terça-feira, 22 de julho de 2014

Tratamento precoce contra HIV não evita ressurgimento do vírus, diz estudo

Pesquisa sugere que existem 'reservatórios virais' antes mesmo de HIV ser detectado no sangue.

Da BBC
Depósitos do vírus HIV foram encontrados nos tecidos no cérebro e intestinos (Foto: BBC)Depósitos do vírus HIV foram encontrados nos tecidos no cérebro e intestinos (Foto: BBC)
Uma pesquisa da Escola de Medicina de Harvard, nos Estados Unidos, indica que tomar medicamentos contra o HIV logo que o vírus é detectado não cura a infecção nem evita o ressurgimento da doença.
O estudo publicado na revista "Nature", realizado com macacos, sugere que "reservatórios virais" que se formam no organismo após a infecção surgem antes mesmo de o HIV ser detectado no sangue.
Esses depósitos de HIV nos tecidos do cérebro e no abodômen são considerados grandes obstáculos para se encontrar uma cura para a doença.
O uso de medicamentos antirretrovirais permite aos infectados manter o avanço do HIV sob controle, levando-os a ter uma expectativa de vida quase normal. Mas, se o tratamento com este medicamento é suspenso, o vírus acaba ressurgindo a partir destes depósitos.
As pesquisas internacionais agora estão se concentrando em eliminar o vírus destes reservatórios. Até agora, havia a esperança de que um tratamento precoce pudesse evitar a formação desses locais – mas a pesquisa de Harvard provou que essa suposição estava errada.
Dias e semanas
No estudo, macacos rhesus foram infectados com o equivalente do HIV para macacos, o SIV, ou vírus da imunodeficiência entre símios.
Os animais então passaram a receber medicamentos antirretrovirais três dias ou até duas semanas depois da infecção.
O tratamento foi suspenso em todos os casos depois de seis meses. No entanto, o vírus ressurgiu independentemente da data em que a terapia antirretroviral começou.
Com isso, os cientistas demonstraram que os reservatórios virais se formaram muito cedo.
"Nossos dados mostram que, neste modelo com animais, o reservatório viral foi criado substancialmente cedo depois da infecção, (mais do que) era reconhecido anteriormente", afirmou Dan Barouch, professor de medicina na Escola de Medicina de Harvard.
"Descobrimos que o reservatório se estabeleceu nos tecidos nos primeiros dias de infecção, antes até de o vírus ser detectado no sangue", acrescentou.
Decepção
Recentemente um bebê que nasceu nos Estados Unidos com o HIV e que todos acreditavam ter sido curado com um tratamento iniciado horas depois do nascimento, passou por exames que confirmaram o ressurgimento do vírus.
O bebê recebeu os medicamentos nos primeiros 18 meses de vida e depois, o tratamento foi suspenso.
Inicialmente o vírus não retornou e havia esperança de que, neste caso, ela tivesse sido curada.
Mas, na semana passada, foi anunciado o ressurgimento do vírus na menina, que atualmente tem quatro anos.
"A notícia triste do ressurgimento do vírus nesta criança ressalta ainda mais a necessidade de compreender o reservatório precoce (...) de vírus que se estabelece rapidamente depois da infeção por HIV nos humanos", disse Dan Barouch.
"Estes dados indicam que o reservatório viral pode ser criado substancialmente mais cedo do que se pensava, uma descoberta grave que coloca mais obstáculos aos esforços de erradicação do HIV", afirmaram Kai Deng e Robert Siciliano, da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, na cidade de Baltimore.
"Apesar de o tratamento precoce não evitar a formação do reservatório, ele mostrou, de forma consistente, ser capaz de reduzir o tamanho deste depósito", acrescentaram.

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