sexta-feira, 29 de abril de 2016

Após reprovar filha de Eduardo Cunha, funcionário do Detran-RJ é acusado de extorsão


Servidor acabou condenado um mês depois da acusação do presidente da Câmara
   
POR CHICO OTÁVIO 29/04/2016 6:00 / atualizado 29/04/2016 7:01
Antonio Antunes Coimbra, examinador do Detran, foi perseguido após reprovar a filha de Eduardo 

RIO — O examinador de trânsito Antônio Antunes Coimbra não fazia ideia de quem estava reprovando na prova de baliza do dia 5 de junho de 2008, na Ilha do Fundão. Quando a jovem de 18 anos entrou na vaga sem ligar a seta, ele marcou três pontos de punição. Em seguida, a candidata saiu da vaga com o freio de mão puxado. Menos dois pontos e a reprovação. Coimbra garante que, após comunicar o resultado à moça, procurou confortá-la, dizendo que ela teria nova oportunidade em breve.

Desde então, Coimbra ou Tunico, como é conhecido no Detran-RJ o irmão do ex-jogador Zico, nunca mais foi chamado para a banca de examinadores. Ele levou dois dias para descobrir que havia despertado a ira do deputado Eduardo Cunha, então vice-líder do PMDB na Câmara. A reprovada era Camilla Ditz da Cunha, filha do parlamentar. Em carta ao Detran, Cunha acusou Tunico de tentar extorqui-la. O poder público agiu rápido e foi implacável: submetido a uma sindicância interna, o examinador foi punido com 30 dias de suspensão, sem vencimentos, além do afastamento das provas.

Até hoje, o irmão de Zico tenta anular a punição na Justiça. Ele incluiu no processo, que tramita desde 2009 na 8ª Vara de Fazenda Pública, o conteúdo de um email enviado na época por Sérgio Cabral à Presidência do Detran, na qual o então governador fluminense elogia a família Antunes, “sinônimo de honestidade e caráter”, e critica Cunha: “Esse senhor que acusa um membro da família (de Zico) é sinônimo do que há de pior na vida pública brasileira”. Em seguida, garante aos Antunes: “No meu governo, bandido não tira onda de mocinho”. Mas Cunha conseguiu o que queria.

‘DÁ PARA ENTRAR E SAIR DUAS VEZES DA VAGA’

Tunico examinava cerca de 20 candidatos por dia. Ele explicou que, como qualquer outro inscrito na prova prática, Camilla foi avaliada por dois funcionários: Jairo Ferreira de Melo a acompanhou a candidata dentro do carro, e Tunico,do lado de fora, anotando na ficha. Ele disse que, antes de começar, foi à porta do veículo e repetiu o que dizia a todos: “Não se esqueça do que aprendeu na autoescola. No tempo máximo, dá para entrar e sair duas vezes da vaga.”

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