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Ainda que o destino seja o Reino de Deus, a travessia ao encontro dele não é apressada.
Como discípulos e discípulas de Jesus temos sempre o que aprender, não estamos prontos.
Por Felipe Magalhães Francisco*
No início do Cristianismo, antes que a religião nascente se institucionalizasse e houvesse o rompimento com o judaísmo, os depois de Jesus – seus discípulos e discípulas –, identificavam-se como seguidores do Caminho. Dessa bonita imagem nos dá testemunho o evangelista Lucas, discípulo de Paulo e grande catequista. Sua obra, constituída do terceiro Evangelho e dos Atos dos Apóstolos, tem finalidade catequética, como aponta o próprio evangelista (cf. Lc 1,3-4; At 1,1). Lucas escreve os dois livros, cuja unidade literária é indivisa, para mostrar ao jovem Teófilo, recém-iniciado na fé, a solidez dos ensinamentos que havia recebido.
A intuição dos primeiros seguidores da Igreja primitiva soa-nos muito interessante, se a observarmos a partir do ponto de vista da educação para a fé. Fazer parte de um Caminho é expressão de que nada está acabado, pronto. No horizonte da fé, desponta o próprio Reino anunciado por Jesus, que se torna missão de anúncio para seus discípulos e discípulas e também esperança. Essa missão e esperança engajam os seguidores do Caminho numa bonita dinâmica de assimilação da própria fé, como um processo de amadurecimento e constante adesão.
Ainda que o destino seja o Reino de Deus, a travessia rumo ao encontro dele não é apressada. No Caminho, aprecia-se a fraternidade, a solidariedade, a esperança e o comprometimento, a fim de que toda a humanidade, em comunhão com a criação inteira, possa desfrutar desse Reino que é dom. É por isso que a catequese perpassa toda a vida cristã, porque essa é caminho a ser trilhado, sob a guia do próprio Mestre Jesus, que permanece presente entre os seus, pelo Espírito Santo.
A educação para a fé se inicia com o alegre anúncio de que Deus é amor e que se revela, para nossa salvação, na pessoa de Jesus, o Filho que nos assume como irmãos e irmãs. Chega ao seu cumprimento com a celebração da morte dos discípulos e discípulas de Jesus, as Exéquias. O entremeio dessas duas importantes ocasiões é Caminho de amadurecimento da fé, que é relação com Deus e com os irmãos e irmãs.
Todos, que partilhamos de uma mesma humanidade, somos responsáveis pela educação uns dos outros. Educação para crescermos na experiência de nos tornarmos, cada vez mais, humanos. Essa responsabilidade também desponta na experiência de sermos comunidade cristã: como discípulos e discípulas de Jesus, tornamo-nos responsáveis pela educação para e da fé dos irmãos e irmãs. De igual modo, essa educação para e da fé precisa se fazer em toda nossa vida, como processo de amadurecimento.
Nessa perspectiva, que sejamos capazes de nos deixarmos assumir pelo Caminho. A catequese cristã não pode ser compreendida apenas como preparação para os Sacramentos, como se estes fossem uma formatura após várias etapas de escolarização. Como discípulos e discípulas de Jesus temos sempre o que aprender, não estamos prontos. Essa é, entre outras coisas, a beleza de nos pretendermos cristãos e cristãs: no amadurecimento de nossa fé, despertamos o olhar e compreendemos, com toda nossa existência, que o Mistério divino está sempre se desdobrando em doação. Eis a força para nosso Caminho, como promessa de um pleno e definitivo encontro, de festa e de comunhão!
*Felipe Magalhães Francisco é mestre em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Coordena a Comissão Arquidiocesana de Publicações, da Arquidiocese de Belo Horizonte. Coordena, ainda, a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015).
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