sábado, 9 de agosto de 2014

Cearense convertida ao islamismo irá à Faixa de Gaza para ser voluntária

Estudande quer levar 'afeto' e itens de necessidade básica.

Karine visitou a região pela primeira vez em 2012.

Diana VasconcelosDo G1 CE
Kerine embarca em 16 de agosto (Foto: Diana Vasconcelos / G1 CE)Karine mora em Fortaleza e viaja em 16 de agosto
(Foto: Diana Vasconcelos/G1)
Convertida ao islamismo há 12 anos, uma cearense decidiu ser voluntária na Faixa de Gaza, área de conflito entre palestinos e israelenses. Karine Gercês, 40 anos, embarca na próxima semana e espera poder levar um pouco de "afeto e itens de necessidade básica" para as vítimas dos combates. “Vamos ajudar da forma que pudermos”, afirma.
Os bombardeios na Faixa de Gaza foram intensificados no último mês. Desde o primeiro dia da ofensiva militar na área até o início da trégua de 72 horas em 5 de agosto, 1.875 pessoas morreram no lado palestino, segundo o ministério da Saúde. Do lado israelense, morreram 64 soldados e três civis. O período de trégua de 72 horas terminou às 2h desta sexta-feira (8), horário de Brasília.
Karine afirma saber da complexidade do conflito e dos riscos que os voluntários correm e nao esconde o medo. “Medo a gente tem, sempre vai existir. Mas a gente tem que enfrentar o medo e confiar em Deus”, disse a estudante que deve seguir para a Faixa de Gaza com um grupo de voluntários levando água, roupas e medicamentos.
Viagem e planejamento
A estudante de relações internacionais e integrante da Organização Não Governamental Wasaa, Karine embarca em 16 de agosto para São Paulo e, no dia 18, para a cidade do Cairo, no Egito. No local, ela vai reunir as doações em dinheiro arrecadadas no Ceará e as de outros voluntários, além de comprar itens para levar à Faixa de Gaza. As doações e o grupo de viajantes devem chegar às vítimas em um comboio.
Apesar do planejamento, a cearense não sabe quando retorna ao Brasil, pois a entrada e saída do território depende da autorização do Egito. “É ele que autoriza entrada e saída do país, nós temos a autorização para entrar [no Egito]”, explicou. Karine, que classifica a intensificação do conflito como uma “brutalidade”, disse ter visitado a Palestina em 2012 e a “gentileza” tem servido como um estímulo para o retorno como voluntária. “Foram todos muito gentis, muito educados”, conta.
Raj
Em novembro de 2012, Karine embarcou para o Líbano após ganhar, como um presente, as passagens de uma família libanesa. No país, ela afirma ter conhecido diversos muçulmanos que a ajudaram a seguir para o Cairo e, em seguida, para a Palestina, para que ela pudesse realizar a peregrinação a Meca, evento denominado Raj. “Todo mundo me ajudou, eu fui abençoada”, disse. A estudante passou 60 dias no local e se emociona ao recordar a viagem.
Karine em sua primeira vistia a Faixa de Gaza, em 2012. ela realizou a peregrinação a Meca. (Foto: Karine Garcês/Arquivo Pessoal)Karine em sua primeira vistia a Faixa de Gaza, em 2012. Ela realizou a peregrinação a Meca. (Foto: Karine Garcês/Arquivo Pessoal)
“Apesar de estudar o conflito eu vi que tinha uma visão ocidental sobre o assunto, me surpreendeu bastante porque tudo que eu imaginava de destruição, a realidade era pior”, disse a cearense. “Não sabia que as pessoas passavam mais de 10 horas por dia sem energia. Isso me lembrou a época que eu era criança no interior, que tinha uma lamparinazinha”.
Karine conta ainda sobre a alegria dos palestinos ao descobrir visitantes brasileiros. “Eu entrei numa loja para comprar os broches [para prender o véu] e o homem me perguntou de onde eu era. Quando falei que era do Brasil ele ficou muito feliz e quis me dar o broches e outras coisas. Ele tinha acabado de perder três membros da família no conflito”, conta ela, emocionada.
Conversão
A cearense disse ter tido o primeiro contato com o islamismo aos 14 anos, na escola, em uma aula de história. Moradora do Distrito de Antônio Diogo, no município de Redenção, ela afirma não ter encontrado meios para pesquisar sobre o assunto. As dificuldades enfrentadas na cidade, no entanto, ajudaram Karine a descobrir e praticar a outra vocação, o voluntariado.
A estudante afirma se lembrar dos problemas enfrentados em Redenção durante a seca de 1982. “A gente estudava em escola pública porque não tinha escola particular naquela época. Mas meu pai não permitia que a gente fizesse consumo da merenda escolar porque ele dizia que a gente tinha em casa e não precisava, que deixasse para as pessoas que não tivessem”, conta.
Católica, foi lna igreja onde a adolescente conheceu o voluntariado oficialmente. “Continuei católica praticante. Participava das ações da igreja e daí veio a história do voluntariado. Mas eu sempre achei que faltava alguma coisa”, afirma. Com o passar dos anos, Karine conta que teve mais acesso a informações sobre o islã e, aos 24 anos, começou a estudar a religião. Aos 28 anos se converteu. “É  como se eu tivesse encontrado a minha outra metade”, disse.
A família estranhou a mudança, mas a cearense garante que a nova religião não a afastou de parentes ou amigos nem eliminou os cuidados com a aparência física. “Acho que eu fiquei  mais vaidosa. Porque eu chamo a atenção das pessoas pela forma como eu me visto [sempre com véu e mangas longas], então eu fiquei mais cuidadosa. Se eu estou desarrumada, as pessoas vão associar à religião”, afirma.

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