segunda-feira, 21 de março de 2016

O líder consciente

O mundo trabalhista precisa de pessoas que saibam desenvolver o talento de seus colaboradores.

Por Borja Vilaseca*
Hoje em dia proliferam os políticos, governantes, dirigentes, estadistas, burocratas, diretores, executivos e gestores centrados em seus próprios interesses, mas são raros os verdadeiros líderes a serviço do bem comum. No âmbito das empresas, por exemplo, a maioria dos funcionários se queixa da relação desumanizada que mantêm com seus superiores. Por mais que os tempos estejam mudando, continua-se falando com muita frequência de chefes autoritários, que, embora diferentes, compartilham algumas características comuns:
Acreditam na hierarquia. Continuam pensando em termos de superiores e inferiores. Tratam as pessoas em função de seu cargo profissional. Tendem a mostrar o melhor de si aos de cima e sua pior versão aos que consideram de baixo.
Estão focados em sua carreira profissional. Para eles, pouco importa o impacto que seu trabalho tem sobre a sociedade. De fato, muitos mudam de empresa por motivos econômicos. Seu objetivo é crescer no escalão empresarial, ostentando cargos de maior reconhecimento, prestígio e remuneração.
Dão ordens. Acreditam que sua principal função consiste em dizer aos membros de sua equipe o que têm de fazer, abusando de seu poder. Em geral, não escutam as ideias de sua equipe nem levam em conta outros pontos de vista que não sejam os seus.
Punem os erros. Devido à pressão a que estão submetidos para obter resultados a curto prazo, não toleram as falhas de seus colaboradores. Às vezes dão broncas quando as coisas não saem como esperavam, criando um ambiente trabalhista baseado no medo da punição.
Usam máscara. Baseiam sua identidade no cargo que ocupam. Estão tão obcecados com a produtividade que não levam em conta a dimensão humana de seus colaboradores. Não costumam falar do que sentem nem permitem que outros o façam.
Ficam com todo o mérito. Competem com os membros de sua equipe e não suportam que alguém se destaque mais que eles. Culpam os outros quando os resultados são medíocres e ficam com todos os méritos quando se consegue algum sucesso coletivo.
São desconfiados e controladores. Dedicam muito tempo a fiscalizar e corrigir o trabalho realizado por seus funcionários. Não contemplam a opção de que as pessoas empreguem novas tecnologias para trabalhar de qualquer lugar, impedindo-as de gozar de autonomia e liberdade. São a principal causa da desmotivação de suas equipes.

O líder consciente
Para que essa nova realidade empresarial se consolide, os chefes autoritários têm de se transformar em líderes conscientes que saibam quem são e qual é seu verdadeiro propósito de vida, de maneira que possam usar todo seu potencial a serviço do bem comum. Assim, todos os grandes líderes conscientes – como Mahatma Gandhi, Martin Luther King, Nelson Mandela ou o Dalai Lama, para citar os mais conhecidos – compartilham uma série de características:
Questionam seu sistema de crenças. Estão abertos à mudança, atrevendo-se a questionar as crenças de seu entorno social e familiar. É dessa maneira que desenvolvem um pensamento próprio que lhes permite tomar decisões movidas pela intuição.
Conhecem sua sombra. Estão comprometidos com o autoconhecimento e autoliderança. Essa introspecção permite compreender, aceitar e integrar seu lado escuro, transformando seus defeitos em qualidades. Desse modo, tornam-se pessoas inspiradoras.
Fazem o que amam. Ao conhecer-se a si mesmos, escolhem um caminho vocacional. Transmitem entusiasmo, paixão e otimismo contagiantes porque desfrutam profundamente do que fazem.
Possuem visão e determinação. Sabem muito bem para onde estão indo. E esse sentido de direção dá a eles uma convicção profunda para superar qualquer obstáculo que surgir pelo caminho.
Cultivam a inteligência emocional. Sabem relacionar-se com empatia, respeito e assertividade. Tratam seus colaboradores como eles precisam ser tratados para que voluntariamente se comprometam e deem o melhor de si mesmos. Desse modo criam um clima trabalhista agradável, marcado pela confiança.
Inspiram através do exemplo. Não esperam a que as coisas mudem, eles mesmos são a mudança que querem ver em suas empresas. De fato, são líderes não porque se atribuem esse título, mas porque outros os seguem. Conquistam sua autoridade como consequência do serviço que prestam à sociedade.
Desenvolvem o potencial de seus colaboradores. Descobriram que o conhecimento é o que empodera as pessoas, gerando a médio prazo a verdadeira riqueza e abundância que as empresas buscam. Em vista disso investem o necessário para que suas equipes empreguem todo o talento, a inteligência e a criatividade que possuem.
A essência da questão é que esse tipo de liderança não pode ser ensinado, não aparece como resultado de um mestrado em Administração de Empresas. Antes, surge do interior de cada ser humano. É como uma semente que todos carregamos. Para que floresça só há um caminho: a transformação pessoal. E não podemos nos transformar em líderes autênticos enquanto não conseguirmos ser pessoas autênticas, o que só acontecerá quando nos libertarmos de nossos medos inconscientes.
*Borja Vilaseca escreve para La Vanguardia

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