sábado, 7 de fevereiro de 2015

Novas tecnologias, sonhos e infantilização

Longe de mim questionar os avanços das novas tecnologias, mas seus impactos são risíveis.

'Há, de fato, uma infantilização dos jovens'.
Não farejo muita graça nos próximos anos. Nem no Brasil, nem em lugar algum. No Brasil continuaremos vítimas da violência individual, da corrupção institucionalizada e da incompetência oficial. O resto do mundo ficará a mercê da violência coletiva, do terrorismo, do achatamento da classe média, da miséria e do delírio de algumas centenas de bilionários que especulam nas bolsas e apostam nos altos lucros propiciados pelas inovações tecnológicas.

Essas invações têm servido, sobretudo, para enriquecer da noite pro dia, alguns jovens talentosos que viraram modelos de sucesso para jovens de todo o mundo. Longe de mim questionar os avanços miraculosos propiciados pelas novas tecnologias da informação no campo das ciências e das comunicações, mas seus impactos na vida cotidiana tem aspectos risíveis.

As novidades eletrônicas mais rentáveis estão no campo do lazer, nos objetos sucateaveis e mais acessíveis ao consumidor. E dá-lhes celular, "ifones", smart fones e aplicativos com joguinhos imbecís que viraram o tormento de pais que querem ver os filhos dedicando mais tempo aos estudos.

Há quem reinvindique, nos  Estados Unidos, a proibição do uso de celulares em viagens aéreas, argumentando que, além do cheiro de COMIDA, ruídos e desconforto das poltronas, o passageiro vê-se obrigado a escutar todo tipo de conversa fiada. Há, de fato, uma infantilização dos jovens, que se sentem obrigados a prestar contas à mamãe ou aos amigos sobre cada pequeno movimento que fazem fora de casa.

Em viagens ao exterior- e isso é comum entre os brasileiros - mais que uma mensagem de amizade ou uma informação importante, o que querem, jovens e adultos, é exibir previlégios e fazer inveja enviando imagens ao interlocutor que não teve a mesma sorte.

Chega a ser cômica a homogeneização segregada dos passageiros de avião: na primeira classe, ja confortavelmente instalados, passageiros bebericam champagne silenciosos e se preparam para mais uma noite de bons sonhos. Computadores e celures são mais raros. Na classe executiva, todos, mas absolutamente todos, têm ao colo um laptop de cidadãos do mundo, ocupadíssimos com o agendamento de negócios ou a solução urgente de um problema em algum lugar do planeta. Na classe econômica, como ja disse, prevalece a infindável  acomodação das bagagens de mão, o senta e levanta em poltronas espremidas  e as infernais conversas ao celular.

O jovem da classe média brasileira sonha com o enriquecimento rápido através de alguma idéia ou truque tecnológico que possa alçá-lo ao patamar do jetset  internacional.  Patrão, nem pensar. Quer negócio próprio. Há uma crença generalizada de que, por manipular melhor os novos dispositivos tecnológicos, o jovem está com o futuro garantido. Pesquisas recentes mostram, no entanto, que, entre 2000 e 2012, o percentual de jovens, (entre 21 e 30 anos), caiu de 10% para 3% do total de pessoas que possuiam negócios próprios, nos Estados Unidos.

O carro que dispensa motorista, desenvolvido pelo Google, ja virou piada e as sucessivas quedas de aviões pertencentes a companhias aéreas asiáticas têm sido atribuidas à confiança exagerada nos computadores de bordo que, quando registram problemas, dependem da imediata intervenção humana. Os pilotos asiáticos são treinados apenas em simuladores e começam a fazer vôos comerciais sem antes haver pilotado sequer um Pipper, um Teco Teco ou uma Asa DELTA.
*Flávio Saliba é formado em Ciências Sociais pela UFMG (1968), Doutor em Sociologia pela Universidade de Paris (1980), Pós-doutorado na Berkeley University (1994), Professor de Sociologia da UFMG. Livros publicados: 'O diálogo dos clássicos: divisão do trabalho e modernidade na Sociologia' (Ed. C/Arte, BH, 2004), 'História e Sociologia' (Ed. Autêntica, BH, 2007). Vários artigos publicados em revistas e jornais nacionais.

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