sexta-feira, 15 de julho de 2016

Entre capitulações e cooptações - rir para não chorar

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Um dos mestres na arte dos aforismos e sacadas lapidares foi Otto Lara Rezende.
Um dos mestres na arte dos aforismos e sacadas lapidares foi Otto Lara Rezende.

Por Eleonora Santa Rosa*

A expressão inglesa sell out (sellout), no segmento musical, designa um artista que comprometeu sua integridade ou posição artística para poder ganhar espaço.

Genericamente, pode-se dizer daquele que trai uma causa para o avanço pessoal.

No português direto, sem mesuras, aquele que se pôs à venda!

Ampliando um pouco, aquele que pertence à família da capitulação e da cooptação, e que, em tempos turvos, pululam aos milhares.

No Brasil de hoje – ah, Brasil, de tantos lemas e dilemas –, a mercancia vai tomando conta da política à arte.

Em épocas de prebendas, merendas, pixulecos, delações, traições, conspirações e armadilhas, Minas pode oferecer um extenso repertório de frases históricas e tiradas bem humoradas no vasto campo da hipocrisia, da deslealdade e da artimanha.

Um dos mestres na arte dos aforismos e sacadas lapidares foi Otto Lara Rezende, escritor implacavelmente mordaz.

Danado de levado, como diria alguém não mais entre nós, o cronista mineiro foi responsável por boutades e maldades tais como:

A tocaia é a grande contribuição de Minas à cultura universal.
O mineiro só é solidário no câncer.
Abraço e punhalada a gente só dá em quem está perto.
Intelectual na política é quase sempre errado. É sempre errado. A práxis não deixa espaço para pensar; pensar é muito sutil, enrascado, complexo, multiplica as alternativas.
Política é a arte de enfiar a mão na merda. Os delicados (vide Milton Campos) pedem desculpas, têm dor de cabeça e se retiram.
A ação política é cruel, baseia-se numa competição animal, é preciso derrotar, esmagar, matar, aniquilar o inimigo.
Sou um sobrevivente sob os escombros de valores mortos.
O humor é a grande expressão, o melhor canal para dar notícia da vida, da nossa tragédia interior e exterior.
Cada um que varra a sua porta, se o mundo não ficar limpo, pelo menos ficara menos sujo.
Em tempos de tanta insídia e capitulação, Otto está mais vivo do que nunca.

Enfim, rir para não chorar.

*Eleonora Santa Rosa – Jornalista, editora e empreendedora cultural, é considerada uma das maiores especialistas no País na área de Projetos, Planejamento, Captação de Recursos, e Gestão Cultural, com larga experiência na formatação, negociação e implementação de iniciativas culturais de envergadura e repercussão. Ocupou vários cargos públicos ao longo de sua trajetória profissional, tendo sido Secretária de Cultura do Estado de Minas Gerais. É fundadora e diretora do Santa Rosa Bureau Cultural, onde desenvolve ações referenciais nacionais no campo da cultura.

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