quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Que venha uma tsunami de afeto

É preciso fabricar mais e mais afeto. Rápido e rasteiro, aqui e agora

Por Ricardo Soares*

André Barbosa Filho, colega de trabalho, profissional com muitas qualidades e o defeito de ser são paulino, escreveu ontem em sua rede social que tem notado que “o mundo sofre uma nova onda de barbárie” como denotam as centenas que morrem todos os dias em bombardeios, acidentes de trânsito ,decapitações extremistas, conflitos sangrentos envolvendo racismo entre compatriotas, mulheres violentadas, crianças violadas.
O André observa com propriedade que está faltando amor e compaixão. A tolerância é zero e não existe amor aparente nem em São Paulo, Rio, Brasília, Salvador, Belo Horizonte, Fortaleza e qualquer outra grande capital nativa e internacional. A era da intolerância e dos extremismos nos leva a tolerância zero, à paciência zero, ao desrespeito total. Essa escalada se observa inclusive nos embates – muitas vezes nem ideológicos- eleitorais nas redes sociais onde o simples fato de você votar num candidato o transforma numa ameba estúpida na visão de partidários de outro candidato. Isso sem falar na descortesia de desejar a morte alheia, lançarem boatos hediondos, esgrimirem argumentos boçais. Tá difícil e como lembra o André está faltando amor e compaixão.
Fica mesmo difícil trilhar os caminhos do otimismo aqui no Brasil e no planeta mas ( também lembra o André) existem exemplos nobres de altruísmo, de doação pessoal como a dos médicos voluntários no combate ao ebola na África que alheios ao perigo que sofrem comparecem para ajudar, se solidarizar. A nova onda de barbárie precisa mesmo ser rebatida com tsunamis de afeto. Abraços são mais potentes, beijos são mais “calientes” e a felicidade não é um revólver quente como já lembrava o finado Lennon, esse também extinto pela boçalidade humana. Dá pra ser otimista sim, com o perdão da pieguice aqui embutida, quando vemos os olhares infantis , os amores senis e o sempre lembrado amor incondicional dos cães. Dá pra ser otimista quando vemos camaradagem nos ônibus, trens e metrôs , quando enxergamos cordialidade no trânsito. É preciso fabricar mais e mais afeto. Rápido e rasteiro, aqui e agora. Comece tentando falar bom dia para aquele seu vizinho amargo. Mesmo que isso lhe custe o silêncio como resposta você estará fazendo a sua parte. Antes uma marolinha de afeto do que nada.
* Ricardo Soares é diretor de TV, escritor, roteirista e jornalista. Titular do blog Todo Prosa (www.todoprosa.blogspot.com) e autor, entre outros, dos livros Cinevertigem, Valentão e Falta de Ar. Atualmente diretor de Conteúdo e programação da EBC- Empresa Brasil de Comunicação.

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