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Mujica foi privado de sua liberdade, mas não de seu tempo de reflexão e observação.
O que estamos gastando é tempo de vida.
Por Eleonora Santa Rosa*
Semana de silêncio e poucas palavras, sem excessos de considerações e digressões.
Na síntese da imagem de José Mujica, ainda como presidente do Uruguai, em um potente trecho de sua entrevista/monólogo para o documentário Human, de grande força imagética também – impressiona a expressão de seus olhos e movimento do corpo, explicando, com lucidez e clareza meridiana, sua reflexão sobre a sociedade de consumo, as armadilhas que criamos e nos aferramos, o engodo do luxo e do desperdício, da perda de tempo. Ele que foi privado de sua liberdade, mas não de seu tempo de reflexão e observação, brilha com seu intacto humano profundo pensamento extraído do silêncio e solidão. Mais de 10 anos numa solitária em um calabouço, sete anos sem poder ter um único livro, incrível vê-lo vigoroso após um quase impossível exercício de sobrevivência, persistindo em suas crenças em contraponto aos valores da nossa sociedade, diz ele: “inventamos uma montanha de consumo supérfluo, e é preciso jogar fora e viver comprando e jogando fora. E o que estamos gastando é tempo de vida. Porque quando eu compro algo, ou você, não compramos com dinheiro, compramos com o tempo de vida que tivemos de gastar para ter esse dinheiro. Mas com esta diferença: a única coisa que não se pode comprar é a vida. A vida se gasta. E é miserável gastar a vida para perder liberdade.”
Diz mais “ou você é feliz com pouco, com pouca bagagem, pois a felicidade está dentro de você, ou não consegue nada. E isso não é uma apologia da pobreza, mas da sobriedade”.
Precisa mais? Preciosa síntese de lição de vida, de ética, de sobriedade, a ser aprendida e reverberada em nosso tempo, por tempos e tempos.
*Eleonora Santa Rosa é jornalista, editora e empreendedora cultural, é considerada uma das maiores especialistas no País na área de Projetos, Planejamento, Captação de Recursos e Gestão Cultural, com larga e reconhecida experiência na formatação, negociação e implementação de iniciativas culturais de envergadura e repercussão. Ocupou vários cargos públicos ao longo de sua trajetória profissional, tendo sido Secretária de Cultura do Estado de Minas Gerais. É fundadora e diretora do Santa Rosa Bureau Cultural, onde desenvolve ações referenciais nacionais no campo da Cultura.
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