Padre Geovane
Saraiva*
A Santa Igreja Católica
celebra nesse mês de outubro, o mês das missões. Neste sentido, somos chamados
a refletir sobre a vida dos Padroeiros das Missões, de um lado São Francisco
Xavier com uma vida inteiramente Apostólica, de outro, Santa Teresinha, com uma
vida essencialmente Contemplativa.
˜De acordo com o pastor dos empobrecidos, Dom
Helder Câmara, “Missão é partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a
crosta do egoísmo que nos fecha no nosso Eu”.
É exatamente esta afirmação que nos faz refletir sobre São Francisco
Xavier (1506-1552), considerado o Apóstolo do Oriente, “o gigante da história
das missões”. Ele era um sonhador, cheio de ambição e vaidade! Homem talentoso
e de inteligência privilegiada, estudante da Universidade de Paris, doutorou-se
em 1526. Ao iniciar sua vida acadêmica em Paris, logo conheceu Inácio de
Loyola, com quem estabeleceu uma sólida e estreita relação de amizade. Foi
justamente essa amizade e as constantes conversas fraternas, como também uma
intensa vida de oração, que o transformaram por completo, passando de sonhador
e idealista para um realista, fato evidenciado na sua opção pelo projeto de
Nosso Senhor Jesus Cristo, dizendo não à glória, vaidades e riquezas do mundo.
Seus sonhos e
projetos eram antagônicos. Contudo, o mestre e fundador da Companhia de Jesus,
na sua fé e confiança inabalável, insistentemente suplicou a Deus Pai, até seduzi-lo.
“Que adianta o homem ganhar o mundo inteiro e perder sua alma?” (cf. Mt 16,
26). A frase do Mestre e Senhor, dita por Inácio de Loyola foi penetrante e
incisiva, marcando profundamente a mente e o coração do jovem Francisco Xavier,
dobrando sua resistência e entregando-se inteiramente a Deus, a ponto de tê-lo
por seu incondicional e fiel discípulo, compreendendo sua decisão como um
mistério insondável, na assertiva de Dom Helder: “Missão é partir, mas não
devorar quilômetros. É, sobretudo, abrir-se aos outros como irmãos,
descobri-los e encontrá-los”.
Também para
Francisco Xavier missão foi deixar sua terra e partir: “E, se para encontrá-los
e amá-los, é preciso atravessar os mares e voar lá nos céus, então missão é
partir até os confins do mundo”, porque a Índia o esperava, na catequese de
crianças e adultos, os quais sempre em número elevado corriam para receber os
sacramentos. Levou por toda parte por onde passou a mensagem do Evangelho.
Visitou Ilhas longínquas, penetrou no Japão, formando sólidas comunidades de
fé, de tal modo que sua vida se caracterizou no imperativo de enviado do Pai,
quando disse: “Ide pelo mundo inteiro e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc
16, 15) e também no lema da Campanha Missionária do ano 2013: “A quem eu te enviar,
irás” (Jr 1, 7). Seu inigualável ardor missionário chegou a ponto de se
consumir em favor do anúncio do Evangelho, pois, em um curto espaço de tempo
(10 anos), visitou países e catequizou em diversas nações, tornando-se quase
impossível imaginar tal prodígio e façanha nos dias de hoje. Podemos contemplar
maravilhados e agradecidos, aos olhos da fé, seu trabalho de gigante.
Antes de morrer,
aos 46 anos, escreveu a Inácio de Loyola: “São muitos os que não se tornam
cristãos, simplesmente por falta de evangelizadores e missionários”, tendo na
mente e no coração o que o Apóstolo Paulo anunciou com grande esperança: “Como
poderão ouvir sem pregador? E como poderão pregar se não forem enviados?” (Rm
10, 14-15). Queria ir pelas universidades e por toda parte, gritando como um
louco e sacudindo as consciências daqueles que se comportam e agem mais pela
razão do que pela fé, clamando: “Como é enorme o número dos que são excluídos
do Reino, por vossa culpa!”. Ele é considerado o missionário da China pelo seu
ardente desejo e vontade de anunciar o Evangelho àquele povo, chegando a dizer:
“Se eu não encontrar um barco para ir à China, vou nadando, mas eu vou”.
Tenho a profunda
convicção de que Santa Teresinha fundamentou a sua vocação contemplativa e
missionária na Palavra de Deus, no mesmo mandato de Nosso Senhor Jesus
Cristo: “Ide pelo mundo inteiro e pregai e Evangelho a toda criatura” (Mc 16,
15), oferecendo-lhe a sua curta existência, ao colocar no coração da Igreja sua
silenciosa, alegre e generosa doação, como uma perfeita oferenda. Sua
extraordinária atividade consistiu em realizar a vontade de Deus, começando nas
pequenas coisas, como afirma o Evangelho: “Quem é fiel nas coisas pequenas também
será nas grandes” (Lc 16, 10). Ela que não implantou obras, as quais merecessem
aplausos das pessoas e do mundo. Também não fundou mosteiros como fez Santa
Teresa de Jesus (Teresa D’Ávila) e também não abraçou o anúncio do Evangelho,
através da profecia, do ardor, do entusiasmo e do despojamento, na renúncia e
doação generosa, a exemplo do apóstolo do Oriente, São Francisco de
Xavier. Santa Teresinha quis mostrar ao
mundo o quanto é importante e salutar a aceitação das nossas próprias
limitações e da nossa pequenez. Que não devemos nos envergonhar da nossa
humanidade. Não há nada de especial e extraordinário na vida dessa monja, a não
ser a sua simplicidade, humildade e confiança inabalável no amor misericordioso
de Deus e Pai.
Seu jeito de
viver consistiu na grandiosa e inigualável busca da vontade de Deus, de tal
modo foi, que nos dias de hoje é considerada a maior Santa dos tempos modernos.
Santa Teresinha morreu consumida pelo amor, prometendo que faria descer sobre a
terra uma contínua chuva de rosas. Ela a realizou e continua a realizar essa
promessa, vivendo na presença de Deus, realidade inexprimível e indizível, nos
incontáveis milagres, compreendido a partir da Palavra da verdade e no Espírito
santificador. Para a nossa reflexão, eis o seguinte pensamento da padroeira das
missões: “Ó Jesus, meu Amor! Encontrei finalmente a minha vocação: a minha
vocação é o Amor... Sim, encontrei o meu lugar na Igreja, e esse lugar, ó meu
Deus, fostes Vós que me destes... No coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o
Amor... Assim serei tudo! Assim o meu sonho será realizado!”.
Agradecemos ao
nosso bom Deus, por São Francisco Xavier, Padroeiro das Missões juntamente com
Santa Teresinha do Menino Jesus, Padroeira das Missões. Ele, criatura de Deus,
apaixonado pelo Reino, com uma disposição interior para o trabalho missionário,
com seu jeito de viver e testemunhar a fé que professou, ao plantar a semente
do Evangelho no Oriente. Ela, que nos ensina que a oração é o sustento da nossa
ação missionária, e que o sucesso no nosso trabalho depende da nossa íntima e
estreita união com Deus, na qual a contemplação da face de Deus é a arma
imprescindível e poderosíssima, no sentido de sensibilizar as pessoas na realização
de seus sonhos e projetos. Que a Igreja, sacramento de salvação, continue
corajosamente e com grande sabedoria e ardor, a anunciar o Evangelho da salvação,
aos homens hodiernos, sem nunca perder de vista que a essência da missão é partir
até os confins do mundo.
*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, escritor, colunista, blogueiro,
membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, da Academia de Letras
dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal
- Pároco de Santo Afonso - geovanesaraiva@gmail.com
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