quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Desigualdade social piora economia dos EUA

Diferença cada vez maior entre americanos torna país vulnerável a crises, dizem especialistas.

Por Josh Boak

Economistas reclamam há algum tempo que a desigualdade cada vez maior nos Estados Unidos torna mais difícil para o país recuperar-se da Grande Recessão.

Agora, uma análise da empresa avaliadora de risco de créditos Standard & Poor's (S&P) soma-se a esse argumento: a diferença cada vez maior entre os americanos mais ricos e os demais tornou a economia mais propensa a ciclos de grandes altas e quedas e desacelerou o processo, em seu quinto ano, de recuperação da recessão.

As disparidades econômicas parecem estar alcançando extremos que "precisam ser observados, porque estão prejudicando o crescimento", segundo Beth Ann Bovino, economista-chefe para os EUA da S&P.

A crescente concentração entre o 1% dos americanos de maior renda foi um dos motivos que levou a S&P a reduzir as estimativas de expansão da economia. A agência projeta que, em parte por culpa da iniquidade, a economia vai crescer a um ritmo anual de 2,5% nos próximos dez anos, abaixo da previsão feita há cinco anos, de 2,8%.

O informe da S&P aconselha não usar os impostos para tentar encolher a desigualdade. Sugere, em vez disso, que um maior acesso à educação ajudaria a aliviar as disparidades.

Parte do problema é que os níveis de formação educacional ficaram estagnados nas últimas décadas. Mais escolaridade normalmente se traduz em maiores salários. A S&P estima que a economia dos EUA cresceria anualmente 1,5 ponto percentual a mais - cerca de US$ 105 bilhões - nos próximos cinco anos, se o trabalhador médio americano tivesse completado um ano a mais de ensino.

Em contraste, a S&P conclui que altos impostos para tentar reduzir a desigualdade poderiam acabar com os incentivos para as pessoas trabalharem, assim como levar empresas a contratar menos funcionários, pelos custos envolvidos.

O informe baseia-se em dados do Escritório de Orçamento do Congresso dos EUA (CBO), do Fundo Monetário Internacional (FMI) e de economistas do mundo acadêmico para explicar por que a diferença de renda pode afetar o crescimento. Muitos consumidores tendem a ficar mais dependentes de dívidas para continuar gastando, piorando, portanto, os ciclos de altas e quedas. Ou restringem seus gastos, com o crescimento aumentando apenas de forma modesta, como ocorreu na atual recuperação.

Dados sobre impostos recolhidos como parte do projeto World Top Income Database revelam até que ponto a desigualdade econômica aumentou. A faixa de 1% dos americanos de maior renda teve renda média de US$ 1,3 milhão em 2012, segundo os dados mais recentes disponíveis. A renda média salta para US$ 30,08 milhões entre o 0,01% de maior renda.

Desde 1913, a renda média do 1% dos americanos de maior renda, ajustada pela inflação, aumentou em sete vezes. O crescimento da renda média dos 90% de menor renda, descontada a inflação, foi de apenas três vezes desde 1917, sendo que nos últimos 13 anos houve declínio.

Nem todos os economistas, no entanto, concordam em quanto a desigualdade desacelera o crescimento ou mesmo que ela de fato tem esse efeito. O economista Greg Mankiw, da Universidade Harvard, escreveu em estudo divulgado em 2013 que "a evidência é de que a maioria dos muitos ricos consegue isso fazendo contribuições econômicas substanciais, não enganando o sistema".

A S&P, contudo, contesta a ideia de que a alta da maré faz todos os barcos subirem: "Um bote salva-vidas carregando poucas pessoas, mas cercado por muitas ainda na água, corre o risco de virar".
 
Valor, 06-08-2014.

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