terça-feira, 13 de maio de 2014

Perseguidos durante a Ditadura Militar ganham voz

Casos foram julgados nesta segunda-feira (12), na Dom Helder Câmara, pela Comissão da Anistia do Ministério da Justiça.

“Ficar livre de um pesadelo”. Assim o ex-militante Pitágoras de Oliveira Machado resume suas expectativas ao participar da 84ª Caravana da Anistia, que teve início na tarde desta segunda-feira (12), na Escola Superior Dom Helder Câmara. Promovida pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, a atividade irá julgar processos de 14 perseguidos pelo Estado durante a Ditadura Militar, entre eles o caso de Pitágoras.
“Lembro a data exata da minha prisão: 27 de outubro de 1968, pouco antes do Ato Institucional nº 5 (AI-5). Era do integrante do Comando de Libertação Nacional e estava protestando conta o regime militar no Brasil”, relembra Pitágoras. Emocionado, o ex-militante tenta descrever os três anos que passou na prisão. “Tempos difíceis. Ao ser libertado, morei dois anos no Chile. Voltei à Belo Horizonte, mas não consegui nenhum trabalho”, conta. Cada palavra é seguida por uma longa pausa. Os olhos marejados e a voz embargada, no entanto, parecem suficientes para traduzir o peso que as experiências tiveram sob sua vida. “A realidade é feita de dois lados. Não adianta mostrar apenas um deles”, completa.
De acordo com o deputado federal Nilmário de Miranda, que integra a Comissão da Anistia, o objetivo das Caravanas é justamente mostrar as atrocidades cometidas durante o regime militar, de forma transparente e pública. “Qualquer pessoa – as famílias, sobretudo – podem ver como se dá o julgamento. Não há nada secreto. E há também o aspecto pedagógico, que é discutir com a sociedade a Justiça de Transição”, explicou Nilmário, em entrevista ao portal Dom Total. O deputado destacou ainda a honra de ter a 84ª Caravana sediada em Belo Horizonte. “Principalmente em uma Escola de Direito, com foco nos Direitos Humanos, que leva o nome de Dom Helder Câmara. É uma grande satisfação”, completou.
Cerimônia de abertura
A conselheira Ana Maria de Oliveira, que representou o presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão, foi responsável por abrir os trabalhos da 84ª Caravana da Anistia. Em breve fala, destacou a história de resistência dos mineiros ao golpe militar e agradeceu à Escola Superior Dom Helder Câmara todo o apoio prestado. “Temos 14 processos em pauta, então não vou me alongar”, disse.
Por sua vez, a professora Valdênia Geralda de Carvalho, que representou a Escola, agradeceu a oportunidade de sediar evento “de tamanha magnitude” e falou sobre a luta de Dom Helder Câmara conta a ditadura.
“Neste momento, nada mais oportuno que lembrarmos a história de nosso patrono. Ele que também foi perseguido e calado pelo regime militar, foi chamado de ‘sacerdote vermelho’, sofreu inúmeras acusações. No entanto, sempre lutou de forma pacífica pela defesa dos Direitos Humanos. Foi quatro vezes indicado ao prêmio Nobel da Paz, mas sempre impedido de recebê-lo. É, para nós, constante fonte de inspiração”, afirmou. Em seguida, desejou êxito aos trabalhos e destacou que Escola estará sempre de portas abertas à Comissão da Anistia.
Já Antônio Romanelli, presidente da Comissão Estadual da Verdade (Minas Gerais), lembrou que eventos como este são “sempre fonte de muito aprendizado”. “Mais do que falar, estou aqui para ouvir. É um orgulho acompanhar mais uma Caravana da Anistia”.
Também participaram da cerimônia de abertura a deputada federal Jô Moraes, os conselheiros Marina Silva Steinbruch, Rodrigo Gonçalves, Vanda Fernandes e Rita de Miranda, entre outras autoridades. Em seguida, tiverem início os julgamentos, que prosseguem até às 20h desta segunda-feira, com transmissão ao vivo pela TV Dom Total. 
Redação Dom Total

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