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Ninguém na Igreja de Jesus Cristo deveria sentir-se dispensado de receber a catequese.
A Igreja é convidada por Deus e pelos acontecimentos a renovar sua confiança na ação catequética.
Por Neuza Silveira de Souza*
A catequese, desde os primórdios do cristianismo, foi vista com a finalidade de ajudar os homens a acreditarem que Jesus é o Filho de Deus, a fim de que, mediante a fé, tenham a vida em seu nome. Esta catequese passou por varias modalidades no decorrer dos séculos, sendo resgatada no século XX pelo Papa Paulo VI, quando, na IV assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, insistiu muitas vezes no cristocentrismo de toda a catequese autêntica. Coloca-se como objeto da catequese o “mistério de Cristo”. Assim, a catequese é chamada a desenvolver a inteligência do “mistério de Cristo” à luz da Palavra, a fim de que o homem todo seja por ela impregnado.
O significado da palavra “catequese” vem do grego “kat-ekhéo” que quer dizer “fazer ecoar”. A catequese, de fato, tem por objetivo último escutar e fazer repercutir a Palavra de Deus. E é claro que não é só para crianças que a Palavra de Deus deve ecoar, mas para todos os membros da Igreja e para o mundo todo. Seu papel é ajudar a desenvolver o senso crítico diante da realidade da nossa sociedade, do nosso ambiente e formar cristãos para uma atitude e atuação evangélicas diante de situações e acontecimentos. Estas ações exigem do catequista ser um pedagogo para o anúncio da Boa Nova.
Características próprias que deve a catequese assumir nos diversos períodos da vida
A idade e o desenvolvimento intelectual dos cristãos, o grau de maturidade eclesial e espiritual e muitas outras circunstâncias pessoais exigem que a catequese adote métodos muito diversos, para poder alcançar a própria finalidade específica: a educação para a fé. “Tal variedade é também exigida, num plano mais geral, pelo meio sócio-cultural em que a Igreja desenvolve a sua atividade catequética” (cf. CT nº 51). Vejamos:
Vida intrauterina - A família é a primeira responsável pela educação da fé, uma vez que a catequese tem início com a criança no ventre materno.
Na primeira infância - Depois do nascimento até os seis anos de idade, a criança precisa de alegria, afeição e segurança. Precisa também de se sentir protegida e esta proteção vem de seus pais que vão ajuda-la nas primeiras descobertas: de si mesma, das coisas e do seu corpo. Assim, elas já começam a receber dos pais e do meio ambiente familiar, elementos da catequese os quais não vão além de uma simples revelação do Pai celeste que é bom e que ama muito a todas as crianças. Dessa maneira, são orientadas a também amarem o Pai do céu. Pequenas orações lhes são ensinadas, constituindo o início de um diálogo amoroso com o Deus escondido.
As crianças - Quando já na idade de ir para a escola, ir à Igreja, ou seja, quando já se abrem para um círculo social maior, chega o momento de uma catequese destinada a introduzir as crianças de modo orgânico na caminhada da Igreja. As crianças são iniciadas em uma catequese didática, mas vivencial uma vez que lhe são apresentados os mistérios principais da fé e a sua incidência na vida moral e religiosa. As crianças, nessa idade, têm como imagem de Deus, o Pai bom, santo e justo. É o Deus da criação e dos milagres.
Adolescentes - O traço mais característico da adolescência é a Puberdade. Nesse período ocorre o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários e a aceleração do crescimento, levando-o ao início das funções reprodutivas. Chegada à adolescência, chega o momento da descoberta de si mesmo e do próprio mundo interior, tempo do desabrochar do amor e das alegrias. Mas também tempo das interrogações mais profundas, das indagações angustiadas e a catequese não poderá ignorar tais aspectos variáveis desse delicado tempo da vida. O papel da catequese nessa idade é o de levar o adolescente a uma revisão de sua própria vida. Apresentar Jesus Cristo como amigo levando o adolescente à admiração e até mesmo à imitação do Cristo. Isto é fundamental para proporcionar a base para uma autêntica educação na fé.
Jovens - Chega o momento das adesões pessoais e das grandes decisões. Momento de assumir responsabilidade do seu destino. O bem e o mal, a graça e o pecado, a vida e a morte serão afrontadas no mais profundo deles mesmos, como categorias morais, mas também como opções fundamentais que devem assumir ou rejeitar. Nesse tempo a catequese assume uma importância considerável, porque é o momento em que o Evangelho poderá ser apresentado, compreendido e acolhido como algo capaz de dar sentido à vida. A catequese pode ajudar os jovens a se prepararem para os grandes compromissos cristãos da vida adulta.
Adultos - Uma das grandes preocupações, hoje, é também os adultos. Os novos interlocutores que entram no processo de formação e educação da fé. Esta é a principal forma da catequese, porque se dirige a pessoas que têm as maiores responsabilidades e a capacidade para viverem a mensagem cristã mais plenamente. Os adultos, quer sejam destinatários, quer sejam promotores da atividade catequética, são eles os que governam o mundo ao qual os jovens são chamados a viver e testemunhar sua fé. Portanto, a fé dos adultos deve ser continuamente esclarecida, estimulada e renovada, a fim de impregnar as realidades temporais pelas quais são responsáveis.
Catecúmenos - Estes são os adultos que, ou não receberam uma catequese quando criança ou, embora a tenham recebido na sua infância, por algum motivo tenham se afastado dela e permanecem com uma fé infantil, ou ainda, não receberam uma catequese que os ajudassem a amadurecer na fé, ou mesmo nunca foram educados na sua fé e são, chegados à idade adulta, verdadeiros catecúmenos.
A catequese deve se preocupar com a inclusão de todas as pessoas na educação da fé.
Dos migrantes, das pessoas “marginalizadas” e com aquelas pessoas que vivem nos bairros de grandes metrópoles, muitas vezes desprovidas de Igreja.
Pessoas de várias idades marcadas por um contexto desumano ou problemático;
Pessoas com deficiência, os povos indígenas, os ciganos, os intelectuais, as famílias formadas por casais de casamento misto, as pessoas que vêm de outras Igrejas ou religiões, as pessoas que não têm tempo por causa da correria da vida.
Casais em situação matrimonial irregular e outros grupos impossibilitados de receber os sacramentos, sobretudo da Eucaristia, necessitam de uma evangelização adequada à sua condição especial.
Os adultos têm muito que dar aos jovens e as crianças em matéria de catequese, mas também deles podem receber muito pela catequese. Ninguém na Igreja de Jesus Cristo deveria sentir-se dispensado de receber a catequese para educação da fé. A Igreja é convidada por Deus e pelos acontecimentos a renovar sua confiança na ação catequética como tarefa primordial da sua missão, pois ela desenvolve e ilumina interiormente as formas de vida daqueles aos quais se dirige.
*Neuza Silveira de Souza é mestranda em teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Coordena a Comissão Arquidiocesana Bíblico-Catequética, da Arquidiocese de Belo Horizonte.
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