A cidade não precisa paparicar turistas como outros centros europeus. Eles sempre voltam.
Por Lev Chaim*
Perdi a conta das vezes que fui à Roma. Mesmo assim, cada vez, surpreendo-me com alguma coisa, seja ela uma obra de arte que ainda não havia visto ou alguma outra arte do romano tentando iludir o turista. E olhe que eu, depois de tantas vezes, acabei aprendendo um pouco da língua.
Era a nossa primeira tarde de uma estadia de 3 dias. Yael, Ellen e eu deixamos o nosso hotel, na Via Ludovisi, há cinquenta metros da Via Veneto. A temperatura estava ótima, agradável, por volta dos quinze graus. Na Holanda ela girava em torno de zero graus.
Descemos a Via Veneto: embaixada norte-americana, hotéis caros e, no finalzinho, passamos em frente ao meu primeiro hotel na cidade, ‘Hotel Imperiale’, próximo à Piazza Barberini, onde está a fonte de uns dos mais impressionantes arquitetos da Roma Clássica, Bernini. Viramos à direita na Via del Tritone.
Seguíamos rumo à Fontana de Trevi, também elaborada e esculpida por Bernini. Até parece que a cada esquina, existe uma obra dele. Infelizmente, a fonte estava empacotada para reformas. Íamos jantar num velho restaurante, atrás do parlamento italiano, conhecido das outras vezes.
Como ainda tínhamos bastante tempo até o jantar, paramos em um barzinho dentro da Galeria Umberto II - uma enorme construção com teto de vidro trabalhado em diversas cores, cheia de lojas e restaurantes, com mesinhas ao centro e uma atmosfera cosmopolita. Como a fome era grande, resolvemos sentar e pedir algo ali, para esperarmos o jantar tranquilamente.
Foram três tramesinos (sanduíche de pão de forma branco, sem as beiradas, com manteiga e recheio variado). O meu era de queijo e tomate, o do Yael era de salada de atum e o da Ellen era de beringela e tomate. Para beber, pedimos duas taças de Proseco e uma de vinho branco da casa. Agora sim, havíamos aterrado na Itália, com certeza.
Ficamos ali cerca de uma hora e meia, curtindo os passantes, admirando a elegância do romano, quase todos de terno, bem cortado e sapatos de tirar o fôlego. Ao olhar o relógio, notei que já estava quase na hora marcada com o restaurante, há dez minutos dali. Pedimos a conta à mocinha simpática e elegante, que sorria para todos. “Il conto, per favore”. Neste ínterim, já havíamos feito a soma no papel, com a ajuda do cardápio.
Ela nos trouxe “a dolorosa”, em uma cestinha incrementada com balinhas de menta: 48 euros. Espantado, disse: “algo está errado”. Ela, com uma cara de paciência esgotada, conferiu comigo. Depois de alguns segundos, percebeu que estava mesmo errada. E ai, saiu com esta: “Não foram ao todo seis taças?”. “Não”. Ela pediu desculpas e voltou ao caixa. Em seguida, retornou com uma nova conta de 37 euros. Incorreta.
Eu disse que o nosso total era de 25 euros. Não pensem vocês que eu estava gritando, nervoso, não. Só por dentro. Por fora, dizia tudo calmamente. A mocinha do restaurante deu a meia-volta e, em seguida, veio uma outra, que não conhecíamos, com óculos de lentes grossas e o andar de cão de guarda. Ela pediu desculpas pelo engano, mas insistiu na conta de 37, alegando que já eram 18h30min e que agora estava valendo o cardápio da noite, com preços mais caros.
Olhei firme em seus olhos: “Se senhora quiser, podemos pedir uma opinião aquele policial ali, que está tomando um café. Quando aqui sentamos, o cardápio era este que ainda está em minhas mãos. Se você não sabe fazer conta, talvez posso ajudá-la”.
Rígida e pálida, ela marchou em retirada. Yael e a Ellen entendiam porque eu reclamava, mas não compreendiam as palavras. Após esta troca amigável de cortesias, ela voltou pisando duro, mas, desta vez, com a conta certa: 25 euros. Pagamos, sem gorjeta.
A velha história de Roma: bela, encantadora, misteriosa, mundana, romântica, erudita e safada quando pode. Roma não precisava paparicar os turistas como outros centros europeus. Eles sempre voltam. O gostinho da vitória trouxe-nos o sorriso aos lábios.
Levantamo-nos e seguimos para o restaurante.
Perdi a conta das vezes que fui à Roma. Mesmo assim, cada vez, surpreendo-me com alguma coisa, seja ela uma obra de arte que ainda não havia visto ou alguma outra arte do romano tentando iludir o turista. E olhe que eu, depois de tantas vezes, acabei aprendendo um pouco da língua.
Era a nossa primeira tarde de uma estadia de 3 dias. Yael, Ellen e eu deixamos o nosso hotel, na Via Ludovisi, há cinquenta metros da Via Veneto. A temperatura estava ótima, agradável, por volta dos quinze graus. Na Holanda ela girava em torno de zero graus.
Descemos a Via Veneto: embaixada norte-americana, hotéis caros e, no finalzinho, passamos em frente ao meu primeiro hotel na cidade, ‘Hotel Imperiale’, próximo à Piazza Barberini, onde está a fonte de uns dos mais impressionantes arquitetos da Roma Clássica, Bernini. Viramos à direita na Via del Tritone.
Seguíamos rumo à Fontana de Trevi, também elaborada e esculpida por Bernini. Até parece que a cada esquina, existe uma obra dele. Infelizmente, a fonte estava empacotada para reformas. Íamos jantar num velho restaurante, atrás do parlamento italiano, conhecido das outras vezes.
Como ainda tínhamos bastante tempo até o jantar, paramos em um barzinho dentro da Galeria Umberto II - uma enorme construção com teto de vidro trabalhado em diversas cores, cheia de lojas e restaurantes, com mesinhas ao centro e uma atmosfera cosmopolita. Como a fome era grande, resolvemos sentar e pedir algo ali, para esperarmos o jantar tranquilamente.
Foram três tramesinos (sanduíche de pão de forma branco, sem as beiradas, com manteiga e recheio variado). O meu era de queijo e tomate, o do Yael era de salada de atum e o da Ellen era de beringela e tomate. Para beber, pedimos duas taças de Proseco e uma de vinho branco da casa. Agora sim, havíamos aterrado na Itália, com certeza.
Ficamos ali cerca de uma hora e meia, curtindo os passantes, admirando a elegância do romano, quase todos de terno, bem cortado e sapatos de tirar o fôlego. Ao olhar o relógio, notei que já estava quase na hora marcada com o restaurante, há dez minutos dali. Pedimos a conta à mocinha simpática e elegante, que sorria para todos. “Il conto, per favore”. Neste ínterim, já havíamos feito a soma no papel, com a ajuda do cardápio.
Ela nos trouxe “a dolorosa”, em uma cestinha incrementada com balinhas de menta: 48 euros. Espantado, disse: “algo está errado”. Ela, com uma cara de paciência esgotada, conferiu comigo. Depois de alguns segundos, percebeu que estava mesmo errada. E ai, saiu com esta: “Não foram ao todo seis taças?”. “Não”. Ela pediu desculpas e voltou ao caixa. Em seguida, retornou com uma nova conta de 37 euros. Incorreta.
Eu disse que o nosso total era de 25 euros. Não pensem vocês que eu estava gritando, nervoso, não. Só por dentro. Por fora, dizia tudo calmamente. A mocinha do restaurante deu a meia-volta e, em seguida, veio uma outra, que não conhecíamos, com óculos de lentes grossas e o andar de cão de guarda. Ela pediu desculpas pelo engano, mas insistiu na conta de 37, alegando que já eram 18h30min e que agora estava valendo o cardápio da noite, com preços mais caros.
Olhei firme em seus olhos: “Se senhora quiser, podemos pedir uma opinião aquele policial ali, que está tomando um café. Quando aqui sentamos, o cardápio era este que ainda está em minhas mãos. Se você não sabe fazer conta, talvez posso ajudá-la”.
Rígida e pálida, ela marchou em retirada. Yael e a Ellen entendiam porque eu reclamava, mas não compreendiam as palavras. Após esta troca amigável de cortesias, ela voltou pisando duro, mas, desta vez, com a conta certa: 25 euros. Pagamos, sem gorjeta.
A velha história de Roma: bela, encantadora, misteriosa, mundana, romântica, erudita e safada quando pode. Roma não precisava paparicar os turistas como outros centros europeus. Eles sempre voltam. O gostinho da vitória trouxe-nos o sorriso aos lábios.
Levantamo-nos e seguimos para o restaurante.
*Lev Chaim é jornalista, colunista, publicista da FalaBrasil e trabalhou mais de 20 anos para a Radio Internacional da Holanda, país onde mora até hoje. Ele escreve todas as terças-feiras para o Dom Total.
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