sábado, 24 de outubro de 2015

Pe. Pizzaballa aos líderes religiosos: dar exemplo de paz

A crise na Terra Santa está na pauta de diversos encontros de líderes políticos, como em Berlin, onde o Secretário de Estado John Kerry pediu, ao encontrar o Premier israelense Netanyahu, o fim ao “incitamento e à violência. O chefe da diplomacia estadunidense também conversou com o Presidente Palestino Mahmoud Abbas e com o Rei Abdullah da Jordânia. Os dois líderes asseguraram seu esforço em favor da calma. O Premier israelense, por sua vez, acusou o Hamas pelos ataques contra Israel e chamou o Presidente Abbas de “mentiroso”. O Secretário Geral da ONU, Ban Ki-moon se encontra na Jordânia, após ter passado por Israel, tentando alcançar algum acordo.
Enquanto lideranças tentam negociar a paz, a violência não cessa nas ruas. Um dos dois palestinos que apunhalou um religioso judeu em Beit Shemesh, na entrada de uma sinagoga, foi morto a tiros pela polícia. Outro palestino tentou apunhalar um soldado israelense em Hebron, na Cisjordânia. O líder do Hamas, Khaled Mashaal, ameaçou que “a Intifada em Jerusalém” não vai acabar. Sobre a situação vivida na Terra Santa, a Rádio Vaticano ouviu o sacerdote franciscano Pierbattista Pizzaballa, Custódio da Terra Santa:
“Ultimamente houve uma deterioração, sobretudo ligada à questão da Mesquita de Jerusalém, Al-Aqsa, e deu a esta onda de violência um aspecto mais religioso do que político”.
RV - Nas últimas horas houve uma resolução da Unesco que critica a gestão israelense da Esplanada das Mesquitas. Israel classificou a decisão de “vergonhosa”. Por que?
“Existe na Esplanada das Mesquitas, o lugar do Antigo Templo, uma disputa antiga por arte de judeus e muçulmanos. É um lugar santo para ambos, importantíssimo e irrenunciável. Todos sabemos que quando se toca um lugar assim sensível, profundamente radicado nas duas religiões, toda forma de prudência, toda forma de racionalidade é mais do que necessária”.
RV - O que se deseja então em relação a isto?
“Que as autoridades religiosas chamem os próprios fieis a uma calma e que o “status quo” do lugar seja preservado, com declarações neste sentido por parte de todos, judeus e muçulmanos. De outra forma, se tornará sempre mais difícil administrar esta situação”.
RV- A respeito das iniciativas diplomáticas sobre a crise israelense-palestina, o Secretário de Estado estadunidense John Kerry encontrou o Premier israelense Netanyahu, em Berlim. Ele pediu o fim de toda a violência entre israelenses e palestinos. Na sua opinião, tais iniciativas e apelos, que resultado podem ter?
“Podem certamente ajudar, mesmo que a tensão neste momento tenha um acento mais religiosos que político. E os políticos podem certamente influenciar, têm um papel, mas sobretudo os religiosos que neste momento deveriam falar. Os ânimos aqui estão muito exaltados, é necessário simplesmente acalmar a situação”.
RV - Que esforços a comunidade cristã local está fazendo?
“A comunidade cristã é pequena, como se sabe. Além de rezar, convida todas as pessoas, por meio de todos os canais possíveis, a uma maior calma e ao respeito pelos lugares santos de todas as religiões em Jerusalém”.
RV - Não obstante as tensões, existem também notícias de judeus e árabes que trabalham juntos há decênios, que vivem juntos em algumas zonas das colônias na Cisjordânia. Seria possível partir destes exemplos para uma pacificação da região?
“Certamente, estes exemplos sempre existiram e a maioria da população se respeita. As pessoas simples, aqueles que vivem a vida ordinária pelas ruas, no território, sempre tiveram uma colaboração que muito frequentemente  é desconhecida dos demais. E disto se deveria reiniciar, porque todos permaneceremos aqui e todos deveremos recomeçar a reatar as relações, que se romperam, lá onde as deixamos”.
RV - O senhor poderia dar algum exemplo, também graças à experiência a campo da comunidade cristã?
“Um exemplo clássico é o das escolas onde cristãos e muçulmanos estudam juntos. Depois existem tantas associações, tantos movimentos e círculos, onde israelenses e palestinos trabalham juntos em Jafta, Tel Aviv ou no Jerusalém Intercultural Center de Jerusalém; existem tantas outras associações de caráter laical, não somente religiosas, onde se fazem coisas aparentemente mais simples e banais: jogar juntos, criar projetos comuns de trabalho ou simplesmente estar juntos ou também discutir, mas conversando entre si”.
RV - Qual seria o seu apelo aos líderes religiosos do Oriente Médio para que sejam encontrados caminhos de reconciliação?
“Sempre dizemos que toda religião é uma religião de paz. Nós religiosos deveríamos, com os nossos discursos, com a nossa formação, não somente dizer estas coisas, mas também transformá-las em realidade concreta. Infelizmente vemos que não é assim. O meu apelo, a minha oração é que todos nós religiosos possamos nos tornar realmente construtores de uma maneira diferente de viver a própria fé em Deus, que é Pai de todos e nos ama todos do mesmo modo. Até agora as imagens que vemos são as imagens de escombros, mas temos necessidade também de ver líderes religiosos locais e com autoridade, que têm influência sobre o território, que se encontram, se falam e mostrem a todos que – mesmo permanecendo diferentes, e quem sabe também sem ter as mesmas opiniões sobre temas específicos, sem estar de acordo sobre tudo – é possível respeitar-se”.
SIR

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