sábado, 9 de abril de 2016

Batman vs Superman


Gilmar P. da Silva SJ 08/04/2016

Está em cartaz Batman vs Superman. Ao menos nas minhas redes sociais, a maioria daqueles com quem interajo têm repetido em coro: Batman é muito melhor que o “Superchato”. Acho injusto. Aliás, não só a isso como às críticas extremamente negativas ao filme. É claro que não é uma produção para Oscar, mas tem seu valor.

O filme se baseia, sobretudo, na série de HQs O cavaleiro da Trevas e no clássico A morte do Superman. Começando pela história do Batman, a história mostra o herói humano impotente diante da luta entre os kriptonianos que se passou em O homem de aço. Esse será o mote do filme que trabalhará com a ambivalência homens e deuses. A construção das personagens principais aponta para a não polarização entre divino e humano.

Nesse sentido, temos o Superman com seu traje mais noir, sem azul ou vermelho vibrantes, denotando mais humanidade. Sua grande fraqueza não é a kriptonita, mas seus afetos. Podem-se apontar alguns problemas de narrativa, principalmente na cena que conta com uma Lois Lane fraca precisando ser salva. Mas a luta de Kalel com seus sentimentos o humaniza, embora a interpretação de Cavill deixe a desejar. Quem sintetiza esse drama é Lex Luthor (cuja atuação lembra mais o Coringa) em sua fala: “Se Deus é todo-poderoso ele não pode ser inteiramente bom, e se é inteiramente bom, não pode ser todo-poderoso”. Talvez aí esteja a ideia mestra: o verdadeiro poder está na fraqueza. Uma potência, arrogante da própria força, pode se autodestruir.

É claro que o Superman de Snyder não é o Übermensch nietzschiano. Ainda não está além do bem e do mal, mas quer realizar o bem a todo custo. Porém, também não é o Messias que se abaixa totalmente, ainda permanecendo superior aos homens. Embora tais temáticas existenciais fiquem a desejar pelo discurso demasiado direto – que alinhava a narrativa pelas falas do vilão – são a riqueza do filme. A discussão fundamental que perpassa a história, portanto, é sobre o humano. Deste modo, a descrença da mulher maravilha na humanidade após Auschwitz é emblemática, pois indica o apelo que a narrativa apresenta, que é o sacrifício.

Batman é o que luta com deus e que, apesar de sua violência, acaba tendo referencial ético forte. Ele também é cegado pelos próprios afetos e sua arrogância o faz pretender quase que ser uma divindade. E como na luta de Jacó com o Anjo, o homem morcego se rende ao homem que veio do espaço. O substrato religioso do filme é notório demais, apesar de ser uma religiosidade secular. Versando sobre a finitude humana e sua aspiração divina ou o drama do homem divinizado e que se vê concupiscente,Batman vs Superman não desenvolve outras temáticas pertinentes que aparecem no filme e se perde em cenas desnecessárias narrativamente, mas deslumbrantes em fotografia, como os sonhos do herói de Kripton. Mas ainda assim, vale a pena.


Gilmar P. da Silva SJ
Mestrado em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, com pesquisa em Signo e Significação nas Mídias, Cultura e Ambientes Midiáticos. Graduação em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). Possui Graduação em Filosofia (Bacharelado e Licenciatura) pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. Experiência na área de Filosofia, com ênfase na filosofia kierkegaardiana.

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