quarta-feira, 18 de junho de 2014

O pensamento de Manfred Max-Neef

Marcus Eduardo de Oliveira

O economista e ambientalista chileno, Manfred Max-Neef, é daqueles intelectuais que podem ser chamados de “alternativos e diferenciados” dos demais pensadores contemporâneos da economia, pois enxerga o ensino da economia fora dos domínios do pensamento econômico tradicional.

Um de seus principais argumentos é que a economia precisa servir as pessoas, e não as pessoas servirem a economia. A partir desse princípio, Max-Neef coloca que, em matéria de se pensar a atividade econômica, as pessoas devem ser colocadas em primeiro lugar.

A vida profissional e acadêmica de Max-Neef sempre foi muito intensa. A partir de 1957, depois de ter abandonado um alto cargo executivo que ocupava na Shell, passou a se dedicar aos estudos dos países em desenvolvimento. Foi professor na Universidade da Califórnia, em Berkeley.

Vencedor do Right Livelihood Award, conhecido como Prêmio Nobel alternativo, e formulador de uma matriz das necessidades básicas do homem, Max-Neef dedicou sua carreira principalmente para estudar causas e consequências dos problemas sociais e ambientais dos países em desenvolvimento da América Latina, registrando essas experiências no livro From the Outside Looking In: Experiences in Barefoot Economics (Do Olhar Exterior: Experiências em uma Economia Descalça), ainda não publicado no Brasil.

A partir dos anos 1990 formulou uma de suas principais ideias: a “Teoria do Ponto de Umbral”. Para Max-Neef, a partir de um determinado ponto de desenvolvimento econômico a qualidade de vida começa a cair.

Como e por que ocorre essa queda? Para Max-Neef, em todas as sociedades há um período em que o crescimento econômico leva a uma melhoria da qualidade de vida. Mas só até certo ponto. A partir daí, se há mais crescimento, a qualidade de vida tende a se deteriorar.

Essa teoria foi comprovada por meio de estudos realizados nos Estados Unidos, Inglaterra, Suécia, Áustria, Holanda, Dinamarca, Chile, Tailândia e Austrália. “Nesses países”, argumenta o economista “fizemos uma análise de um período de cerca de 50 anos. Comparamos a curva de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) per capita com a de outro índice, o Genuine Progress Indicator (GPI), e percebemos que, por volta dos anos 1970 e 1985, o PIB continuou aumentando, enquanto o GPI apresentou queda”.

Perguntado sobre o motivo que leva a qualidade de vida cair a partir de certo ponto, Max-Neef assim se posicionou: “(...) após determinado momento, o crescimento se torna antropofágico. Se o PIB de São Paulo for examinado durante 20 anos, vamos perceber que grande parte do investimento não é destinado para o desenvolvimento, mas para corrigir problemas gerados pelo crescimento excessivo da cidade, como poluição e segurança pública. Se São Paulo não tivesse crescido tanto, essa verba poderia ser aplicada em outros projetos de maior impacto positivo para o bem comum.”

Outro ponto interessante nos argumentos de Max-Neef é a crítica consistente que faz aos economistas tradicionais, ao confundirem crescimento com desenvolvimento. A esse respeito, diz que (...) em primeiro lugar, eles (os economistas tradicionais, o grifo é meu!) precisam entender que crescimento e desenvolvimento são duas coisas distintas. Assim como uma pessoa, uma economia pode parar de crescer e continuar se desenvolvendo. É um escândalo o modo como a economia vem sendo ensinada dentro das escolas e como é aplicada na prática. Como é possível educar um economista hoje com livros clássicos que não contêm palavras como ecossistema e Natureza? Como é possível aceitar que a economia se considere um sistema fechado, sem nenhuma relação com outros sistemas? Um economista não pode ignorar o funcionamento do ecossistema”.

Em síntese, as teorias econômicas defendidas por Max-Neef podem ser assim enquadradas: 

1. Um tipo de atuação política que coloca a economia a serviço das pessoas, e não o oposto; 

2. Buscar o fortalecimento de pequenas, médias e microempresas e do mercado interno que, mesmo inserido no comércio livre internacional, deve ser tido como prioridade; 

3. Encontrar na revisão de modelos e pensamentos atuais uma possível solução para os problemas sociais do mundo; 

4. Não se colocar como inimigo do mercado, mas sim das imposições neoliberais contidas em acordos internacionais e, consequentemente, fazer oposição a diretrizes de instituições como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio; 

5. Entender que uma possível consolidação do Acordo de Livre Comércio para as Américas (Alca) se trata de um desastre para países latino-americanos; 

6. Apoiar a adoção de um sistema econômico mais sensível e com valores que levem em conta as pessoas; 

7. Entender a humanidade como um organismo com nove necessidades básicas: afeto, liberdade, subsistência, compreensão, participação, criação, identidade, proteção e ócio.
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo | prof.marcuseduardo@bol.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário