O arqueólogo é o explorador que desaparece nas entranhas da História e volta com um registro.
Por Max Velati*
Em agosto de 1799, durante a campanha de Napoleão no Egito, um soldado francês descobriu um fragmento de basalto ao abrir uma trincheira perto da cidade de Roseta. A pedra estava coberta de sinais que teriam permanecido misteriosos se um gênio linguista não tivesse se debruçado sobre aquelas 14 linhas de hieróglifos, 32 de escrita demótica e 54 linhas escritas em grego.
Jean-François Champollion, que aos 16 anos já dominava 12 línguas, estudou o fragmento de basalto conhecido como Pedra da Roseta e em 1822 publicou a obra “Carta a M. Dacier referente ao Alfabeto dos Hieróglifos Fonéticos”. Pela primeira vez era apresentada ao público um processo de decifração que abria para o presente as portas do Antigo Egito.
A Arqueologia é uma combinação preciosa de ciência e imaginação e nos oferece ferramentas para entender o presente na medida em que entendemos melhor o passado. Tal percepção deveria nos preparar melhor para o futuro, tornar mais claro e nítido todo o espectro da experiência humana através dos valiosos registros do que somos, do que vestimos, do que comemos, no que acreditamos, o que tememos e a quem adoramos. O arqueólogo é o explorador que desaparece nas entranhas da História e volta com um registro, uma evidência, uma teoria, uma explicação. Sem estas descobertas e interpretações a marcha da História é um caminhar cego no labirinto, uma jornada rumo ao Minotauro a ser enfrentado inúmeras vezes por falta de direção e memória.
A Arqueologia é uma ciência para românticos e no mundo moderno quem tem tempo para ser romântico? Quem tem tempo para se dedicar a qualquer coisa que não dê dinheiro? Quem tem tempo para seguir no sentido contrário as pegadas na História com tantas contas para pagar aqui e agora? Com um presente tão confuso e um futuro tão incerto quem se arrisca a tentar entender o passado?
Por tudo isso a notícia recebeu muito menos destaque do que deveria. Pouco se falou da morte de Khaled al-Assad, torturado por mais de um mês e por fim decapitado em praça pública esta semana. Khaled tinha 82 anos e era um dos maiores especialistas nas ruínas da cidade de Palmira, na Síria. A cidade é um valioso sítio arqueológico dos séculos I e II e guarda agora segredos fora do nosso alcance.
O grupo terrorista Estado Islâmico torturou o arqueólogo buscando informações sobre “tesouros romanos” e Khaled morreu guardando o segredo não apenas dos supostos tesouros, mas de tudo o que não sabemos e nem sabemos que não sabemos. Seu corpo foi pendurado em uma ruína romana e ele ganhou dois minutos de fama nos noticiários internacionais como mais uma vítima de mais uma guerra, mas neste episódio, da guerra da ignorância contra o conhecimento.
Isso não aconteceu no milênio passado, no século passado mas esta semana. Jogamos fora mais uma chave, matamos mais um que poderia nos ajudar a entender a nossa própria loucura.
Se tivéssemos matado Champollion, o Egito ainda seria um enigma. Se tivéssemos queimado Darwin como herege ou Newton como bruxo, o Minotauro estaria nos esperando mais uma vez.
Em agosto de 1799, durante a campanha de Napoleão no Egito, um soldado francês descobriu um fragmento de basalto ao abrir uma trincheira perto da cidade de Roseta. A pedra estava coberta de sinais que teriam permanecido misteriosos se um gênio linguista não tivesse se debruçado sobre aquelas 14 linhas de hieróglifos, 32 de escrita demótica e 54 linhas escritas em grego.
Jean-François Champollion, que aos 16 anos já dominava 12 línguas, estudou o fragmento de basalto conhecido como Pedra da Roseta e em 1822 publicou a obra “Carta a M. Dacier referente ao Alfabeto dos Hieróglifos Fonéticos”. Pela primeira vez era apresentada ao público um processo de decifração que abria para o presente as portas do Antigo Egito.
A Arqueologia é uma combinação preciosa de ciência e imaginação e nos oferece ferramentas para entender o presente na medida em que entendemos melhor o passado. Tal percepção deveria nos preparar melhor para o futuro, tornar mais claro e nítido todo o espectro da experiência humana através dos valiosos registros do que somos, do que vestimos, do que comemos, no que acreditamos, o que tememos e a quem adoramos. O arqueólogo é o explorador que desaparece nas entranhas da História e volta com um registro, uma evidência, uma teoria, uma explicação. Sem estas descobertas e interpretações a marcha da História é um caminhar cego no labirinto, uma jornada rumo ao Minotauro a ser enfrentado inúmeras vezes por falta de direção e memória.
A Arqueologia é uma ciência para românticos e no mundo moderno quem tem tempo para ser romântico? Quem tem tempo para se dedicar a qualquer coisa que não dê dinheiro? Quem tem tempo para seguir no sentido contrário as pegadas na História com tantas contas para pagar aqui e agora? Com um presente tão confuso e um futuro tão incerto quem se arrisca a tentar entender o passado?
Por tudo isso a notícia recebeu muito menos destaque do que deveria. Pouco se falou da morte de Khaled al-Assad, torturado por mais de um mês e por fim decapitado em praça pública esta semana. Khaled tinha 82 anos e era um dos maiores especialistas nas ruínas da cidade de Palmira, na Síria. A cidade é um valioso sítio arqueológico dos séculos I e II e guarda agora segredos fora do nosso alcance.
O grupo terrorista Estado Islâmico torturou o arqueólogo buscando informações sobre “tesouros romanos” e Khaled morreu guardando o segredo não apenas dos supostos tesouros, mas de tudo o que não sabemos e nem sabemos que não sabemos. Seu corpo foi pendurado em uma ruína romana e ele ganhou dois minutos de fama nos noticiários internacionais como mais uma vítima de mais uma guerra, mas neste episódio, da guerra da ignorância contra o conhecimento.
Isso não aconteceu no milênio passado, no século passado mas esta semana. Jogamos fora mais uma chave, matamos mais um que poderia nos ajudar a entender a nossa própria loucura.
Se tivéssemos matado Champollion, o Egito ainda seria um enigma. Se tivéssemos queimado Darwin como herege ou Newton como bruxo, o Minotauro estaria nos esperando mais uma vez.
*Max Velati trabalhou muitos anos em Publicidade, Jornalismo e publicou sob pseudônimos uma dezena de livros sobre Filosofia e História para o público juvenil. Atualmente, além da literatura, é professor de esgrima e chargista de Economia da Folha de São Paulo.
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