quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Homens insensíveis à dor dos outros

Aqueles que sofrem injustiças gritam pedidos de ajuda para serem tratados humana e dignamente!
Por Dom José Alberto Moura, CSS*
Hoje parece que muitos já não se escandalizam com tantos fatos e notícias desastrosos e muito danosos à sociedade. Parece que o sofrimento e as aberrações alheias não as tocam diretamente. Tornam-se insensíveis à dor dos outros. Que pena! Sabemos que o planeta terra está muito doente e o tecido social da humanidade está muito fragilizado. Guerras, refugiados, doenças, falta de assistência, agressão à natureza, poluição ambiental e social, degradação moral, uso irresponsável, muitas vezes, da mídia, corrupção, maus políticos e má política... Tudo isso vem à tona todos os dias...
O que fazer nessa situação? Muitos gritam. E é preciso ouvir os gritos de quem pede por socorro. As crianças violentadas, pessoas excluídas e marginalizadas, falta de tudo para uma família poder se manter... O Apóstolo Tiago fala da hipoteca social de quem tem demais, deixando os que nada têm viverem na míngua: “Vosso ouro e vossa prata estão enferrujados, e a ferrugem deles vai servir de testemunho contra vós e devorar vossas carnes como fogo” (Tiago 5, 3). 
Jesus fala de quem escandaliza as crianças: “Melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço” (Marcos 9, 43). Haja pedra de moinho em nossa realidade! Ouvindo os clamores de quem sofre terríveis injustiças de toda ordem, precisamos nos unir para tirarmos as causas das agressões. Faz-se necessário trabalhar por políticas públicas, por melhor educação, a partir da família e das escolas, programas de inclusão social que façam a pessoa a se qualificar e arrumar emprego, formação da fé comprometida com a convivência justa e solidária. Tudo isso nos leva a ouvir e ir ao encontro da solução dos problemas dos injustiçados. Eles  gritam o grito de pedido de ajuda para serem tratados humana e dignamente!
Precisamos sim, de nos escandalizar e nos unir para tirarmos as causas dos escândalos. Cada um é convocado a dar de si e unir-se a causas comuns de promoção do bem geral, como  manifestação de verdadeira contribuição para superarmos tantos escândalos!
A valorização do profetismo ou da colocação dos próprios dons a serviço da sociedade deve acontecer mais entre nós. Na época de Moisés, conforme a narrativa bíblica, Deus lhe deu o poder de transmitir o dom da profecia a setenta homens. Mas dois outros profetizavam sem terem o mandato daquele servo de Deus. No entanto, o próprio Moisés reconheceu o valor da profecia desses dois e os elogiou por seu profetismo (Cf. Números 11, 25-29). Também nós deveríamos valorizar os dons de quem, mesmo fora de nossa comunidade e até grupo religioso, usa de seus dons para servir a sociedade. Não podemos limitar a ação de Deus para dentro de nosso grupo. Ao contrário, precisamos nos unir, cada um com seus dotes, para ajudarmos o barco comum a atravessar com êxito o oceano da vida!
Há profetismos verdadeiramente úteis para contribuírem para a solução de tantos desmandos! Por que não conscientizarmos melhor as pessoas para se prepararem a formar famílias com real possibilidade de convivência no amor? Muitos se unem sem a devida preparação e estragam o convívio entre os cônjuges e arruínam a vida dos filhos, sem lhes dar boa educação. Por que não ajudar a melhor conscientização política para as pessoas escolherem candidatos de bom caráter e que não usam da boa fé dos eleitores e até de sua religiosidade só para se elegerem e depois traírem a própria missão? Por que muitos não acompanham o que se passa no legislativo e no executivo para exigirem o que prometeram? De forma simples, mas perseverante, todos podem contribuir para tirarmos as causas dos escândalos!
CNBB 23-09-2015.
*Dom José Alberto Moura, CSS é arcebispo Metropolitano de Montes Claros, MG.

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