segunda-feira, 12 de maio de 2014

Um caso de amor com o corpo

Paulo e Rodrigo Pederneiras, do Grupo Corpo, colocaram o Brasil no mapa mundial da dança.

Por Marco Lacerda*
Os irmãos Paulo e Rodrigo Pederneiras inseriram Belo Horizonte no mapa mundial da dança há quase 40 anos. O Grupo Corpo, que nos últimos tempos tem sido hóspede permanente do Canal de Madrid em suas turnês européias, é a companhia de dança contemporânea mais internacional e de maior prestígio do Brasil.

No momento os Teatro do Canal apresentam o programa ‘Bach/Parabelo’ de grande fulgor técnico executado por profissionais muito bem preparado e de grande vitalidade. As obras representam o estilo do conjunto, sua personalidade estética e são dirigidas por Paulo Pederneiras e coreografada por Rodrigo Pederneiras, com cenografia de Fernando Veloso.

O Grupo Corpo surgiu em 1975, quando os Pederneiras convidaram o coreógrafo argentino Óscar Araiz, que criou o espetáculo ‘Maria, Maria’, com música de Milton Nascimento. Foi o momento de dar maior estabilidade ao conjunto, dotá-lo de uma nova sede, o que aconteceu em 1978, e de abraçar ambições maiores. Foi assim que a personalidade do Corpo passou a ser caracterizada pela criação constante com um repertório sempre original e motivado pela buscas de uma estética própria.

Em 1981, Rodrigo passou a ser o coreógrafo titular residente e Paulo, o diretor artístico, responsável também pela iluminação de cada peça do grupo. Tudo estava pronto para o trabalho de criação. Eis a relação dos hits que marcaram a história do Corpo até agora: 1985: Prelúdios (Chopin); 1989: Missa do Orfanato (Mozart), 1992: 21 (Uakti/Marco Antônio Guimarães; 1993: Nazareth (Ernesto Nazareth); 1994: Sete ou oito peças para balé (Philip Glass); 1996: Bach; 1997: Parabelo (José Miguel Wisnik); 1998: Benguelê (João Bosco); 2000: O Corpo (Arnaldo Antunes) e 2002: Santagustin (Tom Zé).
Com Bach (1996), o estilo barroco do compositor Johann Sebastian Bach e as características rítmicas de Minas Gerais se fundem em uma peça de grande sensibilidade. A coreografia aborda um tecido de superfície, enquanto que com a música se pretende chegar se pretende chegar à essência das partituras do compositor alemão. Em Parabelo (1997), a estética das oferendas sagradas servem de inspiração para uma cenografia vizinha do surrealismo, onde se destaca a intensidade das tonalidades do figurino da estilista Freusa Zechmeister, criando um jogo de luzes e sombras sobre os corpos do bailarinos que terminam por desnudar-se do numa festa sensual e explosiva na qual sobressai o ritmo interior apoiado na temperatura das cores.
Por amor à dança
O Grupo Corpo foi fundado por puro amor à dança. Belo Horizonte carecia de tradição. Os irmãos Pederneiras lutaram pelo prestígio e por um estilo particular. O resultado é uma companhia de dança contemporânea essencialmente brasileira em suas criações, mas que abarca também a influência das correntes internacionais da atualidade. Seu primeiro espetáculo, ‘Maria, Maria’ foi um sucesso de público e crítica em todo o mundo e um verdadeiro recorde: percorreu 14 países e foi dançado em todo o Brasil, de 1976 a 1982.
As produções do Corpo tem a dimensão de óperas visuais onde reúnem-se, em perfeita colaboração, dança, artes plástica e som. Para isto, desde 1992, o Corpo criou um programa para desenvolver partituras a serem coreografadas e dançadas com exclusividade pelo grupo.
Confira um trecho do espetáculo "Parabelo", do Grupo Corpo:
*Marco Lacerda é jornalista, escritor e editor-especial do Domtotal


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