Missionário fala sobre a expectativa em torno da visita do papa Francisco à Coreia.
Por Daniele Rocchi
"O papa aterrissará só a uns 500 metros de nós. Não é uma distância enorme. Vê-lo entrar pela porta do nosso Centro seria realmente uma grande bênção!": é esta a esperança que alimenta padre Vincenzo Bordo, natural da província italiana de Viterbo (ao norte de Roma), missionário dos Oblatos de Maria Imaculada, 24 anos no Coreia do Sul e 22 anos em Seongam, onde fundou a “Casa de Ana”, um centro – completamente autofinanciado – para acolher os sem-teto, idosos sozinhos, e meninos e jovens de rua. Um trabalho que lhe mereceu o Prêmio Ho-Am 2014, o Nobel da Coreia do Sul.
Entrevistado por telefone, responde: “Estava lavando os pratos”, diz sorrindo do outro lado da linha. Assunto da conversa, a iminente viagem apostólica de papa Francisco à Coreia de 14 a 18 de agosto. “Sei bem que a visita ao nosso centro não está na agenda, mas o pontífice ama surpreender e, quem sabe, não decide vir nos cumprimentar logo após sua chegada”, afirma com esperança. E à espera de uma “brecha no programa do papa”, o sacerdote fala de outra espera, a de um País, a Coreia do Sul, da sociedade “complexa, ve4loz e inteligente que deixa atrás de si quem não consegue acompanhar. São exatamente estas pessoas que encontro e que todos os dias nos procuram – uma média de 500 presenças chegando até 700 – para terem o nec3essário para viver e para serem ajudadas na reinserção na sociedade”.
Que acolhida terá Francisco na Coreia?
“Existe grande expectativa por esta visita. Francisco é uma pessoa estimada e ouvida por todos. Espera-o um país muito rico, que ainda não viveu a crise econômica que interessou a Europa, mas também muito secularizado. Neste sentido, a diferença com o Velho Continente é mínima. É só pensar que na década de 1990 a frequência dominical à missa era de 80% dos católicos e hoje as estatísticas apontam um pouco mais de 20%. A Coreia também se caracteriza por uma grande competitividade na área trabalhista e educacional, que deixa para trás muitas pessoas, em sua maioria jovens, idosos e doentes. Pessoas que vivem à margem da sociedade e que acolhemos em nossos centros. Não se trata de oferecer só alimento, mas de devolver uma nova dignidade a pessoas que sofrem”.
Por este trabalho o senhor recebeu o prêmio Ho-Am 2014, o Nobel da Coreia do Sul...
“Em relação a este prêmio preciso esclarecer que foi criado pela multinacional Samsung que se apresenta areligiosa.O fato que tenha sido atribuído, pela primeira vez, a um padre católico, e além do mais estrangeiro, significa que quer reconhecer o compromisso dos católicos ao lado dos pobres, a partilha, a acolhida e, afinal, a validade do ensinamento de Cristo. A evangelização não é só uma pintura de Cristianismo, mas o conjunto dos valores evangélicos que se inculturam na sociedade leiga”.
O papa vai visitar o Centro de recuperação para pessoas portadoras de deficiências físicas na “House of Hope” em Kkottongnae. O que significa este gesto para a Coreia?
“Kkotognae é um centro muito grande que hospeda umas 4 mil pessoas, portadoras de deficiências, sem-teto, pessoas abandonadas. Para elas, o Papa representa um sinal de esperança e de proximidade. Para a Coreia, no entanto, é um alerta para não deixar para trás ninguém, em particular os jovens”.
À luz de sua experiência, considera que a situação juvenil seja uma das periferias existenciais mais problemáticas da Coreia de hoje?
“É preciso dizer que os jovens bem preparados, que tem uma boa base, na Coreia conseguem ter sucesso. Mas quem é órfão, que é abandonado, que não tem uma boa base familiar é marginalizado. Em Seongam mora um milhão de pessoas e, em nossos centros assistimos atualmente uns 200 garotos e adolescentes, mas é ainda pouco com relação aos 2 mil jovens que todo ano deixam as escolas e vão ver nas ruas. Um desafio enorme que ninguém quer enfrentar ou não sabe como agir. O mal-estar entre os jovens coreanos está aumentando e isto está exigindo respostas fortes. Talvez chegou o momento para a Coreia de diminuir a marcha e permitir a estas pessoas voltar com plena dignidade. O objetivo não é o dinheiro, mas a pessoa. O Papa, acredito eu, vai falar disso de maneira muito clara. Será necessário colocar em prática este ensinamento”.
E como?
“Será decisivo o envolvimento dos leigos católicos. Como aconteceu na origem do Cristianismo na Coreia, mas deverá ser um itinerário partilhado entre rebanho e pastores. O aumento dos cristãos na Coreia, é preciso lembrar isso, se deu ao fato que a Igreja sempre esteve ao lado das pessoas, sofrendo com elas também durante a ditadura militar. Outro alicerce é representado pelos mártires desta nação. O Papa vem também para beatificar Paul Yun Ji-Chung e 123 companheiros mártires. Redescobrindo seus mártires, os coreanos redescobrem suas raízes de fé”.
Mais uma pergunta padre Vincenzo: se o papa, por ventura, visitasse seu centro em Seongam…?
“Agradecer-lhe-ia por tudo. Ficaria muito agradecido por tudo o que está fazendo. É motivo de esperança para muitos pobres e para outros tantos, padres e voluntários, que trabalham nas periferias em diferentes partes do mundo. Ele nos fortalece na coragem e nos exorta a irmos adiante. As portas de ‘Casa de Ana’ estarão sempre abertas para acolhê-lo. Nós o esperamos!”
SIR
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