terça-feira, 1 de julho de 2014

Playlist

Um pino de boliche, uma bola, uma artista de pés atados, um super-herói. O espetáculo ‘Playlist’, do Movasse - Coletivo de Criação em Dança, permite aos bailarinos se transformarem em tudo isso. Ou nada disso. Não há roteiro, coreografia ensaiada ou mesmo figurino fixo. Antes do espetáculo, o público tem a chance de escolher, entre sete ou oito temas, aquele que mais lhe atrai. A partir daí é só improviso.

Confesso que fiquei espiando a folha de votação. Uma garota simpática, de prancheta na mão, passava ouvindo os palpites daqueles que aguardavam no pátio do Museu Mineiro de Belo Horizonte (uma agradável surpresa), no fim da tarde do último sábado (28). A torcida nem era pela vitória do tema que eu havia escolhido, era contra o ‘time’ que estava ganhando. Não que fosse ruim ou chato, mas já conhecia (tive a chance de acompanhar o espetáculo em outubro do ano passado, no Teatro Alterosa). E eu queria algo diferente.

Mas não teve jeito, o eleito foi ‘ele’ mesmo. Nem a sofrida classificação do Brasil para as quartas de final aumentou os votos de um dos concorrentes, que tinha no título as palavras ‘verde amarelo’.

Agora, ingenuidade (ou esquecimento) pensar que os espetáculos poderiam ser parecidos. ‘São 45 minutos cênicos completamente improvisados’, já informava o material de divulgação. E os frutos de uma improvisação dificilmente serão os mesmos, pois lidam com a espontaneidade, a inspiração e a imprevisibilidade, com a troca entre o grupo e a plateia. Há muito treino e preparo por parte dos artistas, mas eles jogam com variáveis (no sentido mais literal da palavra).

A bailarina que antes se transformara em um verdadeiro ‘monstro do cabelo’ (a imagem é essa mesmo), fazendo sons e gruídos para as pessoas, reapareceu completamente diferente. Bela e elegante, com seu cigarro imaginário, como se estivesse andando pelas ruas de Paris. A mesma que, instantes depois, estava interagindo com a parede. E surgiu novamente, como uma alpinista se segurando com todas as forças para não cair do penhasco (no caso, o braço de um dos espectadores). Claro, são apenas impressões (outras pessoas podem ‘ter visto’ coisas diferentes).

Assim como as cenas e movimentos, a trilha sonora é construída a cada apresentação, sendo ‘surpresa’ para o público e para os bailarinos. Improvisos implicam riscos, mas nesse caso o resultado foi uma delícia. Bastava olhar para o rosto dos espectadores. Não tem como escutar ‘comprei um quilo de farinha, pra fazer farofa, pra fazer farofa’ sem abrir um sorriso. ‘Você não soube me amar’, ‘Última canção’ e as demais músicas retrataram perfeitamente o tema escolhido, assim como a movimentação criativa, leve e – por vezes divertida – proposta pelos bailarinos.

Enquanto os adultos eram mais discretos em suas reações, duas meninas dançaram ‘sentadas’ durante todo o tempo. E, para mim, se tornaram parte do espetáculo. Outro garoto incentivava um bailarino a dar uma cambalhota: “vai, vai”. Talvez por haver conversas improvisadas entre o elenco, ele se sentiu livre para interagir também.

De acordo com o grupo, ‘deixar que o público escolha (...) algumas composições cênicas, permite que a plateia participe como um norteador do espetáculo, tornando-o imprevisível e próximo ao lúdico destas pessoas’. No último sábado, essa proposta certamente foi atingida.

Nos dias 4, 5 e 6 de julho, o grupo faz novas apresentações de ‘Playlist’, no Memorial Minas Gerais Vale (Praça da Liberdade), sempre às 11h. A entrada é franca.

Convites

Além das sensações provocadas durante o espetáculo, o nome do grupo não deixa de ser um doce convite. ‘Mova-se’. O economista Marcus Eduardo, colunista deste portal, nos disse recentemente que a vida é ação. Acrescentaria: a vida é ação e movimento.

E por falar em ‘playlist’, quem se lembra a delícia que é montar uma delas? Na época das fitas cassetes, se tratava um verdadeiro teste de planejamento. Escolher qual música deveria abrir a série, qual se encaixaria melhor na sequência, calcular os minutos para a última não ficar pela metade. O CD facilitou um pouco as coisas, e agora – com pendrives, iTunes, Last.fm e cia – espaço não é mais problema. No entanto, montar uma boa playlist sempre será ‘uma arte’.

Rolling Stones

Rumores sobre uma possível passagem dos Rolling Stones pelo Brasil estão de volta. Desta vez, o jornal Destak confirma apresentação do grupo no início de 2015 (fevereiro ou março) no Rio de Janeiro. Será?

Palpites 

Este é o primeiro texto que publico no Dom Total. Semanalmente, reunirei neste espaço alguns palpites e impressões sobre dança, música, livros, lugares, pessoas. Não sou crítica profissional ou expert nesses temas (e não é meu objetivo). Sou apenas uma inquieta que já foi bailarina, já trabalhou em programa de TV sobre literatura, gosta de viajar, ir a shows e festivais (...).

Patrícia AzevedoÉ graduada em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com formação complementar em Ciências Sociais. Especialista em Gestão Estratégia da Comunicação pela PUC-Minas. Foi bailarina do Grupo Experimental 1º Ato e integrou a equipe do programa ‘Livro Aberto’ (atual Imagem da Palavra) da Rede Minas de Televisão. Atuou também, como jornalista, nas assessorias de comunicação da UFMG, do Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais, Assembleia Legislativa de Minas Gerais e Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar. É repórter do portal Dom Total desde setembro de 2008. 

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