“Sobretudo as mulheres que chegam de África relatam-nos itinerários parecidos ao tráfico de seres humanos”, explicou a religiosa, em entrevista à Agência ECCLESIA.
O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras revelou esta semana que desmantelou uma rede de tráfico de pessoas e auxílio à imigração ilegal, em Portugal.
A Congregação das Irmãs Adoradoras Escravas do Santíssimo Sacramento tem por missão o acolhimento de mulheres em situação vulnerável através de vários centros em Portugal onde chegam duas realidades de exploração, as mulheres que vieram acompanhadas por familiares e as “alegadamente ligadas a alguma rede de tráfico de pessoas”.
“É um percurso muito estranho mesmo, o que nos leva a crer que há aqui um itinerário de tráfico. Estamos convencidas de que isto é apenas uma gota no oceano, a ponta do icebergue”, acrescenta.
Em Portugal foi criada a Rede de Apoio e Proteção às Vítimas de Tráfico (RAPVT), a 21 de junho de 2013, coordenada pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, com mais de duas dezenas de organizações públicas e privadas com objetivos de “sensibilização”.
“É importantíssimo estarmos à mesma mesa a falar, o que podemos fazer, as perspetivas que temos, como fazer, até chegarmos a consensos”, explica a irmã sobre os encontros realizados.
A próxima reunião é em setembro, mas neste momento a RAPVT está a preparar ações e informação para o dia 18 de outubro, quando se assinala o Dia Europeu de Combate ao Tráfico de Seres Humanos, direcionadas para as vítimas.
“Focalizamos muito o trabalho nesse dia, mas tinha de ser todos os dias do ano, para que a sociedade tenha consciência disso”, alerta a irmã Júlia Bacelar.
Noutro âmbito estão também a preparar formações, para os técnicos, em cidades do interior de Portugal descentralizadas de Lisboa ou Porto.
O Observatório do Tráfico de Seres Humanos, tutelado pelo Ministério da Administração Interna, revelou que o número de crianças vítimas de tráfico também aumentou nos últimos três anos e que os aeroportos portugueses, de Lisboa e do Porto, são passagem para países como França, Bélgica e Reino Unido.
“Penso que ainda não são informações que estejam terminadas. Foi uma pontinha que apareceu agora, porque hão-de aparecer outras”, comentou a irmã Júlia Bacelar que elogia o trabalho do Observatório e pede mais meios para a polícia “fazer um trabalho de fundo, de investigação de terreno”.
A prevenção e a sensibilização contra o tráfico de seres humanos e exploração de pessoas, na opinião da entrevistada, são um trabalho “transversal” e que deve ser feito nos países de origem e de chegada.
“É preciso resolver os problemas que estão na origem – pobreza, conflitos familiares, guerras”, analisa a religiosa das Irmãs Adoradoras Escravas do Santíssimo Sacramento.
CB/OC
Agência Ecclesia
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