quinta-feira, 7 de abril de 2016

Itália: proliferam os “mercadores da morte”

Com faturamento de 1,25 bilhão de euros, o país é o líder europeu em exportação de armas. Entre os compradores, países em guerra e regimes repressivos
armas
Pixabay
O papa Francisco tem tocado repetidamente nesta questão. Até na homilia da Missa desta Quinta-Feira Santa, ele abordou o assunto no centro de acolhimento de requerentes de asilo de Castelnuovo di Porto. Falando sobre os ataques em Bruxelas, ele denunciou que por trás daquele gesto, estão os fabricantes e traficantes de armas.
Em uma audiência geral de junho de 2014, Francisco os definiu como “mercadores da morte” e, em outra ocasião, como empresários cínicos que contribuem para o PIB. Em uma homilia de novembro passado na Casa Santa Marta, ele afirmou que a guerra serve para encher alguns bolsos: “Façamos armas, assim a economia se equilibra um pouco, e sigamos em frente com os nossos interesses”.
O mais recente relatório do Observatório Permanente de Armas Leves (Opal), de Brescia, na Itália, evidencia que as declarações do papa estão longe de ser exageradas. O Opal registrou um volume de negócios de 1,25 bilhão de euros em 2015, com base nos dados dos institutos de pesquisa Istat e Eurostat sobre exportações de armas de tipo militar (destinadas às Forças Armadas) e de tipo “comum” (para defesa pessoal, esportes e destinadas às forças de segurança públicas e privadas).
A Itália é líder europeia no setor, apesar da ligeira queda em relação ao ano precedente, quando o faturamento das exportações de armas tinha registrado 1,3 bilhão de euros, montante que só perde apenas para o recorde batido em 2012.
E onde são vendidos esses instrumentos de morte? No Egito, Arábia Saudita, Turcomenistão, Emirados Árabes Unidos, Argélia. Mas também no Reino Unido, Rússia, França, Estados Unidos. Particularmente florescente é o mercado do Norte da África, em especial o Egito.
A Opal denuncia que em 2014 partiram da Itália mais de 30 mil armas com destino ao Cairo. Posteriormente, o governo do primeiro ministro Matteo Renzi autorizou ainda o envio de 3.661 fuzis. Tais exportações foram autorizadas apesar da vigência da decisão do Conselho da União Europeia de suspender as licenças de exportação para o Cairo “de qualquer tipo de material que possa ser usado para a repressão interna”. A decisão europeia foi tomada logo que o general Abdel Fattah Al-Sisi tomou o poder no Egito, em agosto de 2013.
Permanecem, portanto, várias questões no ar enquanto as empresas continuam a embolsar pesado. As exportações italianas são lideradas pela província de Brescia, que responde por um quarto das vendas nacionais, mas o país foi surpreendido, em 2015, pela notícia de havia partido de Cagliari um carregamento de bombas no valor de 19,5 milhões de euros para as forças armadas da Arábia Saudita. De acordo com o Opal, as bombas foram usadas ​​pelos sauditas na guerra do Iêmen, causando cerca de 7.000 mortes.
O volume de negócios gerado pela venda de armas por parte da Itália é o dobro do de outro grande exportador europeu, a Alemanha. Acontece que tanto a Itália quanto a Alemanha são signatárias do Tratado sobre o Comércio de Armas e, além disso, a Itália ainda conta com a lei 185/90, que proíbe a venda de armas a países em conflito armado. Essas leis parecem ficar só no papel.
Contatado por Zenit, Piergiulio Biatta, presidente do Opal, lembra que “em setembro passado encontramos o subsecretário do Ministério de Relações Exteriores, Benedetto Della Vedova, para pedir que o governo esclarecesse a violação da Lei 185”.
Até a data, porém, ainda reina o silêncio. “Mas diante desses dados, a resposta é ainda mais urgente. Aumenta a necessidade de mais controle parlamentar sobre as exportações de armamento militar e armas comuns”. É necessária, portanto, uma intervenção de consciência por parte das instituições para conter aqueles a quem o papa Francisco não hesita em chamar de “mercadores da morte”. Zenit

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