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O Brasil é marcado por índices de violência que superam os das guerras mundo afora.
Numa sociedade plural e sadia as minorias e as diferenças podem ser enormemente enriquecedoras.
Por Dom Jaime Spengler*
A violência é má! Ela não é solução para os problemas que afligem as pessoas e a sociedade. Ela contraria a própria humanidade, destrói aquilo que pretende defender, ou seja, a dignidade, a vida, a liberdade, a verdade. A violência pode ser física, moral, psíquica e espiritual; pode ter um caráter pessoal e também social. Pode ainda possuir uma conotação sistêmica e endêmica.
Não faltam exemplos de violência mundo afora. As recentes guerras, o fenômeno do terrorismo, a onda migratória, o número de mortos recolhidos – e também não recolhidos! – das águas do mediterrâneo são expressões contundentes desta realidade. Também a sociedade brasileira está marcada por fortes expressões de violência. O noticiário reflete tal realidade. Os números não mentem!
Promove-se violência e ódio quando, por exemplo, se afirma que migrantes, negros, índios, enfim, minorias “estão atrapalhando o país”. Ora, numa sociedade plural e sadia as minorias e as diferenças podem ser enormemente enriquecedoras.
O Brasil é marcado por índices de violência que superam os das guerras mundo afora. Basta observar os números nas cidades, bairros, vilas e favelas. Nem mesmo o campo – até recentemente considerado lugar tranquilo para se viver – escapa dessa realidade.
Há sinais de que o país nos últimos anos avançou econômica e socialmente; dados que apontam para uma considerável redução da miséria e da pobreza. Entretanto a violência vem crescendo a olhos vistos.
As razões de tal situação são as mais diversas. A crise antropológica que marca a sociedade pode representar um desses motivos, cujos sinais podem ser colhidos de modo especial em duas instituições: a família e a escola. Outra razão do recrudescimento da violência é certamente o fenômeno da drogadição.
A violência cresce envolvendo sempre mais os jovens. Eles são autores, mas, sobretudo, vitimas. Os dados são inocultáveis. Neste contexto, soluções como redução da idade penal, aumento das penas, ampliação do sistema prisional ou liberação do uso de drogas demonstram somente a obtusidade do Estado e de setores da sociedade. A grandeza do Estado e a maturidade da sociedade certamente não se medem pela ampliação de penalizações ou liberações, seja de que espécie for.
A sociedade aponta como valor a ascensão econômica. O tráfico de drogas representa um forte atrativo para quem busca crescer economicamente rápido, apesar dos riscos latentes. O jovem seduzido pela força do dinheiro, por vezes desejoso de poder colaborar com a sobrevivência familiar, torna-se vítima de uma estrutura social que prega o valor do “mais forte”. Assim, aos poucos, esse jovem foge do controle familiar, afasta-se dos estudos, perde as referencias morais na comunidade.
O que fazer? Antes de tudo abordar com seriedade as razões da violência. Depois ter coragem de construir um projeto viável de inserção dos adolescentes e jovens na escola, mas não só. Eles precisam ser inseridos na sociedade não através do tráfico, mas, por exemplo, por meio do esporte, da música, do trabalho. Para isso se faz necessário investimento financeiro, metodologia, projeto de nação.
CNBB 03-08-2016
*Dom Jaime Spengler: Arcebispo de Porto Alegre.
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