quinta-feira, 14 de abril de 2016

A Páscoa da Ressurreição

Na cruz nós encontramos a vida, a salvação, a superação da iniquidade.
O mistério do amor manifesta-se na reconciliação entre as pessoas, antes intrigadas e divididas.
O mistério do amor manifesta-se na reconciliação entre as pessoas, antes intrigadas e divididas.
Por Dom Aldo Pagotto*
Somente quem faz a experiência profunda de transformação na própria vida consegue explicar o que significa a Páscoa da Ressurreição, por gestos e por palavras. Assim aconteceu com os discípulos de Jesus. Embora estivessem com o Mestre por um bom tempo, somente depois de presenciar sua morte de cruz e sua ressurreição conseguiram compreender a sua missão, aprender os seus ensinamentos, viver a vida renovada. Páscoa significa passagem, evoluindo das trevas à luz, do egoísmo ao amor serviçal, das paixões desordenadas à solidariedade fraterna. Por que aquele que afirmou ser o filho de Deus teria que morrer numa cruz como um malfeitor? Por que um Deus crucificado? Por que Deus teria se servido da morte ignominiosa numa cruz, símbolo de maldição, para reconciliar a humanidade? De dentro da morte o Senhor faz brotar a vida plena. Na cruz onde Cristo, em sua humanidade, crucificou todo o mal que assola a humanidade nós encontramos a vida, a salvação, a superação da iniquidade.
O mistério do amor manifesta-se na reconciliação entre as pessoas, antes intrigadas, divididas e separadas. No perdão generoso rompem-se as amarras que nos aprisionam ao ódio e à vingança. Na superação dos erros, aprendemos a não mais os reproduzir, fazendo as pessoas sofrerem.
A páscoa judaica celebrada em ritual familiar fazia a memória da passagem do cativeiro para a terra da promessa, confirmando a identidade e a pertença ao povo judeu, povo escolhido por Deus para ser luzeiro entre as nações. O ritual judaico evidencia alguns elementos que lembravam a dureza da escravidão no Egito, de onde partiram, passando a pé enxuto pelas águas do Mar Vermelho, chegando à terra da promessa. Na páscoa cristã, denominada Ceia do Senhor, celebra-se a centralidade da Palavra de Deus em nossa vida, e, nos elementos do pão e do vinho, o memorial da paixão e morte de Cristo na cruz e sua ressurreição gloriosa. Na Eucaristia celebramos continuamente a presença viva do ressuscitado, ao redor da mesa da Palavra e do pão repartido para a vida do mundo (cf. Lc. 13-48).
A celebração litúrgica refere-se ao processo permanente de conversão e de compromisso de transformação de nossa vida, sem o qual os rituais perderiam o seu valor intrínseco e o seu significado mais profundo. O processo de conversão ao Evangelho leva-nos até Jesus, praticando gestos de ressurreição em favor dos que sofrem - doentes, deficientes físicos, discriminados, rejeitados, mal amados. Tais gestos serão formas de participação à sua ressurreição aberta a todos que mais necessitam. Percebamos o sentido da Páscoa cristã, vida nova em Cristo ressuscitado, o servo do Pai e da humanidade.

CNBB, 30-03-2016.
*Dom Aldo Pagotto: Arcebispo da Paraíba.

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