quarta-feira, 11 de novembro de 2015

As lamas de março e novembro

Desmatamento e poluição! A vingança da natureza. A natureza cobra. E com prazer é mais caro.

Por Walter Navarro*
É o fim do fim da picada. Nem assaz alhures e antanho, picada era um caminho improvisado, geralmente a foice ou facão, numa mata. Mas as pessoas trocaram a foice pela motosserra e a mata foi desmatada. Chegar ao fim da picada quer dizer que não há mais para onde ir. Não há como escapar do problema, da lama.
O sítio Poço Fundo, nos arrabaldes de Petrópolis, onde Tom Jobim compôs "Águas de Março", irônica e cruelmente sumiu na lama com as enchentes, chuvas e águas, não de março, mas de janeiro de 2011.
Quem diria que a afirmação, "Deus é brasileiro", era uma piada!
Todo ano, no país tropical, abençoado pelo mesmo Deus e bonito por natureza, é a mesma coisa: enchentes, mortes, desabrigados, pobres que tinham nada, mas perderam tudo; desabamentos, calor panamenho de derreter camelos quenianos e camelôs senegaleses; dengue e outras pragas egípcias do cronicamente inviável Brasil.
Nem água o Brasil tem mais! Quer dizer, tem, mas acabou. A chuva cai onde não precisa e cai pra destruir, como o que há pouco vimos no sul do país. O Sudeste vai virar sertão. Dá vontade de entornar o Brasil de cabeça pra baixo, fazendo a água que castiga o sul maravilha irrigar o Nordeste.
Desmatamento e poluição! A vingança da natureza. A natureza cobra. E com prazer é mais caro.
Com o PT o Brasil nem precisava de desastres e tragédias naturais que, pensando bem, têm nada de naturais. No entanto, de tanto convocar seu santo nome em vão, o mar de lama, literalmente, atacou.
Como sempre, as vítimas tinham nada a ver com o problema e como sempre pagaram o pato.
Mariana, Bento Rodrigues, Rio Doce... Dá até preguiça de repetir a ladainha de salvar as baleias, o mico-leão-dourado o clima e o meio ambiente.
Mas numa coisa Jobim foi profético: O Brasil é pau, pedra e fim do caminho, fim da picada...
Pau! Logo comigo que, como Woody Allen, só quero voltar ao útero, qualquer útero...
Uma coisa chamada barragem de rejeitos não pode ser boa coisa, né? Grosso modo e com muuuuuuuuuito desconto é como o dia, de sinistra memória,  em que os canos do esgoto na garagem entupiram e vazaram, transformando meu apartamento num mar de lama de bosta.
Não contem pra ninguém, mas, me contaram, que pouco antes da barragem explodir, viram Dilma e Lula no sopé da mesma, com pás e picaretas. Estas últimas eles manejam como ninguém, com maestria...
O Brasil já foi Belíndia, mistura bêbada e fedorenta de Bélgica com Índia. Depois virou Haiti e vai acabar um Afeganistão recheado de talibãs e estados islâmicos. Mas no primeiro carnaval, eles largam as armas e caem na cerveja e na mulherada.
Ôooooooooooooo país infeliz!
Naquela devastador tsunami no Japão, 30 mil Hiroshimas pior, em uma semana, as autoridades já tinham reconstruído e limpado um monte de coisas, inclusive uma estrada. À mesma época, no Centro-Oeste do Brasil, caiu uma vulgar e vagabunda ponte sobre um rio, que só foi mal reconstruída seis meses depois. Provavelmente por uma Odebrecht dessas aí da Petrobras Lava Jato.
E não adianta querer ver um lado bom nesta tragédia anunciada por tambores e sinais de fumaça. Se tudo puder ser reconstruído, será, da pior forma possível porque arquitetura e história no Brasil são piscinas em favelas.
ps: Não tem água? Bebe Champagne e sai da lama, jacaré!
*Walter Navarro é jornalista, cronista e artista plástico.

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