24 de fevereiro de 2016
Por Carlos Ávila
A recente morte de Umberto Eco – o grande ensaísta-pensador italiano (também romancista e bibliófilo), nascido em Alexandria, em 1932 – traz à lembrança suas relações com o Brasil. Ou seja, os “ecos” de Eco no país, basicamente a partir dos anos 1960 quando foi publicado por aqui o fundamental “Obra aberta” (trad. de Giovanni Cutolo).
A publicação pioneira se deu na importante Coleção Debates, da Ed. Perspectiva (leia-se Jacó Guinsburg – um dos mais admiráveis editores do país; a Debates ainda é uma inesgotável fonte para estudos e pesquisas); o livro de Eco foi o quarto volume da coleção, mais adiante seria lançado também “Apocalípticos e integrados”, outra obra fundamental para o estudo da estética, da teoria da informação, das experiências de vanguarda e da cultura de massas no séc. 20.
“Obra aberta” trazia um subtítulo instigante: “forma e indeterminação nas poéticas contemporâneas” – abria as discussões estéticas como nunca antes. No prefácio, Eco reconhecia a precedência de seus temas num artigo do poeta-crítico-tradutor Haroldo de Campos (1929/2003): “É mesmo curioso que alguns anos antes de eu escrever Obra Aberta, Haroldo de Campos, num pequeno artigo, lhe antecipasse os temas de modo assombroso, como se ele tivesse resenhado o livro que eu ainda não tinha escrito, e que iria escrever sem ler seu artigo”.
O texto de Haroldo – “A obra de arte aberta” – fora publicado ainda em 1955! Isso mostra oaggiornamento (para usar um termo italiano, já que estamos falando de Eco) de Haroldo e de seus companheiros de viagem poética (seu irmão Augusto, Décio Pignatari e José Lino Grünewald), que trouxeram para o país textos e discussões estéticas então na ordem do dia; introduziram por aqui teóricos fundamentais para a poesia e a arte em geral: além de Eco, Peirce, Max Bense, McLuhan, Todorov, Jakobson etc.
Imagino que tenha partido de Haroldo (parceiro e amigo de Jacó) a indicação para a publicação de “Obra aberta”; o poeta fazia parte do conselho editorial da Col. Debates. Afora isso, travou contato direto com Eco, aqui e no exterior, tornando-se seu interlocutor.
Em 66, numa estadia de Eco em São Paulo, Augusto realizou uma entrevista com o teórico italiano. Entre muitas coisas ditas, Eco reafirmou que o “discurso aberto” é típico da arte; assinalou também que “a grande arte é sempre difícil e sempre imprevista, não quer agradar e consolar, quer colocar problemas, renovar a nossa percepção e o nosso modo de compreender as coisas”.
Eco escrevia de forma clara e direta, sem grandes embananamentos terminológicos – erudito e original, é um autor obrigatório no estudo da estética. E que ainda deu um salto para a criação: seu romance “O nome da rosa” foi sucesso de crítica e de público (inclusive no cinema, com Sean Connery – famoso como o agente OO7 – no elenco). Esse livro de Eco foi traduzido em 45 línguas!
Dizem que Eco não era uma figura sisuda e mantinha o bom humor; adepto das novas tecnologias, mas amante dos livros, afirmou numa conversa com o roteirista Jean-Claude Carrière: “o livro é como a colher, o martelo, a roda ou a tesoura. Uma vez inventados, não podem ser aprimorados. Você não pode fazer uma colher melhor que uma colher”.
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Dê um rápido passeio pela casa-biblioteca de Umberto Eco (30 mil livros!):
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