segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Idade da maturidade, idade da sabedoria

24/11/2014  |  domtotal.com

Quem já está na Idade da Sabedoria sabe com clareza que muito pouco sabe.

Por Evaldo D'Assumpção*
        
Apesar de muitas controvérsias, parto do pressuposto de que a adolescência vai dos 12 aos 18 anos, e a juventude dos 18 aos 29 anos. Da mesma forma considero o período dos 30 aos 60 anos como o tempo adulto, e depois dos 60, o tempo de se saber idoso. Até os 30 anos o ser humano médio vive o período de formação física, mental, social e espiritual. Por isso é o tempo por excelência para se investir intensamente e com todos os recursos, na educação da pessoa. Tanto no que diz respeito aos conhecimentos básicos, como na formação técnica, profissional e, sobretudo cívica e ética. Com toda certeza, cada centavo investido nessa formação resultará em enormes lucros no que diz respeito ao cidadão que será formado. Para ele próprio, para a sociedade, para o planeta, moradia comum de todos os humanos.

Cada indivíduo que passa por esse período sem receber tal formação ideal, terá enorme probabilidade de vir a ser um bandido, um parasita, um peso para a comunidade. Com raríssimas e honrosas exceções. Basta olhar em volta, em nossa pátria amada Brasil.

Aos 30 anos a pessoa termina sua conformação e entra na fase da maturação. Tudo o que ela recebeu até então vai ser maturado, e esse processo obviamente estará relacionado com sua matéria original e com o que lhe foi dado – ou conquistado. Sejam valores bons, sejam comportamentos ruins, negativos, tudo será progressivamente metabolizado pela vivência e convivência diuturna, pelas influências que receberá das pessoas, do meio ambiente, e especialmente dos diferentes meios de comunicação. Portanto ocorrerá também a maturação do mal, o amadurecimento da esperteza, da mentira, do cinismo, da astúcia, da desonestidade.

A maturação corresponde, grosso modo, à fermentação da massa que recebeu diversos ingredientes, foi misturada, manipulada e homogeneizada, e agora cresce ou murcha, conforme a qualidades dos seus elementos e da temperatura, iluminação e umidade de onde é colocada para fermentar. Podemos então imaginar a qualidade da maturação moderna, orquestrada pelas telas mágicas das TVs, dos iPods, Tablets, iPhone e assemelhados, que hoje povoam quase que a totalidade da vida dos jovens e adultos, escravizando suas mentes e determinando-lhes o que pensar, o que fazer, e como fazer.

Com a maturação aprende-se ser capaz de perceber rapidamente as coisas mais sutis. A ter raciocínio rápido para dar respostas imediatas, precisas e cortantes como espadas afiadas. A ter espírito sagaz, penetrante, para resolver os problemas mais difíceis, encontrando soluções onde elas não estão aparentes, e apontando saídas para muitos impasses. Aprende-se a ser líder de muitos, comandar com segurança, dar ordens firmes e exigir o seu cumprimento.

Considero que a maturação vai até aos 60 anos, quando então estará (ou não...) completa, e a pessoa poderá entrar no que chamo de Idade da Sabedoria. Que não vem num estalar de dedos, ou num salto de paraquedas para o mundo dos sábios que na realidade não existe. Vivencia-se a Idade da Sabedoria entre os humanos e com eles. E é nessa etapa que se inicia o processo de reavaliação e depuração de tudo o que foi aprendido, seja lá por que vias tenha sido.

Quem entrou na Idade da Sabedoria, a cada dia será mais capaz de se calar quando os outros falam em demasia. Seu raciocínio poderá não parecer tão rápido, mas a verdade é que já aprendeu ser a pressa, inimiga da perfeição. Percebe bem quase todas as coisas, contudo prefere deixar que os outros as descubram por si mesmos, ao invés de encontrá-las prontas. Diante de problemas difíceis, mesmo tendo soluções, amadurece cada uma para depois escolher a melhor. Afinal, o que parece ser a melhor saída, pode na realidade ser o passo final para se cair no abismo. Não se preocupa em liderar, deixando essa função para os mais novos que ainda têm a altivez e o vigor físico, por vezes necessários nessa atividade. Não impõe, sugere. Não exige, acolhe. Não comanda, pede. Mas o faz de forma tão indiscutível que quase sempre é acatado.

Quem já vive a Sabedoria não agride, não ofende, não guarda mágoas, não menospreza ninguém, pois tem a todos como irmãos. Se por descuido comete alguma dessas faltas, ou se comete erros, não se culpa, não se mortifica nem se envergonha, pois tem plena consciência de que não é perfeito, pois a perfeição é impossível num mundo de impermanência. Admite sempre os seus erros e quando necessário se desculpa, pois bem sabe que pedir sinceramente o perdão é bem mais difícil e muito mais nobre do que perdoar. Tendo assimilado o máximo de resiliência, volta rapidamente ao equilibro emocional quando tensões exageradas possam tê-lo retirado momentaneamente do ponto de homeostase, de paz interior. Por isso, consegue perdoar sempre.

Quem já está na Idade da Sabedoria sabe com clareza que muito pouco sabe e por isso o orgulho não o domina. Não se sente humilhado quando não é ouvido, não é atendido, sequer reconhecido. Sabe que muitos são os caminhos e que eles existem para ser seguidos. Mas sabe também que os atalhos não são seguros, pois são filhos da preguiça, da imprudência e da esperteza. Três irmãos totalmente destrutivos para o bom êxito de todas as coisas.

A maturidade pode-se fazer para o bem ou para o mal, contudo o que caracteriza a sabedoria é a busca exclusiva do bem e a plena rejeição de tudo o que é mau.

Quem está na Idade da Sabedoria vive a vida com alegria e espera a morte sem qualquer temor. Afinal, sabe bem que ela é apenas uma transição para a plena e verdadeira Sabedoria.
*Evaldo D'Assumpção é médico e escritor.

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