quarta-feira, 20 de abril de 2016

MARCELA, A MULHER IDEAL DA VEJA


No dia da posse da primeira presidenta do Brasil, em 1o de janeiro de 2011, sabe quem estava nos Trending Topics do Twitter? Marcela Temer, esposa do vice Michel. 
Realmente deu a impressão que, pra uma grande parcela da população, faixa de miss (Marcela foi miss em alguma cidade do interior de SP) era mais importante que faixa presidencial. 
Naquela semana a revistaVeja noticiou: Marcela roubou a cena da posse. 
Veja já havia feito umareportagem "histórica", digamos, alguns dias antes do segundo turno presidencial, em 2010. Chamava-se "Vestida para mandar", fazia alusão no título ao filme Vestida para Matar, discorria sobre o figurino da candidata Dilma, e a comparava a Michelle Obama e Carla Bruni -- que não são governantes, e sim primeiras-damas.
Vale ressaltar que primeira dama já é um termo machista porque não existe equivalente pra homem. 
Não existe porque o que se espera é que o homem seja o político que está no poder, enquanto a mulher seja apenas sua esposa (decorativa e mãe, as duas missões exigidas das mulheres em qualquer posição). Primeiro damo não existe. E primeira dama não é um cargo eletivo e nem tem poder. 
Agora, dois dias depois da dupla Temer e Cunha aprovarem na Câmara o impeachment de Dilma, Vejapublica uma matéria sobre a "quase primeira-dama": "Marcela Temer: bela, recatada e 'do lar'". É praticamente uma hagiografia da moça (e, por tabela, do vice), um elogio a valores que a Veja e outros conservadores veem como adequados e louváveis numa mulher. Força e poder, já sabemos, são aceitáveis só pros homens. 
A matéria começa dizendo que Marcela é uma mulher de sorte e termina, após citar um poema do marido golpista, dizendo que Michel Temer é um homem de sorte.
Pois é: temos muita sorte, como país, em ter um presidente sortudo! 
A matéria fala também dos apelidos do casal ("Mar" e "Mi"), e de como "Mi", 75 anos, gosta de levar "Mar", 32, para jantar em restaurantes caros. Como exemplo, a Veja mostra que o Antiquarius foi fechado para servir o casal. Nenhuma crítica da revista a essa atitude burguesa; pelo contrário, só admiração. 
Além disso, há um pouco sobre o dia a dia de Marcela: cuidar do filho de sete anos, do marido, e de si, pois vai ao dermatologista e ao cabeleireiro. E talvez planejar um segundo filho, "uma menininha". 
No final da matéria, antes do poema do marido, há uma parte sobre a mãe de Marcela, Norma, estranhamente descrita como "sacudida, loiríssima e de olhos azuis". Não deu pra entender se Norma foi citada para lembrar que ela acompanhou a filha ao primeiro encontro do casal, treze anos atrás (ou seja, para declarar a pureza de Marcela), ou se é pra introduzir um novo personagem, o da sogra que causa problemas ("sacudida" é a palavra de alerta).  
Os comentários à matéria daVeja não são exatamente elogiosos. Reproduzi alguns aqui, neste curto post (clique para ampliá-los). Talvez o meu preferido seja: "Bela, recatada e do lar é o meu grelo!"
O país pegando fogo e a Vejavem eleger (só com voto indireto mesmo pra essa gente chegar ao poder) sua nova Maria Antonieta...

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