As sóbrias palavras que o Papa usou nesta manhã, durante a conversa com a comunidade evangélica pentecostal do pastor Giovanni Traettino, em Caserta, fazem parte do caminho inaugurado por São João Paulo II, por ocasião do Jubileu do ano 2000. Naquela ocasião e para aquela ocasião, o Papa Wojtyla quis um gesto penitencial, um pedido de perdão pelas culpas e os erros cometidos pelos cristãos e pelos homens da Igreja, durante a história. A iniciativa, que provocou a fúria de alguns cardeais que temeram pedidos de perdão pouco fundados na realidade dos fatos históricos, correspondia ao coração de João Paulo II: a Igreja não tinha medo de reconhecer a infidelidade, os excessos, as instrumentalizações, a violência, que em nome do Deus cristão tinham sido perpetradas por séculos. Comportamentos que nada tem a ver com o Evangelho.
O pedido de desculpas do Papa Francisco aos pentecostais recordou, principalmente, o que aconteceu durante o fascismo, quando os pastores foram deportados e as Igrejas destruídas; em seguida, os movimentos evangélicos foram declarados “nocivos à identidade física e psíquica da raça” italiana. Muitos eclesiásticos se calaram e, inclusive, graças às denúncias de alguns párocos, a polícia secreta do regime deteve muitos evangélicos. As leis e as medidas foram aprovadas por cristãos, por batizados. Francisco, agora, pretende conter o uso muito exagerado que os católicos dão à palavra “seita” para se referir a estas novas realidades.
Para além da amizade pessoal entre Bergoglio e Traettino (que foi a que permitiu este encontro), Francisco se dirigiu novamente a Caserta para visitar a comunidade, porque conhece muito bem os pentecostais e, em geral, os novos movimentos carismáticos cristãos. São grupos que estão conquistando muitas pessoas, especialmente nos países da América Latina.
Desafiando os receios e contrariedades, tanto os que são vividos entre os católicos, como os dos pentecostais e de outros protestantes (que consideraram escandaloso que Traettino tenha recebido o Papa), Francisco demonstra que vê com muita atenção uma realidade que não pode continuar sendo ignorada e que, hoje em dia, como apontou o professor italiano Massimo Introvigne, conta com mais de 600 milhões de fiéis, ou seja, quase um terço dos cristãos no mundo (além de representar três quartos dos cerca de 800 milhões de protestantes). Uma realidade que está crescendo e que tem um grande dinamismo missionário.
Vatican Insider, 28-07-2014
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