segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Beleza pura

Uma das melhores e mais belas atrizes do mundo, Cate Blanchett detesta tapetes vermelhos
Por Marco Lacerda*
Há quem considere a beleza como um conceito essencialmente físico e há quem releve para segundo plano esta característica e dê mais importância a beleza interior, isto é, ao que é mais agradável a todos os nossos sentidos, não só tendo em atenção a simetria e proporcionalidade de um rosto ou corpo, mas também num simples sorriso, num determinado modo de olhar, de ser…
A experiência de "beleza" muitas vezes envolve uma interpretação de alguma entidade como estando em equilíbrio e harmonia com a natureza, o que pode levar a sentimentos de atração e bem-estar emocional. Como isso pode ser uma experiência subjetiva, muitas vezes se diz "A beleza está nos olhos de quem vê"
Cate Blanchett tem uma daquelas belezas atemporais, perfeitas para interpretar tanto personagens de hoje (como em Blue Jasmine, filme pelo qual ganhou Oscar de melhor atriz) quanto de ontem (como em O Aviador, pelo qual levou estatueta de coadjuvante). Ela agora coloca seus atributos a serviço de uma vilã dos contos de fadas: a madrasta de Cinderela, na adaptação para o cinema feita por Kenneth Branagh, com Lily James (Downton Abbey) como a dona dos sapatinhos de cristal. Para tanto, buscou inspiração em divas do passado, como Bette Davis e Gloria Swanson. O filme estreia no Brasil no dia 26 de março
Mas a australiana, de 45 anos, não se resume a beleza e talento para atuar: já dividiu a direção artística da Companhia de Teatro de Sydney com o marido, o dramaturgo Andrew Upton, 48, que segue na função. Os dois se conheceram em 1996 e têm três filhos: Dashiell John, 13, Roman Robert, 10, e Ignatius Martin, 6 e acaba de adotar uma menina. Cate mantém certa distância enquanto fala com sua voz grave. Apesar de sempre soar educada, não vacila em dizer o que pensa, ainda mais se está em jogo o papel da mulher. Em um tapete vermelho, ralhou com um câmera que tentava mostrá-la de corpo inteiro: “Você faz isso com os homens?”
Se há uma constante em Cate Blanchett, além de seu talento e sua beleza, é o fato de que nunca sabe o que está vestindo. Ou pelos menos é o que a admirada atriz sempre diz, seja nas telas ou no tapete vermelho. Falsa modéstia? Provavelmente. Seria ironia a falta de memória de uma intérprete como a australiana, eternizada tanto por sua filmografia como por sua elegância ao vestir modelos de Balenciaga, Dior, Armani, Galliano e Gaultier, entre outros.
“O Oscar permite um salto na carreira de indecência desproporcional”
"Tudo ajuda. O cabeleireiro, o maquiador, usar um vestido que um estilista desses fez para você", admite sem decoro. Mas a identidade não depende de suas roupas nem de seus troféus. "É algo muito mais fluído", tenta explicar. O Oscar, e os prêmios em geral, proporcionam um salto, e ela não nega. "De uma indecência desproporcional", especifica. E a experiência no tapete vermelho — sempre "horrenda"— a deixa muito nervosa. "Este ano foi um pouco mais agradável e fiquei menos nervosa porque ia entregar a estatueta", acrescentou sobre o momento no qual entregou o prêmio de melhor ator a Eddie Redmayne.
E a vaidade, onde fica? "Em minha casa não há espelhos, menos no chuveiro, onde você pode se olhar de todos os ângulos. E isso é bom porque, assim, os banhos são mais rápidos, o que é muito benéfico, e não só para o meio ambiente", confessou a atriz, muito preocupada com a preservação ambiental. Em um desses momentos, nos quais a ficção imita a realidade, Blanchett é a madrasta da nova Cinderela – que estreia no dia 26 de março no Brasil – e acaba de anunciar a chegada à casa de sua filha adotiva, a pequena Edith Vivian Patricia Upton.
"Os meninos podem ser uns diabos", afirmou sobre sua prole. "Mas são muito divertidos. Eles me fazem rir constantemente. Agora estamos nessa fase na qual tudo o que faço e tudo o que digo os envergonha. Outro dia, estávamos no carro e começamos a cantar no meio da estrada até que me disseram que eu me calasse porque alguém podia me ouvir", contou.
A família vive em uma casa que compartilham com o cachorro, Carol, e onde, segundo a atriz, domina a imaginação. "Indo a outras casas me dei conta de que meus filhos não têm muitos brinquedos, mas, depois, me surpreendem, porque quando ofereci ao meu mais velho um Kindle de presente de Natal, para que não tivesse que carregar tantos livros, ele me disse que gostava do cheiro do papel. Devemos ter feito algo certo".
“Sou extremamente visual, e assim que tenho algum dinheiro economizado invisto em nossa coleção de pintura e escultura", afirma, sem citar artistas. "Tenho um gosto muito eclético", acrescenta. Gostaria de ter um quadro de Lucian Freud, e Gerhard Richter é outro de seus preferidos. "Pintores extraordinários e que foram uma grande influência para mim, mas que fogem do meu orçamento", ri Blanchett, que, segundo a revista Forbes, goza de uma fortuna equivalente a 145 milhões de reais. "Não sou das que têm um Picasso ou um Rembrandt. Minha coleção de arte é modesta. Além disso, como disse Eddie [Redmayne] sobre o Oscar, sou dessas pessoas que sentem que a arte não nos pertence. Somos apenas os guardiões de um trabalho que transcende as fronteiras."
Suas próprias fronteiras também estão a ponto de mudar. Blanchett cogita se mudar com a prole inteira da sua Austrália natal para os Estados Unidos, de onde, apesar da fama e dos laços familiares (seu pai é do Texas), fugiu a vida toda. São vários os projetos que exigem a presença dela nesse país, e seu marido encerrou seu contrato de trabalho à frente da companhia nacional de teatro em Sydney. É "o mais lógico", diz ela sobre a possível mudança. Além disso, justifica-se, é alguém que busca viajar o mínimo possível, e quando viaja não hesita em levar a família. "Este ano visitamos Auschwitz com as crianças. É esse tipo de lembrança da qual nunca esquecerei. Uma experiência única."
Uma cena de Cate Blanchett. Veja o vídeo:
*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do Domtotal.

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