quinta-feira, 26 de junho de 2014

Revista inglesa acusa papa de seguir Lênin

'Ele pode estar dando as respostas erradas, mas está fazendo as perguntas certas', diz The Economist.

Por Josephine McKenna

Primeiro, Rush Limbaugh e Glenn Beck rotularam o Papa Francisco de marxista. Agora, a revista The Economist está acusando-o de seguir Vladimir Lênin. Depois que o papa ligou a guerra ao capitalismo em uma entrevista ao La Vanguardia em junho deste ano, a revista inglesa o acusou de “estar seguindo Lênin”.

A respeitada revista financeira acusou o papa de seguir o fundador do comunismo soviético ao adotar uma “linha ultrarradical” contra o capitalismo.

Em seu blog, num post intitulado “Francis, capitalism and war: The pope’s divisions” [Francisco, capitalismo e guerra: As divisões do papa], a revista semanal questionou aspectos de uma longa e ampla entrevista que o pontífice deu ao jornal espanhol La Vanguardia.

“Ao postular uma relação entre o capitalismo e a guerra, ele [o papa] parece estar assumindo uma linha ultrarradical: aquela que segue, conscientemente ou não, Vladimir Lênin em seu diagnóstico do capitalismo e imperialismo como sendo a principal razão por que a guerra mundial eclodiu um século atrás”, diz a revista The Economist.

“Ele observa aquilo que chama de ‘a idolatria do dinheiro’ em alguns lugares e crianças famintas em outros (...). Conclui que os economistas devem estar deixando passar algum aspecto importante”, lê-se no blog. E continua: “Francisco pode não estar dando todas as respostas certas e nem tendo um diagnóstico exatamente correto, porém ele está fazendo as perguntas certas”.

Na terça-feira, o principal porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, não estava disponível para comentar sobre o assunto. O artigo, porém, irá provocar provavelmente um debate renovado sobre a doutrina social do papa e sua inquietação com o fato de que os mais ricos do mundo não estão tendo sucesso em acabar com a pobreza e desigualdade social.

“É cada vez mais intolerável que os mercados financeiros continuem a moldar o destino dos povos em vez de servir a suas necessidades, ou que uns poucos derivam uma riqueza imensa com a especulação financeira enquanto que muitos se encontram profundamente sobrecarregados devido às consequências daí advindas”, disse Francisconuma conferência vaticana sobre o investimento ético na semana passada.

Muitas vezes durante o seu papado, Francisco disse estar comprometido em ajudar os pobres e desfavorecidos. Na última terça-feira, o papa, de 77 anos, publicou em seu Twitter o desejo de que todos tenham um “trabalho decente”, o que, disse ele, é “essencial para a dignidade humana”.

No ano passado, Francisco rebateu acusações de críticos estadunidenses segundo os quais ele era um marxista. “A ideologia marxista é errada”, falou à ocasião. “Mas conheci muitas pessoas boas em minha vida que professavam o marxismo. Então, não me sinto ofendido”.
Limbaugh atacou o papa por causa de sua exortação apostólica “Evangelii Gaudium”, em que o religioso diz ser impossível superar a pobreza global sem, antes, abordar as causas estruturais da desigualdade e da especulação financeira.

"Isso é simplesmente marxismo puro saindo da boca do papa. Capitalismo desenfreado? Isso não existe em lugar algum”, afirmou Limbaugh a seus ouvintes. “Capitalismo desenfreado é uma frase socialista liberal que serve para descrever os Estados Unidos. Desenfreado, desregulado”.

Glenn Beck, analista americano conservador, rejeitou a decisão da revista Time em nomear o papa Francisco como a Personalidade do Ano, por causa da preocupação de Beck sobre o que este descreveu como as “tendências marxistas” do pontífice.
National Catholic Reporter, 24-06-2014.

Nenhum comentário:

Postar um comentário