromboembolia pulmonar.
No velório em Goiânia, uma das irmãs do bispo, Anunciata Balduino, lamentou a morte e disse que o irmão era muito querido por todos. "Ele era muito bom, muito amigo, muito brincalhão. É disso que a gente vai sentir saudade", afirmou.
Centenas de pessoas acompanharam a missa em homenagem a dom Tomás Balduíno em Goiânia, Goiás (Foto: Fábio Castro/ TV Anhanguera)Centenas de pessoas participam de velório
(Foto: Fábio Castro/ TV Anhanguera)
Luto oficial
Neste domingo, o governador Marconi Perillo (PSDB) decretou luto oficial de três dias. Em nota, o político afirmou que "Dom Tomás Balduino foi reconhecido internacionalmente por sua atuação firme e corajosa na luta a favor dos mais carentes e dos indígenas. Também ajudou pessoas perseguidas pela ditadura militar. Um exemplo ímpar de amor e doação ao próximo”.
A presidente da República, Dilma Rousseff, divulgou uma nota de pesar sobre o falecimento do bispo no sábado. "Foi com tristeza que soube da morte de dom Tomás Balduíno, incansável lutador das causas populares. Bispo emérito da cidade de Goiás, dom Tomás era um persistente", destacou.
A presidente ainda destacou a luta de dom Tomás pelos direitos humanos. "Personagem central na fundação da Comissão Pastoral da Terra [CPT] e do Conselho Indigenista Missionário [Cimi], figura destacada na oposição ao regime militar, dom Tomás foi defensor intransigente dos direitos dos índios, dos trabalhadores sem-terra e dos mais pobres. Em nome do governo brasileiro, rendo, nessa hora de dor, minhas homenagens a vida de dom Tomás", concluiu a nota.
Dilma também enviou o ministro chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, para representá-la no velório. "Para reconhecer exatamente o que ele representa para o Brasil, no sentido da construção da democracia, do resgate dos excluídos, do combate a toda a forma de preconceito, mas acima de tudo sobre esse homem que marca a ligação perfeita entre a fé e o engajamento social e político", afirmou o ministro.
Bispo emérito da cidade de Goiás, dom Tomás Balduino (Foto: Wildes Barbosa/ O Popular)Dom Tomás Balduino morreu aos 91 anos (Foto: Wildes Barbosa/ O Popular)
O prefeito de Goiânia, Paulo Garcia, afirmou que o exemplo de dom Tomás continuará vivo na busca de uma sociedade mais justa e fraterna.
A Comissão Pastoral da Terra divulgou nota lamentando a morte e dizendo que todos ficam "um pouco órfãos" com a morte do "bispo da reforma agrária e dos indígenas". O texto destaca que Dom Tomás lutou "pela defesa dos direitos dos pobres da terra" e nem "com a saúde debilitada e internado no hospital ele deixava de se preocupar com a questão da terra e pedia, em conversas, para saber o que estava acontecendo no mundo".
Internações
Dom Tomás foi internado no Hospital Neurológico um dia depois de receber alta médica do Hospital Anis Rassi, onde esteve dez dias hospitalizado.
Anteriormente, em 4 de novembro do ano passado, o bispo foi internado em Ceres, no norte do estado, por causa de uma arritmia cardíaca. Internado na Unidade de Terapia Intensiva, ele foi transferido no dia 7 para o Hospital Aniss Rassi, em Goiânia. Ele recebeu alta médica no dia 14 de novembro, após 10 dias hospitalizado.
Biografia
Dom Tomás Balduino nasceu em Posse, no norte goiano, em dia 31 de dezembro de 1922. Registrado como Paulo Balduino de Sousa Décio, ao ser ordenado religioso dominicano, em Minas Gerais, ele recebeu o nome de Frei Tomás, como era costume.
O religioso ainda cursou filosofia em São Paulo e Teologia em Saint Maximin, na França, onde também fez mestrado em Teologia. Em 1950, ele lecionou filosofia em Uberaba. Em 1951 foi transferido para Juiz de Fora como vice-reitor da então Escola Apostólica Dominicana e também lecionou filosofia.
Bispo emérito da cidade de Goiás, dom Tomás Balduino (Foto: Reprodução/ TV Anhanguera)Bispo durante procissão em Goiás
(Foto: Reprodução/ TV Anhanguera)
Em 1957, Dom Tomás foi nomeado superior da missão dos dominicanos da Prelazia de Conceição do Araguaia, no Pará, onde viveu de perto a realidade indígena e sertaneja. Na época a Pastoral da Prelazia acompanhava sete grupos indígenas. Para desenvolver um trabalho mais eficaz junto aos índios, o religioso fez mestrado em Antropologia e Linguística, na Universidade Nacional de Brasília, que concluiu em 1965. Estudou e aprendeu a língua dos índios Xicrin, do grupo Bacajá, e Kayapó.
O religioso foi nomeado Prelado de Conceição do Araguaia em 1965. Na época, ele defendeu os indígenas da ocupação de suas terras por empresas agropecuárias.
Em 1967, Dom Tomás foi nomeado bispo diocesano da cidade de Goiás, onde permaneceu durante 31 anos. Ao completar 75 anos, em 1999, ele apresentou sua renúncia e mudou-se para Goiânia. Dom Tomás Também ajudou pessoas perseguidas pela Ditadura Militar.
Dom Tomás foi personagem fundamental no processo de criação do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), em 1972, e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 1975.  A Assembleia Geral da CPT, em 2005, o nomeou Conselheiro Permanente. Por sua atuação firme e corajosa recebeu diversas condecorações e homenagens no Brasil e no exterior.
No dia 8 de novembro de 2006, Dom Tomás recebeu da Universidade Católica de Goiás (UCG) o título de Doutor Honoris Causa devido ao comprometimento do bispo com a luta pelo povo pobre.
Dom Tomás recebeu da Oklahoma City National Memorial Foudation o prêmio Reflections of Hope, em 2008. A organização considerou que as ações do religioso são exemplos de esperança na solução das causas que levam a miséria de tantas pessoas em todo o mundo.
A Universidade Federal de Goiás (UFG) também outorgou o título de Doutor Honoris Causa a Dom Tomás em 2012
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