segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Um terremoto sem precedentes na Espanha

Com apenas um ano de vida, o partido 'Podemos' emplacou cinco deputados nas eleições europeias.

Por Marco Lacerda*
Falta um ano para as eleições legislativas espanholas, previstas para novembro de 2015, e muito pode mudar até lá. Mas o novo partido Podemos, nascido há um ano e que com três meses de vida elegeu cinco deputados nas eleições europeias, surge numa sondagem como o que reúne mais intenções de voto: 27,7%, o que são 1,5 pontos à frente dos socialistas do PSOE e mais 7% do que o Partido Popular do Governo de Mariano Rajoy. Aconteça o que acontecer, a formação liderada por Pablo Iglesias, escreve o jornal El País, “já provocou um sismo sem precedentes na política espanhola e está em condições de arrebentar o tabuleiro eleitoral”, estabelecido desde a Transição, em 1978.

Os jornais espanhóis descrevem o “choque” que se vive por estes dias no interior do governo. À sondagem divulgada  recentemente e realizada pela empresa Metroscopia para o El País, somam-se as informações que têm escapado sobre o grande inquérito do Centro de Investigações Sociológicas (CIS) e que deverão apontar no mesmo sentido.

Não é só o partido Podemos que aparece à frente dos dois partidos da alternância – Pablo Iglesias, de 36 anos, nascido em Madrid, é o líder mais valorizado, o único dos sete dirigentes de partidos políticos que integram a sondagem a conseguir nota positiva (mais aprovações do que desaprovações). O pior avaliado é naturalmente Rajoy (com -63) e o segundo melhor o recém-eleito líder socialista, Pedro Sánchez.

Apesar de não conseguirem manter os 28,7% de votos que tiveram nas últimas eleições nacionais, em 2011, e de serem arrastados pelo afundamento do bipartidarismo, os socialistas aguentam muito melhor o embate com o Podemos do que o PP. Uma das razões é precisamente Sánchez, que obtém muito bons resultados entre os eleitores socialistas: 75% acredita que vai ser capaz de mudar o partido e 72% que poderá recuperar antigos votantes.

O 'Podemos' alimenta-se dos erros dos outros mais do que das suas próprias propostas

Os analistas avisam que é preciso ter cuidado com estes resultados e sublinham os fatores conjunturais: a série de casos de corrupção que têm afetado o PP. Alguns já tinham explodido quando esta sondagem foi realizada, como o dos cartões de crédito “negros” da Caja Madrid, onde 80 pessoas são acusadas de gastos pessoais irregulares e luxuosos. Os nomes mais conhecidos são Rodrigo Rato, vice-presidente nos governos de José María Aznar, e o ex-secretário-geral do PP Ángel Acebes. No entanto, o processo envolve todos os partidos, incluindo a Esquerda Unida (IU).

O Podemos alimenta-se dos erros dos outros mais do que das suas próprias propostas, que uma maioria dos inquiridos não considera realistas, ao mesmo tempo que afirma que os seus membros não têm ideias claras sobre o que pretendem fazer no país. Para 42%, o êxito do partido de Iglesias deve-se à decepção e ao desencanto que os espanhóis têm com os outros partidos. Certo é que o efeito de desilusão com o PP e o PSOE beneficia o Podemos e não forças como a UPyD (União, Progresso e Democracia), e a Esquerda Unida, que perdem parte do chamado voto indignado.

O consultor político Antoni Gutiérrez-Rubí acredita que o Podemos não é um fenómeno que vá ter vida curta e aponta a tese de doutoramento de Íñigo Errejón (“A Luta pela hegemonia durante o primeiro governo do MAS na Bolívia, uma análise discursiva”) como prova de que os membros do partido sabem no que se meteram e estudaram as mudanças aceleradas dos últimos anos e os grupos de eleitores que poderiam conquistar.

Estes potenciais eleitores ainda podem fugir, mas é preciso ter em conta que 20% deles são pessoas que não votaram em 2011. Entretanto, em Maio, haverá eleições municipais e autonómicas, algumas importantes, onde o Podemos se irá apresentar coligado – ainda não se sabe se com a Esquerda Unida, que já propôs essas alianças.

O líder Pablo Iglesias apresenta o partido 'Podemos'. Veja o vídeo:

*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do Domtotal.

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