A luta de uma mulher para defender seu jardim da depredação que acontece às margens do rio Xingu
Por Marco Lacerda*
Passou da hora de eliminarmos dos nossos ditos populares o de que “Deus é brasileiro”. Quando eu era menino ouvia dizer que Deus castiga sem pau nem pedra, por isso é inevitável supor que o governo e toda a classe política que aí estão façam parte de algum castigo que nos está reservado. Prefiro crer, como o escritor José Saramago, que Deus é o silêncio do universo e o ser humano o grito que dá sentido a esse silêncio.
Da distante Altamira chegam ecos do grito de uma mulher, Antônia Melo, coordenadora do ‘Movimento Xingu Vivo Para Sempre’, um coletivo de organizações, movimentos sociais e ambientalistas que historicamente se opõem à instalação da hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu.
Entre os cadastrados para remoção pela Norte Energia, a família de Antônia está se preparando para deixar sua casa em Altamira. Notificada diversas vezes de que teria que se retirar para que sua casa possa ser demolida, ela recebeu um aviso definitivo de que teria que sair até terça-feira, 8 de setembro.
Antônia ainda não definiu seu lugar de destino e informou à Norte Energia que precisa de mais três dias para fazer a mudança. Entre casas distantes de onde mora atualmente, Melo procura uma nova moradia que possua quintal para que ela possa plantar. Até agora, nada.
Quem conhece a casa dela sabe que ela conserva um enorme jardim com diversas árvores frutíferas, que foram cultivadas por toda a sua vida naquele quintal. Carinho e dor se misturam no olhar de Antônia quando ela fala de seu terreno e de sua casa. Sobre a mudança, ela disse esses dias que não há uma casa dos seus sonhos que não aquela em que mora hoje e que está prestes a deixar.
Morte e destruição
Quase todas as construções na rua de Antônia já foram demolidas, só sobraram a casa dela e de dois vizinhos. A pressão é grande, a fiação elétrica foi destruída – e religada apenas uma semana depois -, e o muro de trás também já foi derrubado, ainda que a família não tenha deixado a propriedade. Todo dia o pomar de Antonia é invadido e “assaltado” por estranhos que estão colhendo as frutas de suas árvores. O técnico que operava o trator no dia dessa demolição irresponsável disse que “estava apenas cumprindo ordens”.
Histórias como a de Antônia tem se repetido em Altamira. O ritmo acelerado das máquinas tem arrastado experiências e lembranças e acumulado injustiças entre os escombros das casas demolidas. A área do açaizal onde mora Antônia Melo, deve ser transformado num projeto de “requalificação urbana”, uma área de lazer e recreação com praça e outros equipamentos.
Antônia Melo afirma que está em curso um violento processo de limpeza social, expulsando os indesejados de Altamira das áreas centrais para lugares cada vez mais distantes e para os reassentamentos da Norte Energia. Muitas dessas áreas não tem transporte público e a locomoção depende de taxis e mototaxis, que cobram entre 20 e 30 reais de acordo com o destino. Muitos dizem que os “pobres” da cidade só voltarão a frequentar as áreas da orla em datas como natal e réveillon.
Essa é Altamira hoje, aquela que nasceu às margens do Xingu, está sendo proibida de chegar perto de seu rio. Vítimas de uma espécie de cirrose mental, nenhum político levanta a voz em defesa dos deserdados da região, agora entregues à própria sorte. O governo federal e a Norte Energia transformam, dia-a-dia, toda uma viva e grandiosa paisagem em morte e destruição. Se algum dia foi brasileiro, Deus perdeu a paciência, trocou de nacionalidade e deixou o Brasil a navegar rumo a ... a quê mesmo?
Última chance para o rio Xingu. Veja o vídeo:
Da distante Altamira chegam ecos do grito de uma mulher, Antônia Melo, coordenadora do ‘Movimento Xingu Vivo Para Sempre’, um coletivo de organizações, movimentos sociais e ambientalistas que historicamente se opõem à instalação da hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu.
Entre os cadastrados para remoção pela Norte Energia, a família de Antônia está se preparando para deixar sua casa em Altamira. Notificada diversas vezes de que teria que se retirar para que sua casa possa ser demolida, ela recebeu um aviso definitivo de que teria que sair até terça-feira, 8 de setembro.
Antônia ainda não definiu seu lugar de destino e informou à Norte Energia que precisa de mais três dias para fazer a mudança. Entre casas distantes de onde mora atualmente, Melo procura uma nova moradia que possua quintal para que ela possa plantar. Até agora, nada.
Quem conhece a casa dela sabe que ela conserva um enorme jardim com diversas árvores frutíferas, que foram cultivadas por toda a sua vida naquele quintal. Carinho e dor se misturam no olhar de Antônia quando ela fala de seu terreno e de sua casa. Sobre a mudança, ela disse esses dias que não há uma casa dos seus sonhos que não aquela em que mora hoje e que está prestes a deixar.
Morte e destruição
Quase todas as construções na rua de Antônia já foram demolidas, só sobraram a casa dela e de dois vizinhos. A pressão é grande, a fiação elétrica foi destruída – e religada apenas uma semana depois -, e o muro de trás também já foi derrubado, ainda que a família não tenha deixado a propriedade. Todo dia o pomar de Antonia é invadido e “assaltado” por estranhos que estão colhendo as frutas de suas árvores. O técnico que operava o trator no dia dessa demolição irresponsável disse que “estava apenas cumprindo ordens”.
Histórias como a de Antônia tem se repetido em Altamira. O ritmo acelerado das máquinas tem arrastado experiências e lembranças e acumulado injustiças entre os escombros das casas demolidas. A área do açaizal onde mora Antônia Melo, deve ser transformado num projeto de “requalificação urbana”, uma área de lazer e recreação com praça e outros equipamentos.
Antônia Melo afirma que está em curso um violento processo de limpeza social, expulsando os indesejados de Altamira das áreas centrais para lugares cada vez mais distantes e para os reassentamentos da Norte Energia. Muitas dessas áreas não tem transporte público e a locomoção depende de taxis e mototaxis, que cobram entre 20 e 30 reais de acordo com o destino. Muitos dizem que os “pobres” da cidade só voltarão a frequentar as áreas da orla em datas como natal e réveillon.
Essa é Altamira hoje, aquela que nasceu às margens do Xingu, está sendo proibida de chegar perto de seu rio. Vítimas de uma espécie de cirrose mental, nenhum político levanta a voz em defesa dos deserdados da região, agora entregues à própria sorte. O governo federal e a Norte Energia transformam, dia-a-dia, toda uma viva e grandiosa paisagem em morte e destruição. Se algum dia foi brasileiro, Deus perdeu a paciência, trocou de nacionalidade e deixou o Brasil a navegar rumo a ... a quê mesmo?
Última chance para o rio Xingu. Veja o vídeo:
*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do DomTotal. Esta matéria foi escrita com base em reportagem publicada pelo ‘Movimento Xingu Vivo Para Sempre’.
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